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Ex-governador Gerson Camata é enterrado no Espírito Santo

Corpo do ex-governador foi enterrado no Cemitério Parque da Paz, no município de Serra, na Grande Vitória. Aos 77 anos, Camata morreu vítima de um tiro dado por um ex-assessor.

Por G1 27/12/2018 17h05
Ex-governador Gerson Camata é enterrado no Espírito Santo
Rita Camata, esposa de Gerson Camata, é consolada por familiares - Foto: Fábio Linhares/TV Gazeta

Foi enterrado por volta das 16h20 desta quinta-feira (27) o corpo do ex-governador do Espírito Santo Gerson Camata, que morreu na quarta-feira (26), aos 77 anos. Um cortejo fúnebre, com honras militares, percorreu várias ruas de Vitória.

Seguido por uma multidão de pessoas, o caminhão do Corpo de Bombeiros que transportou o corpo de Camata deixou o Palácio Anchieta, onde o político foi velado desde as primeiras horas do dia, às 14h40. Eram 15h50 quando o cortejo chegou ao cemitério Jardim da Paz, na Serra.

De acordo com a Casa Militar do Espírito Santo, mais de 2 mil pessoas se reuniram no cemitério para acompanhar o enterro.

Para tentar chegar mais perto do caixão, admiradores do ex-governador se espremeram na área reservada para o enterro no cemitério. Em meio à comoção, uma mulher desmaiou e foi atendida por militares do Corpo de Bombeiros.

Antes, cerca de 5 mil pessoas passaram pelo caixão de Camata exposto desde a manhã desta quinta na sede do governo do Estado, informou a Casa Militar.

O ex-governador e ex-senador deixa a mulher, Rita Camata, dois filhos - Enza Rafaela e Bruno - e uma neta.

Crime

Camata, de 77 anos, foi assassinado nesta quarta-feira (26) com um tiro depois de uma discussão com um ex-assessor, causada por uma ação judicial movida pelo ex-governador contra ele, que resultou no bloqueio de R$ 60 mil da conta bancária do agressor.

O ex-assessor, Marcos Venício Moreira Andrade, de 66 anos, foi preso em flagrante e confessou o crime. Ele foi encaminhado para o presídio de Viana, na noite de quarta-feira (26).

Despedida

A despedida de Camata começou às 8h, fechada somente para familiares e amigos próximos. Edmar Camata, que é sobrinho do ex-governador, lamentou a morte do tio. "O momento é de consternação, de tristeza. Mas de alegria pela história dele como senador, governador. Político carismático, radialista. Levou a luz para os municípios", falou.

A aposentada Nayr Caliari, de 65 anos, foi secretária do gabinete de Camata quando ele ainda era governador e ficou abalada com a morte do amigo.

"Eu não tenho palavras. Eu estou tão chateada, triste, dolorosa. Tenho muito lembrança dele, muitos trabalhos, fizemos campanha, andamos juntos", disse Nayr.

Assim como outras lideranças políticas, o atual governador do Espírito Santo, Paulo Hartung, esteve no velório. "Torci para que a notícia não fosse verdade. Muita tristeza, um ato de brutalidade, de violência, contra uma pessoa tranquila, calma. Camata foi um mestre para mim, eu vinha do movimento estudantil, foi aí que encontrei Camata. Virou nosso candidato ao governador em um momento que se lutava pela redemocratização", afirmou Hartung.

O ex-governador José Ignácio Ferreira disse que a morte de Camata foi trágica. "O trágico nessa história é alguém que nunca usou uma arma morrer com um tiro. Camata era um homem de paz, cordial, deu sonhos ao Espírito Santo. Talvez não tenha havido no Espírito Santo um homem com esse talento todo", falou.

Morte

O assassinato aconteceu em uma rua movimentada do bairro Praia do Canto, em Vitória. Marcos Venício Moreira Andrade, de 66 anos, confessou o crime e foi preso a 100 metros do local. A arma usada não tinha registro e foi apreendida. A defesa de Marcos não quis comentar o caso.

“O assessor foi tirar satisfação ao encontrar Gerson Camata na rua, na calçada, próximo a uma banca de revista e a uma padaria. Neste encontro, iniciou uma discussão verbal, onde o assessor sacou a arma e efetuou o disparo contra o ex-governador”, explicou o secretário estadual de Segurança Pública, Nylton Rodrigues.

Depois de ser baleado, Camata ficou caído na calçada. O Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) chegou a ser acionado, mas ele não resistiu. Depois da perícia da Polícia Civil, o corpo foi levado ao Departamento Médico Legal (DML) de Vitória e foi liberado no final da noite de quarta-feira (26).

Briga na Justiça

Marcos Andrade confessou o crime — Foto: Divulgação

Marcos Andrade trabalhou como assessor de Gerson Camata por quase 20 anos. Em 2009, contudo, a relação entre eles ficou comprometida quando Marcos denunciou um suposto crime de caixa 2 cometido por Camata ao jornal "O Globo".

Em entrevista, Marcos afirmou que Camata recebia mesadas de empreiteiras, apresentava recibos falsos de contas eleitorais e obrigava funcionários a pagar, com salários do Senado, suas despesas pessoais. Na época, ele apresentou documentos e anotações para comprovar a denúncia.

Gerson Camata negou as acusações à época. Ele afirmava que Marcos sofria de problemas psicológicos e que suas acusações não deveriam ser levadas em consideração.

O ex-governador processou Marcos por danos morais por conta das denúncias. Uma ação foi movida na Justiça do Espírito Santo e na do Distrito Federal.

Foi o juiz do Distrito Federal, Leandro Borges de Figueiredo, que decidiu pela condenação do ex-assessor em 9 de abril de 2012. Marcos foi condenado uma pagar indenização de R$ 50 mil, além de honorários e custas processuais.

O ex-assessor recorreu em instâncias superiores, ao longo dos anos, mas sem sucesso. O secretário de Segurança Pública do Espírito Santo, Nylton Rodrigues, disse que houve um bloqueio de R$ 60 mil na conta de Marcos para que ele pagasse a indenização em janeiro de 2018.

Sobre as investigações da denúncia de caixa 2, as denúncias publicadas em "O Globo" foram submetidas, ainda em 2009, à Procuradoria Geral da República e à Corregedoria do Senado (onde Camata exercia mandato na época). Nos dois casos, ficou entendido que as acusações não tinham lastro e foram arquivadas.

Trajetória de Camata

Camata foi governador do Espírito Santo entre 1982 e 1986, exerceu três mandatos como senador, de 1987 até 2011. Ele ainda foi vereador de Vitória, deputado estadual e deputado federal.

Gerson Camata nasceu em Castelo, no sul do Espírito Santo, em 1941. Começou a vida profissional como jornalista e apresentador no programa Ronda Da Cidade, na Rádio Cidade de Vitória. Era formado em Ciências Econômicas pela Universidade Federal de Vitória.

Camata começou na vida pública como vereador da capital do Espírito Santo em 1967, no mandato seguinte, em 1971, foi eleito Deputado Estadual. Foi Deputado Federal por dois mandatos, de 1975 a 1983, governador do Espírito Santo em 1983 e foi por três vezes senador pelo estado, de 1987 até 2011.

Em 1999, foi autor do projeto de lei que deu origem ao Estatudo do Desarmamento. Camata também foi senador constituinte.

Camata foi o primeiro governador democraticamente eleito depois da Ditadura Militar, no período de reabertura política.

Gerson é casado com Rita Camata, ex-deputada federal. Ele deixa dois filhos.