Alagoas

Alagoas registra 5.710 casos de AIDS em 30 anos, revela Sesau

Maioria dos registros foram contabilizados em Maceió; banalização do uso da camisinha é realidade

Por Redação com assessoria 05/12/2016 06h06
Alagoas registra 5.710 casos de AIDS em 30 anos, revela Sesau

Foi-se o tempo que a Aids, vinculada à infecção pelo vírus HIV (Vírus da Imunodeficiência Humana), era considerada uma sentença de morte e o paciente podia ser reconhecido pela aparência magra e deprimida. Com a chegada de novos medicamentos no mercado, os soropositivos ganharam mais tempo e melhor qualidade de vida, o que facilitou à adesão ao tratamento.

No entanto, as ações voltadas para o estímulo do sexo seguro ainda não conseguiram convencer um número significativo de pessoas. É o que apontam os dados do programa DST/Aids da Secretaria de Estado da Saúde (Sesau). Desde o início da epidemia de Aids em Alagoas em 1986, quando foi confirmado o primeiro caso da doença, até 30 de novembro de 2016, foram registrados no Estado 5.710 casos de pessoas doentes de Aids. Destes, 3.762 são em homens e 1.948 são em mulheres.

E de 1986 – quando os primeiros casos começaram a surgir em Alagoas - até 30 de novembro deste ano foram notificados 1.885 óbitos. Destes, 1.114 foram de pessoas residentes em Maceió.

Para Mona Lisa Santos, técnica responsável pelo programa DST/Aids da Sesau, a cura ainda não foi alcançada e a doença continua avançando, embora os antirretrovirais (em dose única) e a quimioprofilaxia, para a mãe e o seu bebê, têm ajudado a controlar a doença.

De acordo com ela, a sociedade, mais do que nunca, precisa parar de associar a Aids com ideias rotuladoras, e, portanto, geradoras de preconceito e estigmatização. “Estamos cada vez mais, procurando compreender os diferentes contextos de vida da população e contribuir para que cada pessoa perceba as chances que têm de se infectar ou de se proteger”, destacou a técnica.

Desde o início da epidemia de Aids, o principal e mais eficaz método preconizado para evitar a transmissão sexual do HIV tem sido o uso de preservativos, mas, “atualmente a iniciação sexual precoce, a multiplicidade de parceiros sexuais ao longo da vida e a banalização do uso da camisinha aumentou o risco de ser infectado por uma DST”.

Além disso, a população tem feito tardiamente a realização da testagem do HIV e, por vezes, só descobrem que estão infectados quando apresentam as infecções oportunistas (IOs), que recebem esse nome por se aproveitarem da reduzida capacidade de defesa do corpo. “Como os principais alvos do HIV são as células que combatem os agentes infecciosos, é importante realizar o teste de HIV, e, em caso de positivo, iniciar imediatamente o tratamento para evitar a destruição dessas células e recuperá-las”, recomendou.

AscomSegundo Mona Lisa Santos, a Aids em Alagoas tem uma tendência de interiorização, com comportamentos de risco, atingindo as mulheres, sobretudo. “A transmissão vertical, que é a infecção pelo HIV, passada da mãe para o filho, pode ser transmitida durante o período da gestação (intrauterino), no parto (trabalho de parto ou parto propriamente dito) ou pelo aleitamento materno, que é uma das mais cruéis formas de transmissão”, explicou.

“Nós estamos trabalhando intensivamente, para que todas as unidades básicas de saúde ofertem o teste rápido, pois toda a população será beneficiada, principalmente as gestantes. Isso porque, ao realizar precocemente o diagnóstico, elas vão utilizar os antirretrovirais e reduzir a chance de passar o vírus para seu bebê. Já conseguimos treinar 98 municípios para a realização do teste. Destes, 90 já estão ofertando o serviço. Assim sendo, o diagnóstico para sífilis, hepatite B e C, e claro, o HIV, pode ser oferecido na Unidade de Saúde mais próxima do nosso usuário”, garantiu.

Sintomas

De acordo com a técnica responsável pelo programa DST/Aids da Sesau, quando ocorre a infecção pelo vírus causador da Aids, o sistema imunológico começa a ser atacado. E é na primeira fase, chamada de infecção aguda, que ocorre a incubação do HIV – tempo da exposição ao vírus até o surgimento dos primeiros sinais da doença. Esse período varia de 3 a 6 semanas. E o organismo leva de 30 a 60 dias após a infecção para produzir anticorpos anti-HIV. Os primeiros sintomas são muito parecidos com os de uma gripe, como febre e mal-estar. 

Com o frequente ataque, as células de defesa começam a funcionar com menos eficiência até serem destruídas. O organismo fica cada vez mais fraco e vulnerável a infecções comuns. Os sintomas são: febre, diarreia, suores noturnos e emagrecimento. A baixa imunidade permite o aparecimento de doenças oportunistas, que recebem esse nome por se aproveitarem da fraqueza do organismo. Com isso, atinge-se o estágio mais avançado da doença, a Aids. Quem chega a essa fase, por não saber ou não seguir o tratamento indicado pelos médicos, pode sofrer de hepatites virais, tuberculose, pneumonia, toxoplasmose e alguns tipos de câncer.

Tratamento

O tratamento é caro, mas desde 1996, o Brasil oferece gratuitamente o coquetel antiviral para todos que necessitam do tratamento. Mesmo assim, ainda há muita resistência das pessoas a realizar o teste rápido de HIV, conforme lamenta a técnica responsável pelo programa DST/Aids da Sesau.

“O teste Elisa é realizado em laboratórios. No entanto, o mais utilizado atualmente é o teste rápido feito na Unidade de Saúde e em CTAs. Se for positivo, o paciente faz outro teste, confirmando a positividade. Assim, o indivíduo é encaminhado aos serviços de referência para complementar o diagnóstico através de exames sorológicos na rede laboratorial”, explicou.

A fase inicial da terapia é um dos momentos mais difíceis, pois uma nova rotina deve ser incorporada. E os remédios faz lembrá-lo a cada momento da doença. Por isso, os profissionais de saúde e seus familiares devem ajudar o paciente a enfrentar esse período. Atualmente, existem organizações governamentais e não governamentais que podem ajudar o soropositivo a enfrentar e a superar prováveis obstáculos, a fim de otimizar as boas experiências e incrementar a adesão aos antirretrovirais.

“O tratamento com os medicamentos antirretrovirais traz muitos benefícios aos pacientes, pois aumentam a sobrevida e melhoram a qualidade de vida de quem segue corretamente as recomendações médicas. Mas não isentam o paciente dos temidos efeitos colaterais. Entre os mais frequentes, encontram-se: diarreia, vômitos, náuseas. Além disso, podem modificar o metabolismo, provocando lipodistrofia (mudança na distribuição de gordura pelo corpo), diabetes, entre outras doenças. Essas modificações acabam alterando a aparência física da pessoa e algumas vezes é preciso intervir com preenchimentos e próteses”, esclarece.

O tratamento é complexo, necessita de acompanhamento médico para avaliar as adaptações do organismo ao tratamento, seus efeitos colaterais e as possíveis dificuldades em seguir corretamente as recomendações médicas. Por isso, é fundamental manter o diálogo com os profissionais de saúde, compreender todo o esquema de tratamento e nunca ficar com dúvidas. 

PREVENÇÃO– Mona Lisa ressalta ainda que o cuidado não se baseia apenas no uso de preservativos (camisinha) e a manutenção de cuidados de higiene pessoal, que pode ajudar a diminuir os riscos de muitas infecções sexualmente transmissíveis (ISTs), como gonorreia, sífilis, herpes, HPV, hepatite, candidíase e a Aids.

“Quando já se tem uma lesão no órgão sexual, existe uma porta de entrada, e nela, um acúmulo de células de defesa que é justamente o que o vírus do HIV precisa para penetrar no corpo e se reproduzir”, esclarece.

Ascom