Celebridades

Morre jornalista e escritor alagoano Audálio Dantas aos 88 anos

Por Folha de S. Paulo 30/05/2018 21h09
Morre jornalista e escritor alagoano Audálio Dantas aos 88 anos
Audálio Dantas na festa de 45 anos da TV Cultura, em São Paulo - Foto: Reprodução/FolhadeS.Paulo

O jornalista e escritor alagoano Audálio Dantas morreu nesta quarta-feira (30) aos 88 anos, no Hospital Premiê, em São Paulo, onde estava internado desde abril.

Ele foi presidente do Sindicato dos Jornalistas do Estado de São Paulo à época do assassinato do jornalista Vladimir Herzog, em outubro de 1975. E denunciou que Herzog havia sido torturado e morto no DOI-CODI, contrariando a versão oficial do governo, que falava em suicídio.

Alagoano de Tanque D’Arca, Audálio recebeu o Prêmio de Defesa dos Direitos Humanos da ONU por sua atuação em prol da defesa dos direitos humanos, em 1981. Também foi o primeiro presidente eleito por voto direto da Fenaj (Federação Nacional dos Jornalistas), dois anos depois.

Ele chegou a ser eleito deputado federal de São Paulo pelo antigo MDB (1979-1983) e era parte do conselho consultivo da ABI (Associação Brasileira de Imprensa).

O jornalista iniciou a carreia no Jornal Folha da Manhã, um dos títulos que dariam origem à Folha, revelando imagens do fotógrafo Luigi Mamprin.

Anos mais tarde, passou a redator e chefe de reportagem da revista O Cruzeiro, que deixou para ser editor de turismo na revisa Quatro Rodas. Também foi correspondente de guerra em Honduras pela Veja e trabalhou na revista Realidade. Foi chefe de redação da revista Manchete e editor da Nova.

Durante uma apuração sobre a favela do Canindé, ainda para a Folha da Manhã, Audálio conheceu Carolina de Jesus, moradora local que registrava um diário sobre seu cotidiano de pobreza. 

As reportagens escritas pelo jornalista mudaram a vida de Carolina, que mais tarde viria ser uma escritora reconhecida, publicando livros no Brasil e no exterior, como "Quarto de Despejo", de 1960.

Audálio também lançou livros, entre eles "As duas guerras de Vlado Herzog" (Record), "O Menino Lula" (Ediouro) e "Graciliano Ramos" (Callis).

Ele tratava um câncer de intestino desde 2015, quando foi operado, mas a doença acabou por atingir o fígado e os pulmões depois disso. 
 
A família ainda não sabe quando será o velório. Audálio deixa a mulher Vanira Kunc, quatro filhos e os netos.

Amigos lamentam a morte

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) lamentou a morte de Audálio Dantas. "Foi um batalhador. Sua ação no combate à ditadura foi constante e firme. A voz jamais calou e a presença fez-se notar sempre. Deixa um nome íntegro e saudades”

O jornalista Ricardo Kotscho também recebeu com tristeza a notícia da morte do seu amigo, a quem visitou no hospital há poucos dias.

"Nas nossas últimas conversas, ele já estava desesperançado de que a nossa geração ainda conseguisse ver o Brasil com que sonhamos a vida toda, mais justo, mais humano, mais decente", escreveu em seu blog. 

Ele descreve Audálio como um "sertanejo valente dos sertões das Alagoas, um brasileiro de muito talento e firmeza, um dos protagonistas da passagem da ditadura para a democracia quando falar a verdade era correr risco de vida".

Chico Pinheiro, apresentador e jornalista da TV Globo, também lamentou a morte do colega de profissão. "Audálio, grande amigo e mestre. Daqui de Portugal, lamento profundamente perder você, meu presidente e amigo", escreveu no Twitter. 

Em nota, o Instituto Vladimir Herzog comentou a morte do repórter alagoano. "Sob a direção dele, o Sindicato dos Jornalistas se tornou uma das principais trincheiras, uma referência para a sociedade na luta contra a repressão."

"Em defesa do Estado de Direito, da verdade, da justiça e da memória do amigo que acabara de ter a vida interrompida, Audálio enfrentou os poderosos do momento e exigiu que a morte de Herzog fosse esclarecida", diz a nota. "Audálio foi testemunha e protagonista, escreveu a história e nela foi inscrito."