Cinema

Pecadores mistura blues, racismo e vampiros no sul dos EUA

Nova aposta do diretor de Pantera Negra mergulha no sul dos EUA para explorar religião, racismo e vampirismo com lirismo e fúria

Por Metrópoles 17/04/2025 16h04
Pecadores mistura blues, racismo e vampiros no sul dos EUA
Nova aposta do diretor de Pantera Negra mergulha no sul dos EUA para explorar religião, racismo e vampirismo com lirismo e fúria - Foto: Reprodução

A liberdade é algo fugidio no novo filme de Ryan Coogler. Mais conhecido pelo blockbuster da Marvel, Pantera Negra, o diretor norte-americano cria em Pecadores uma história original, derivada de um passado regado a blues e segregação racial.

O filme abre com o olhar espantado de Sammie Moore (Miles Caton), que, com roupas ensanguentadas, o rosto ferido e o cabo quebrado de um violão nas mãos, adentra a pequena igreja de seu pai e interrompe a missa. É uma faísca potente de uma temática clássica da pastoral americana: religião, músicaO jovem Sammie ganhou seu precioso violão das mãos de seus primos, Smoke e Stack Moore (Michael B. Jordan, interpretando gêmeos).

Os dois veteranos da Primeira Guerra Mundial acabam de voltar para a pequena cidade do Mississippi onde cresceram, após sete anos em Chicago. Apesar de serem conhecidos como marginais e gângsters, a dupla acaba de comprar um velho armazém para fundar um clube de blues. e violência racial. O cabo do violão, quebrado de modo a parecer uma estaca de madeira sangrenta, antecipa os rumos sobrenaturais que o filme, contado em flashback, irá seguir.

Sammie, como bluesista prodígio, tocará nesta noite de inauguração. Lá dentro, cada um dos três protagonistas ainda terá de lidar com a tentação carnal: Sammie nutre um crush por uma mulher casada, Pearline (Jayme Lawson); Smoke vive um relacionamento enlutado com a bruxa Beatrice (Tenaj L. Jackson); e Stack se envolve com a jovem branca Mary (Hailee Steinfeld).

Coogler oferece uma trama densa: além do conflito entre religiosidade e blues, marginalidade e empreendedorismo — misturados à ambiência sulista americana, onde a escravidão foi derrotada, mas a segregação racial persiste —, ele insere o elemento do vampirismo na figura de Remmick (Jack O’Connell), um irlandês carismático e claramente perigoso.

Faminto e endiabrado, Remmick está louco para entrar no armazém lotado de possíveis vítimas, mas as regras antigas ainda valem: para conseguir entrar em qualquer estabelecimento, o vampiro precisa ser convidado. As metáforas são fortes, e uma ou outra, como a da apropriação cultural, saltam do subtexto para o texto principal.