'Criminalidade preocupa mais que terrorismo nos Jogos', diz ministro
A menos de três semanas da Olimpíada do Rio, o ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, diz não considerar o terror como a principal ameaça ao evento esportivo.
"A criminalidade preocupa mais que o terrorismo", afirmou à Folha na noite de terça (19) em seu gabinete.
O chefe da pasta responsável pela Polícia Federal disse que o governo francês se precipitou ao levantar suspeitas de que um brasileiro planejava ataque à delegação daquele país -a embaixada da França reconheceu que a informação é falsa (leia à dir.).
Moraes também falou sobre a deportação na sexta (15) do físico franco-argelino Adlène Richeur, condenado na França por suspeitas de ligação com fundamentalistas religiosos. "Achei um absurdo o Brasil dar guarida e emprego para alguém que foi condenado, cumpriu pena e havia prova forte", disse.
Folha - Qual é a probabilidade de ocorrer um atentado terrorista na Olimpíada?
Alexandre de Moraes - Não só as nossas agências como as internacionais colocam a probabilidade no nível mais baixo. Agora, existe possibilidade? Existe no mundo inteiro, não seria no Brasil que não existiria. A probabilidade é mínima, mas, havendo possibilidade, estamos tomando todos os cuidados e realizando todas as medidas de combate ao terrorismo.
A imagem do Rio é muito vinculada aos problemas de segurança. O que preocupa mais neste momento?
Diferentemente de cidades como Londres, nossa preocupação é em relação a várias áreas: segurança pública, terrorismo e criminalidade organizada.
O que tem tomado mais tempo das forças de segurança?
É a criminalidade. A questão do terrorismo se combate mais com inteligência e formação, preparando os protocolos e cuidados em aeroportos. Isso é uma parte do treinamento, mas, ao mesmo tempo, tem de fazer um mapeamento da criminalidade.
O que preocupa mais: criminalidade ou terrorismo?
A criminalidade preocupa mais que o terrorismo, por isso estamos reforçando o policiamento. Teremos número maior de delegações, de turistas de todos os países.
Não podemos deixar que se passe imagem de criminalidade no Brasil.
Num lugar onde confrontos de facções são uma constante, como evitar que afetem a segurança dos Jogos?
Não vai haver [confrontos], como não houve na Copa do Mundo. Concordo quando o secretário do Rio, [José Mariano] Beltrame, diz que o problema na segurança não será durante a Olimpíada, pela quantidade de policiais, de informações, de rastreamentos. [O maior problema] será o antes e o depois.
Por que alguém vai entrar em confronto quando há cinco vezes mais policiais, força militar com armamento pesado e a PF com nove vezes mais policiais? Não há lógica nisso. Importante é o depois, e já estamos atuando.
O maior risco está na eventual atuação de lobos solitários (brasileiros simpatizantes de facções extremistas) ou de investidas planejadas por grandes grupos terroristas?
Nós preferimos chamar de ratos solitários. Seria mais provável [investidas isoladas], embora a chance esteja próxima de zero. No caso de algo maior, de grupo, precisaria de um planejamento maior. Como não só o Brasil, mas todo o mundo está fazendo um monitoramento grande, fica mais complexo.
O monitoramento aos ratos solitários também existe. Qualquer coisa que pareça suspeito, mesmo algo tosco, estamos de olho.
O governo francês admitiu que errou ao dizer que um brasileiro planejava atacar a delegação francesa. Houve exagero naquele momento?
Houve precipitação. Ao dizer isso, sem nenhum indício, obviamente tiveram de voltar atrás. Só de jogar essa possibilidade aumenta a sensação de insegurança. Não havia necessidade disso, sem que tivessem um mínimo indício.
Por que foi deportado para Paris o professor franco-argelino da UFRJ Adlène Hicheur? Quando o senhor decidiu que ele deveria deixar o país?
Fiquei convencido no dia em que soube da notícia, e eu nem ministro era. Achei um absurdo o Brasil dar guarida e emprego para alguém que foi condenado, cumpriu pena e [contra quem] havia uma prova forte. Além disso, trata-se de físico nuclear, que, dentro de um laboratório, tem todo o material em mãos.
Quando assumi o ministério, verifiquei que ele tinha visto de trabalho, mas não havia pedido de renovação. O visto venceu na quinta (14) e na sexta (15) ele foi retirado.
Ele chegou a se comunicar com grupos terroristas quando estava no Brasil?
Não. Se isso tivesse ocorrido, ele seria afastado antes.
Mas ele estava em situação regular. Neste caso, não houve criminalização de alguém que estava em dia com a Justiça?
Ele não foi criminalizado. Se fosse questão criminal, teria sido preso. Foi questão administrativa. Ele tinha um visto de trabalho, que venceu. Mesmo que tivesse pedido a renovação, o que não ocorreu, por interesse nacional, seria indeferido. As pessoas têm de perceber que o Brasil não é um destino para quem é banido da Suíça, é preso na França e tem ligações com grupos terroristas.
Foi confirmado se o grupo brasileiro Ansar al-Khilafah Brazil, que atuaria nas redes sociais, tem ligação com o Estado Islâmico? O governo brasileiro tem monitorado esse grupo?
É uma página de propaganda, não é interativa, que se for rastreada não chega ao Estado Islâmico. Obviamente, é um link de simpatizantes, mas não há, como chegou a ser noticiado, interação. Quem entra na página não interage com o Estado Islâmico, só olha os fundamentos. Obviamente, há aqueles que consultam, e todo o sistema de inteligência tem de ficar em alerta. As pessoas que consultam ou têm alguma atividade que possa levar a isso, a inteligência está acompanhando para evitar qualquer surpresa. O governo brasileiro está usando tudo o que tem de mais moderno na questão de rastreamento, inteligência, tecnologia e procedimentos em relação ao terrorismo.