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'Tá na hora do Jair já ir embora': Juliano Maderada, o dono do jingle de Lula que chegou às paradas

Podcast do G1 conta como ex-professor baiano de 48 anos mudou a cara dos jingles em 2022

Por G1 31/10/2022 11h11
'Tá na hora do Jair já ir embora': Juliano Maderada, o dono do jingle de Lula que chegou às paradas
Juliano Maderada - Foto: Divulgação

Um ex-professor de matemática baiano de 48 anos mudou a cara dos jingles políticos em 2022. Com ritmos dançantes do Nordeste e letras provocativas, ele quebrou a pompa dessas músicas. Assim, elas foram parar no TikTok e nos "paredões", as caixas de som automotivas para festas de rua.

"Tá na hora do Jair já ir embora" é uma dessas músicas, que chegou ao 40º lugar do top 100 brasileiro do Spotify e ao primeiro lugar na lista de virais do serviço de streaming. Este ranking considera as faixas que tiveram aumento de acessos de forma mais rápida nos últimos dias no mundo.

Após a disputa mais acirrada desde a redemocratização e uma campanha turbulenta, marcada por uma polarização histórica, guerra suja nas redes sociais, batalha religiosa e episódios de violência, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foi eleito presidente da República neste domingo (30), ao derrotar no segundo turno Jair Bolsonaro (PL), atual ocupante do Palácio do Planalto.

Ao superar a marca de 60 milhões de votos, Lula tornou-se o presidente eleito mais votado da história. Ele governou por dois mandatos, entre 2003 e 2010 – o terceiro começa em 1º de janeiro de 2023. Já Bolsonaro é o primeiro presidente a fracassar na busca por ser reconduzido ao posto desde a redemocratização.

O podcast g1 ouviu conta duas histórias: a do dono de uma pequena banda de arrocha na Bahia e a dos irmãos que batalhavam no sertanejo no interior de SP. Eles fizeram apostas para o embate que viria nas eleições - um do lado de Lula (PT); os outros, de Bolsonaro (PL).

Longe do glamour de celebridades, são as criações destes artistas menos conhecidos, "outsiders", que ganham as duas multidões - seja em um carnaval lotado de vermelho por ruas do Nordeste ou em uma triunfante volta de cavalo pela arena lotada na festa de Barretos. Elas também entram nas paradas de streaming.

A trajetória de Juliano Maderada foi alterada por dois fatos históricos: a pandemia de coronavírus em 2020 e a decisão do STF que tornou Lula elegível de novo, em 2021. Sem o trabalho com shows, ele teve a ideia de fazer músicas e postar vídeos de apoio o ex-presidente.

Júlio Hermínio Luz tem 48 anos, nasceu em Araguapaz (GO) e se mudou aos sete anos para Iguaí (BA). Estudou Agronomia e dava aulas de matemática enquanto tocava forró na noite. Ele largou as salas de aula quando a carreira musical engatou ao formar a banda de arrocha Maderada.

Ele também compunha para outros artistas. Conseguiu um sucesso regional em 2016 com "Passinho do Peter Pan", arrochadeira gravada por Neto LX, Raí Saia Rodada, Gabriel Diniz e outros famosos. Mas suas composições estouraram mesmo quando miraram outra figura do Nordeste.

"A primeira música que eu postei sobre o Lula em 2011 foi 'Volta meu guerreiro". Teve 7 mil views em um dia, muito bom para um canal sem notoriedade", ele conta. "Já que funcionou, eu resolvi fazer outra criticando o Bolsonaro. Deu mais certo ainda", diz.

Ao som de pisadinha, arrochadeira, lambadão e outros ritmos nordestinos atuais, ele repete versos provocativos como em "Chega de ovo, é Lula de novo", "Vai levar peia", "Forrozão arruma mala", "É taca taca que vão levar", "Vai ser lapada" e "Lambadão do 13" (com número do PT repetido sem parar).

Juliano diz que os colegas de bandas e músicos da região são apoiadores do PT (Lula teve 66% dos votos em Iguaí). Mesmo assim, ninguém botou muita fé nas músicas políticas no início. Ele tinha que pagar músicos para gravarem. Quando ficou sem dinheiro, começou a cantar ele mesmo.

Ele também buscou o PT quando viu que as músicas cresciam no YouTube. "Demorei muito tempo para que alguém me enxergasse. Eu batia em várias portas. Procurei a assessoria de Lula mil vezes o pessoal não dava muito ouvido. Eu dizia que estava trabalhando, que todo dia fazia uma música..."

A eleição se aproximava e o canal crescia. Assim ele convenceu o vocalista do Madeirada, Tiago Doidão, a viajar para Iguaí para compor e gravar junto com ele a lambada "Tá na hora do Jair já ir embora", que estourou no 1º turno e segue em alta no 2º.

Do TikTok à micareta
"Primeiro as músicas invadiram as redes sociais. Com isso a gente conseguiu levar essa mensagem para um ambiente em que a música institucional de propaganda política não chegava, mesmo bonita e com uma boa mensagem - porque não tem a batida forte, não sugeria dança, não invadia o TikTok."

"Depois que começou a campanha de corpo a corpo, a música migrou para a rua. Agora esse estilo ganhou o carro de som, o som automotivo (o chamado "paredão"), e virou essa outra forma de manifestação, uma micareta na rua. Ganhou uma identidade nova", ele descreve.

Não foi tudo ideia dele: um precursor importante é o jingle genérico "O homem disparou", pisadinha que foi um fenômeno na eleição municipal de 2020. De qualquer forma, Juliano pegou o espírito e começou uma produção em série de jingles que, hoje, chegam sem esforço dele aos comícios.

"Eles vão no YouTube e baixam a música. Aí colocam no paredão, e como faz na rua, cria uma espécie de micareta, um carnaval político. O povo que tá na rua curte, dança, comemora e interage. "
"Acho que todo candidato que pensar em fazer campanha a nível nacional agora tem que saber que já existe essa forma de fazer política dessa maneira, com essa participação popular, com o povo na rua".