Alckmin, Dilma, Jucá, Lindberg e mais: citados por corrupção não se elegem
O primeiro turno das eleições deste ano deixou sem mandato dezenas de políticos que são réus, investigados ou citados por delatores na Operação Lava Jato, e em outros escândalos de corrupção.
Dos 77 nomes que ainda respondem a alguma investigação da Lava Jato ou de seus desdobramentos e candidataram-se ao Congresso, mais da metade não se elegeu.
Dentre os governadores que buscavam a reeleição e tiveram o nome de alguma forma relacionado a denúncias de corrupção no geral, mesmo que indiretamente, seis já não reelegeram-se após as votações deste domingo (7).
Do pleito presidencial emergiu sem cargo público Geraldo Alckmin (PSDB). O ex-governador de São Paulo sai da eleição em quarto lugar, com 4,76% dos votos válidos, sem foro privilegiado para o ano que vem, réu na Justiça e alvo de denúncias em delações. Durante a campanha, o MP-SP (Ministério Público de São Paulo) ofereceu denúncia à Justiça contra o tucano, em uma ação de improbidade administrativa. Os promotores o acusam de receber R$ 7,8 milhões da Odebrecht, que teriam sido usados na campanha de reeleição ao governo de São Paulo, em 2014. Alckmin nega.
A força-tarefa da Operação Lava Jato em São Paulo investiga outras denúncias feitas por delatores contra o tucano. Delatores da Odebrecht fizeram outras acusações e contaram ao MPF (Ministério Público Federal) que o apelido de Alckmin na planilha de propinas da Odebrecht era "Santo", em referência à conhecida religiosidade do candidato derrotado, que é católico. Ele nega todas as acusações.
Alckmin também teve a candidatura tisnada por prisões e denúncias de corrupção contra outros integrantes do PSDB ou dos governos da legenda em São Paulo próximos a ele. Alvo de inquérito no STF (Supremo Tribunal Federal), o senador tucano José Serra (PSDB-SP) também foi delatado na Operação Lava Jato.
A prisão de Paulo Preto, diretor da Dersa em governos tucanos em SP, em abril, trouxe imputações de corrupção para dentro do PSDB no estado. Ex-secretário de Logística e Transportes e ex-diretor da Dersa no governo de Alckmin em SP, Laurence Casagrande, assim como Paulo Preto, foi preso e acusado de corrupção. Os dois viraram réus.
Governadores não se reelegem
Dentre os governadores, o caso mais notório é o do governador de Minas Gerais, Fernando Pimentel (PT). Apesar de comandar o maior colégio eleitoral do país (apenas SP possui mais eleitores que MG), Pimentel está fora das eleições estaduais. Ficou em terceiro lugar, com 23,12% dos votos válidos, atrás de Romeu Zema (Novo) e Antonio Anastasia (PSDB), que vão disputar o segundo turno.
Alvo da Operação Acrônimo, Pimentel é réu em processos que desceram do STJ (Superior Tribunal de Justiça) para a justiça comum e justiça eleitoral mineira, após o STF (Supremo Tribunal Federal) rever o entendimento sobre o foro privilegiado e determinar que sejam investigados, e eventualmente julgados, em tribunais locais os políticos suspeitos de praticar crimes fora do cargo público. Ele afirma que é inocente.
Outro governador que não passou do primeiro turno foi Robinson Faria. Ele teve 11,8% dos votos e ficou em terceiro lugar na disputa pelo governo do Rio Grande do Norte. Faria é investigado na Operação Lava Jato. O governador de Goiás, Zé Eliton (PSDB), não é alvo de denúncias ou investigações. Porém, ele era o vice de Marconi Perillo (PSDB), que deixou o cargo em abril para concorrer a uma vaga no Senado; assim, foi alvo de uma operação de busca e apreensão da PF em meio à campanha, e só não foi preso porque a legislação eleitoral proíbe a prisão de candidatos a partir de 15 dias antes das eleições. Perillo também não foi eleito e nega qualquer irregularidade.
No Paraná, Cida Borghetti (PP) assumiu o governo em abril e não conseguiu se reeleger, apesar de ser Ficha Limpa -- Ratinho Júnior fechou a disputa no primeiro turno com 59,9% dos votos válidos (a governadora teve 15,5%). Ela era a vice de Beto Richa (PSDB), que largou o cargo para concorrer a uma vaga no Senado, também sem sucesso. Richa foi preso menos de um mês antes da votação deste domingo, acusado de receber propina de empresas em obras de infraestrutura no estado. Ele nega as acusações.
O governador do Mato Grosso, Pedro Taques (PSDB), viu sua popularidade ser dragada na esteira de quatro delações premiadas e um inquérito no STJ, também acusado de corrupção. Ele teve 19% dos votos válidos e ficou em terceiro lugar -- Mauro Mendes garantiu a vitória no primeiro turno com 58,69% dos votos válidos.
Por fim, a governadora de Roraima, Suley Campos, não tem o nome envolvido em nenhum escândalo de corrupção. No entanto, é mulher de Neudo Campos (PP), que foi impedido de concorrer em 2014, já que era Ficha Suja; e Suley assumiu a candidatura do marido. Ela foi a única mulher a se eleger em 2014 para um governo de estado e, neste ano, em busca da reeleição, terminou em terceiro lugar, com 11,13% dos votos válidos.
Medalhões do Congresso
Entre os parlamentares que estão com pendências na Justiça ou são alvo de acusações e que não se elegeram está o ex-líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR). Jucá tem mandato no Senado desde 1994 e ficou de fora a partir do ano que vem por apenas 426 votos. Ministro do Planejamento de Michel Temer por 12 dias, ele deixou a pasta após a divulgação de áudios que sugeriam uma obstrução na Operação Lava Jato. Ele é réu pelos crimes de corrupção passiva e lavagem dinheiro no STF. O senador refuta as acusações
Outros nomes de destaque na política, como o presidente do Senado, Eunício Oliveira (MDB-CE), e o vice, Cássio Cunha Lima (PSDB-PB), também ficaram de fora.
Eunício é o atual presidente do Senado. Acusado de receber R$ 2,1 milhões daOdebrecht na Operação Lava Jato, ele ficou em terceiro lugar, com 16,93% dos votos válidos. Lima ficou em quarto na eleição para o Senado na Paraíba, com 17,53% dos votos válidos. Ele também é citado como beneficiário de propinas por delatores da Odebrecht. Os dois negam que tenham cometido irregularidades.
A presidente cassada Dilma Rousseff (PT), que tentou se eleger para o Senado de Minas Gerais, caiu nas intenções de voto durante a campanha e terminou a corrida em quarto lugar, com 2,7 milhões de votos. O nome dela é citado nas delações premiadas de seu ex-marqueteiro, João Santana, e de Antonio Palocci, ex-ministro da Fazenda em seu governo, como beneficiária de milhões da Odebrecht para a campanha eleitoral de 2014 em caixa dois. Palocci também a acusou de "vender" MPs (Medidas Provisórias). Ela nega.
Outro petista que teve o nome envolvido na Lava Jato e não se reelegeu foi o senador Lindbergh Farias. O petista ficou em quarto lugar na disputa para o Senado do Rio de Janeiro, com 10,17% dos votos válidos. Ele é acusado de ter recebido R$ 4,5 milhões da Odebrecht. É investigado em um inquérito no STF, que agora deve ser remetido para a justiça carioca.