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Memorial com nomes dos 28 mortos em operação no Jacarezinho é derrubado pela polícia, que cita 'apologia ao tráfico'

Agentes da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core) usaram marretas e um 'caveirão' para destruir a estrutura

Por G1 11/05/2022 20h08
Memorial com nomes dos 28 mortos em operação no Jacarezinho é derrubado pela polícia, que cita 'apologia ao tráfico'
Agentes usaram marretas para demolir memorial - Foto: Reprodução/G1

Policiais civis derrubaram, na tarde desta quarta-feira (11), um memorial inaugurado na semana passada, no Jacarezinho, Zona Norte, para lembrar os mortos na operação policial mais letal da história do Rio de Janeiro. Ao todo, a incursão em 6 de maio de 2021 deixou 28 mortos.

Vídeos e fotos enviados ao g1 mostram a ação dos policiais. Pelas imagens, os agentes que participaram da demolição são da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core).

Memorial é derrubado com auxílio de caveirão da Core — Foto: Reprodução/G1

Pela foto acima também é possível ver que um "caveirão" (blindado) da Core, a tropa de elite da corporação, foi usado para derrubar a estrutura.

No memorial, inaugurado na sexta-feira passada, constavam os nomes dos 28 mortos na operação. Inclusive o do policial civil André Frias, assassinado por traficantes naquele dia.

Imagem do memorial antes da derrubada: nome do policial morto na operação também era lembrado — Foto: Reprodução/Bruno Itan


'Apologia ao tráfico', diz nota da polícia

Em nota, a Secretaria de Polícia Civil informou que, por meio da 25ª DP (Engenho Novo) e da Core, retirou "o memorial ilegal construído em homenagem aos 27 traficantes mortos em confronto durante operação na comunidade do Jacarezinho, ocorrida em 6 de maio de 2021".

Segundo a secretaria, "durante a diligência também foi realizada perícia no local e no material apreendido formalmente".

Diz o texto que "o registro de ocorrência que definiu a diligência para retirada do memorial levou em consideração a apologia ao tráfico de drogas, uma vez que os 27 mortos tinham passagens pela polícia e envolvimento comprovado com atividades criminosas".

A polícia também alega que a construção do mesmo não tinha autorização da Prefeitura do Rio de Janeiro. E acrescentou que a menção ao policial civil André Frias, assassinado pelos criminosos, "foi negada pela esposa do policial assassinado e tampouco teve autorização da família do agente".

Investigações concluídas

Também na semana passada, um ano depois da operação, o Ministério Público estadual (MPRJ) denunciou à Justiça os policiais civis Amaury Godoy Mafra e Alexandre Moura de Souza pelos assassinatos de Richard Gabriel da Silva Ferreira e Isaac Pinheiro de Oliveira.

A apresentação da denúncia à Justiça marcou o encerramento das investigações pelo MP, que montou uma força-tarefa para apurar 13 situações nas quais foram mortas as 28 pessoas.

Os policiais Amaury e Alexandre foram acusados pelo órgão de executar dois suspeitos. A eles também foram atribuídos os crimes de fraude processual e de forjar o cenário no local das mortes.

Além deles, os traficantes Adriano de Souza de Freitas, o "Chico Bento", e Felipe Ferreira Manoel, conhecido como Fred, também foram denunciados pelo MP pelo homicídio duplamente qualificado do policial civil André Leonardo de Mello Frias.

O traficante identificado como autor do tiro que matou o policial morreu em uma troca de tiros com a Core. Segundo a polícia, João Carlos Sordeiro Lourenço, de 23 anos, era conhecido como Jota e subiu na hierarquia da quadrilha depois de ter assassinado André Frias.

E outros dois policiais são réus na Justiça pela morte de Omar Pereira da Silva, de 21 anos, baleado no Beco da Síria, no Jacarezinho. Douglas Lucena Peixoto Siqueira e Anderson Silveira Pereira têm audiência do processo marcada para o dia 29 de junho.