Brasil

Grupo de potências cai e países menos tradicionais levam mais ouros na Rio-2016

Os cinco primeiros colocados de Londres levaram 50% das medalhas de ouro. Na Rio-2016, 44% do total

Por UOL 22/08/2016 06h06
Grupo de potências cai e países menos tradicionais levam mais ouros na Rio-2016
Santiago Lange e Cecilia Carranza Saroli levaram o ouro na vela - Foto: Associated Press

A primeira Olimpíada disputada na América do Sul foi uma das mais concorridas, ao menos na distribuição das medalhas de ouro.

Na Rio-2016, as potências olímpicas viram sua hegemonia diminuir um pouco. Já países que costumam terminar no segundo escalão no quadro de medalhas conseguiram desempenho melhor do que em Londres-2012.

Na prática, isso significa que se atenuou o domínio da elite, formada pelos cinco primeiros colocados no quadro de medalhas, sobre a 'classe média-alta' olímpica, que fica atrás do primeiro pelotão.

Há quatro anos, os cinco primeiros colocados de Londres-2012 levaram 50% das medalhas de ouro. Na Rio-2016, 44% do total.

Já as delegações que ficaram entre o sexto e o 20° lugar –faixa que compreende países como Brasil, Itália, Japão, Quênia e Jamaica– levaram 35% dos ouros no Rio, contra 32% em Londres.

A reação veio também de países de menor tradição olímpica: o restante das delegações levou 21% dos ouros na Olimpíada do Brasil, contra 18% no Reino Unido.

Na América do Sul, por exemplo, os argentinos obtiveram três ouros a mais, suficientes para garantir seu melhor resultado desde 1948.

O avanço de outros países sobre o terreno das grandes potências esportivas pode ser explicado pela diminuição de custos e o maior acesso à tecnologia em diversas regiões do mundo, diz Lamartine DaCosta, professor da UERJ e pesquisador ligado ao COI.

Para o especialista, a descentralização já vem, ao menos, desde Atenas-2004, mas chegou ao auge no Brasil.

O pesquisador afirma que a mudança na distribuição de medalhas, com mais países dividindo as láureas olímpicas, deve se intensificar nos Jogos de Tóquio-2020, conforme a difusão da ciência também aumenta.

O Japão, próxima sede dos Jogos, foi o segundo pais que mais evoluiu entre Londres-2012 e Rio-2016, com mais cinco ouros –um a menos que a Alemanha.

De acordo com DaCosta, trata-se de um dos países que mais se destaca por investimento em tecnologia esportiva. Quatro anos antes de sua Olimpíada, a nação já começa a colher resultados.

FORÇA RUSSA

A Rússia terminou a Rio-2016 com 19 medalhas douradas, resultado pior do que o obtido há quatro anos, quando levou 22.

Entretanto, o país enviou para o Brasil uma delegação 154 atletas menor, em razão das punições pelo esquema de doping estatal.

No atletismo, esporte que rendeu seis primeiros lugares à nação em 2012, apenas uma atleta competiu: Darya Klishina, do salto em atura, que não conseguiu ir ao pódio.

Mesmo assim, mantiveram-se entre as principais potências com o quarto lugar no quadro de medalhas.

Para DaCosta, o resultado não surpreende. É consequência do papel que o esporte tem na sociedade russa, o que garante vitórias independentemente da postura dos dirigentes.

"O esporte está muito presente nas escolas, na vida da Rússia. É um dos países que vai mais longe nesse envolvimento. Eles não precisam de doping".

EQUILÍBRIO DE PODERES

Com 27 ouros, a Grã-Bretanha ficou em segundo lugar no quadro de medalhas, à frente da China —a última vez que o país alcançou uma colocação tão boa foi em 1908, quando Londres recebeu uma Olimpíada pela primeira vez.

"O sucesso atual é eco dos investimentos e do planejamento desde que Londres se propôs a ser sede da Olimpíada em 2012", afirma a professora do curso de Educação Física da Unicamp, Eliana de Toledo.
A ascensão britânica altera o equilíbrio de forças das potências olímpicas, pois coincide com a decadência dos chineses.

A China, país cujo desempenho mais recuou, conseguiu no Rio 12 medalhas de ouro a menos do que em Londres-2012.

"Por algum motivo, a política de esporte chinesa mudou", diz DaCosta.

"Eles já não têm mais aquela necessidade de aparecer para o mundo. Estão mais tranquilos em todas as áreas, não só no esporte", afirma. "Mas o que está acontecendo, provavelmente, é uma defasagem de ciência e tecnologia em relação aos concorrentes."

Essa decadência afastou a China dos Estados Unidos, que repetiram o desempenho dos últimos Jogos para se isolarem como a maior potência esportiva do mundo : 46 medalhas, 19 de vantagem sobre o segundo colocado.