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Rodas de rap em quilombo mudam realidade de adolescentes socioeducandos

Encontros ocorreram no quilombo dos Palmares, no município de União dos Palmares

Por 7Segundos 10/02/2023 14h02 - Atualizado em 10/02/2023 15h03
Rodas de rap em quilombo mudam realidade de adolescentes socioeducandos
Rodas de rap em quilombo mudam realidade de adolescentes socioeducandos - Foto: Arquivo Pessoal

Uma psicóloga alagoana está desenvolvendo uma tese de mestrado na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) sobre o impacto de rodas de rap ocorridas em quilombos de Alagoas para adolescentes socioeducandos.

Mestranda do programa de pós-graduação em psicanálise: clínica e cultura, Jéssica Michelle dos Santos Silva começou a desenvolver o estudo em Alagoas como um projeto de pesquisa no ano de 2018. Depois, o transformou em Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) e, em seguida, na sua tese de mestrado.

As Rodas de Rap são um dispositivo de pesquisa e intervenção desenvolvidos pelo NUPPEC (CNPq) – Núcleo de Pesquisa em Psicanálise, Educação e Cultura - sob coordenação da orientadora de mestrado, Rose Gurki.

Ao todo, foram vinte encontros envolvendo 17 jovens reclusos com rodas de conversa e música que ocorreram na sede da Socioeducação e no Quilombo dos Palmares, no município de União dos Palmares.

O objetivo da pesquisa é investigar se os encontros funcionam como um caminho de elaboração do sofrimento sociopolítico de jovens negros que vivem em situação de violência e vulnerabilidade.

“Quando pisamos no quilombo, um dos adolescentes me perguntou se Zumbi Palmares tinha estado lá. Eu respondi que ela havia morado e liderado ali. Então, ele tirou as sandálias e disse que estava pisando no mesmo chão que Zumbi. Essa fala trouxe os agentes para a conversa. Depois, estavam todos sentados conversando e compartilhando experiências raciais. A maioria dos agentes também são negros”, contou Jéssica Michelle.

De acordo com ela, através das vivências levantadas por meio das letras de rap, os jovens começaram a trazer questões políticas. As pesquisadoras acreditam que a música cumpre uma função ético-política de resistência, já que as letras versam sobre a realidade psico-social deles. 

“Essa coisa do sou bandido e vou morrer bandido começar dar lugar a um entendimento de que suas escolhas tem influência. Eles começaram a pensar no saneamento básico, lazer, e na estrutura que existe, por exemplo, no bairro da Ponta Verde, mas não na favela. Um deles se perguntou qual a função da ressocialização na política socioeducativa 'o que significa ressocializar o que nunca esteve socializado?'". 

Segundo a orientadora  Rose Gurki,  dentro do mestrado, a pesquisa também tomou outro caminho. "A realização das Rodas oferece a possibilidade de rememorar a história deste local e de seus protagonistas para as gerações atuais já que, no período escravocrata, os Quilombos foram fonte de organização sociopolítica e de sobrevivência física e psíquica dos negros escravizados”.