Celebridades

Última Copa da Rainha Marta: entenda a história e a importância dela para o futebol feminino

Marta é uma das pessoas mais importantes da história da luta pela igualdade de gênero

Por 7Segundos com Agências 23/07/2023 08h08
Última Copa da Rainha Marta: entenda a história e a importância dela para o futebol feminino
Marta vai jogar sua última Copa do Mundo - Foto: Reprodução/ Instagram

Na última quinta-feira (20), começou a Copa do Mundo Feminina, na Austrália e na Nova Zelândia, que já é considerada a maior competição de futebol feminina de todos os tempos, sendo a primeira edição com o formato de 32 seleções igual a masculina.

Mas outro ponto que deixa essa copa ainda mais memorável e histórica, é que ela vai ser a despedida da maior jogada da história do futebol feminino. Aos 37 anos, Marta detém o recorde de maior artilheira da história do torneio com 17 anos.

Além de ser uma incrível atleta e referência no esporte, Marta também assume um papel importante fora de campo. Essa Copa do Mundo será o terceiro grande evento esportivo que ela irá jogar sem nenhuma marca de material esportivo, pelas ofertas de patrocínios serem abaixo do que ela merece, segundo ela. O que terá marcado em suas chuteiras é o símbolo do movimento ‘Go Equal’, um movimento que luta pela valorização das mulheres.

Vale lembrar que na Copa do Mundo Feminina de 2019, ela fez um gol de pênalti, contra a Austrália e na comemoração apontou para as chuteiras pretas como manifestação, pedindo mais igualdade de gênero.

Marta é uma das pessoas mais importantes da história da luta pela igualdade de gênero, ela fez o futebol feminino ter mais visibilidade, se tornando referência não somente para mulheres que gostam de futebol, mas também um símbolo para todas que desejam e buscam alcançar grandes patamares e enfrentam dificuldades e preconceito. O preconceito com o futebol feminino ainda acontece, mas ela é responsável por trazer um importante impacto e o devido respeito a modalidade que merece.

História


Marta é alagoana, nascida em Dois Riachos, localizada no sertão nordestino. Ela vem de família humilde e na sua infância jogava bola descalça com seus primos e amigos em campo de terra batida. A atacante, tinha uma família enorme e apaixonada por futebol com várias pessoas que praticam, mas a única mulher era ela.

Ela jogava no CSA de Dois Riachos, administrado até hoje pela sua família e tem esse nome por causa do CSA de Maceió. Ainda criança, sofria muito preconceito da própria família que achava anormal quando a atacante queria jogar bola e participar dos treinos, porém ela era protegida por alguns primos que jogavam futebol amador e a incentivavam a jogar mas na rua quando queria brincar de futebol outros meninos não gostavam de deixa-lá participar.

Valente e ousada, a nordestina foi para o Rio de Janeiro, jogar no Vasco, um clube mais estruturado e jogando só com mulheres, mesmo assim ela ainda ouvia algumas falas machistas. Nessa época, ela começou a traçar o plano de virar profissional e via no futebol uma forma de ascensão na vida e poder ajudar a família.

Marta fez um teste no Vasco quando tinha 14 anos
Reprodução


Porém, o Vasco em 2002 resolveu fechar as portas mas ela não queria voltar para Alagoas porque via no sudeste melhores oportunidades. Nesse período, ela jogou o Campeonato Paulista pelo time de São José do Rio Preto, depois ficou mais de um ano no Santa Cruz, de Belo Horizonte.

Em 2003, pela Copa do Mundo Feminina, o Brasil jogou as oitavas-de-final contra Suécia e depois de demonstrar seu futebol, surgiu a oportunidade da Marta jogar no exterior, ficou 5 temporadas na Suécia. Ela conquistou diversos títulos como a Liga dos Campeões feminina na temporada 2003/04, além de outros títulos, se tornando uma estrela e a principal jogadora da equipe.

Na época, a Marta começou a ser reconhecida mundialmente e a ganhar seus prêmios de melhor jogadora do mundo. Marta é a única atleta do futebol feminino eleita seis vezes melhor jogadora. Foram cinco de forma consecutiva de 2006 a 2010, e depois veio novamente ser eleita em 2018.

Marta jogou nos Estados Unidos em 2009, e nesse período chegou a conciliar com o Santos pelo fato da liga norte americana só durar 6 meses. Posteriormente ela voltou a Suécia por outra equipe e conquistou o campeonato sueco, a equipe declarou falência pouco tempo depois mas Marta logo foi contratada por outra equipe sueca, conquistando mais duas vezes o título nacional.

Em 2017, a rainha retorna aos Estados Unidos, dessa vez pelo Orlando Pride, onde permanece até hoje. Em dezembro de 2022, ela renovou por mais dois anos o contrato com a equipe.

Seleção Brasileira


Marta está na seleção brasileira desde 2002. São 183 jogos e 119 gols oficiais. Apesar de não ter ganho a Copa do Mundo Feminina, Marta tem 17 gols na competição e foi artilheira na edição de 2007, na qual foi vice-campeã. Marta também não tem medalha de ouro nas olimpíadas, são duas medalhas de prata em 2004 e 2008 e 13 gols marcados na competição. Além disso, a rainha tem outros títulos pela seleção como três Copa Américas Femininas (2003, 2010 e 2018) e duas medalhas de ouro em Jogos Pan-Americanos (2003 e 2007).

Agora, a Marta vai ter a oportunidade de encerrar a carreira vencendo o título da maior competição de futebol e o que falta na sua carreira. Em 2019, a atacante deu uma entrevista dura após a eliminação do Brasil: “É querer mais, treinar mais, se cuidar mais, estar pronta para jogar mais trinta minutos, mais quantos minutos for. É isso que eu peço as meninas não vai ter uma Formiga para sempre, não vai ter uma Marta para sempre, não vai ter uma Cristiane. O futebol feminino depende de vocês para sobreviver”.

Representatividade


No Brasil, o futebol feminino foi proibido no país durante o regime de Getúlio Vargas, em 1941. O decreto afirmava que as mulheres não podiam praticar esportes que não “condiziam com a sua natureza”, outros esportes como tipos de luta foram proibidos.

O futebol feminino foi proibido no país em 1941
Reprodução: Museu do Futebol - São Paulo

O decreto só veio ser revogado em 1979, 38 anos depois, porém o futebol feminino só foi regulamentado em 1983. Portanto, o futebol feminino é um esporte com pouco tempo de desenvolvimento e atualmente mesmo com muita evolução ainda sofre muito preconceito e é tratado com muito amadorismo pelos clubes e dirigentes do país. O Brasil só veio fazer sua primeira partida oficial como Seleção Feminina em junho de 1988 

Mais de trinta anos depois, a camisa 10 e a melhor e maior jogadora da história do futebol ainda precisa protestar por melhores condições e salário, demonstrando que a luta ainda está no começo e ainda há muito caminho para se percorrer.

Então, por ter conquistado tudo que conquistou e ter batido de frente com o preconceito, a Marta é vista como inspiração para todas as mulheres que sonham em jogar futebol e também para as que jogam. Um exemplo é a alagoana Geyse que também foi convocada e vai disputar a Copa do Mundo 2023: “Muitas pessoas falam que se eu batalhar muito eu posso ter a história da Marta. Eu fico na minha e tento colocar o meu trabalho em prática. Eu me inspiro muito nela e na Formiga. Elas passaram por muitas dificuldades até chegar onde elas estão hoje, porque naquela época tinha muito mais preconceito que hoje”, contou a atleta em 2017 durante um mundial sub-20.

No mundo todo, Marta é vista como uma personalidade gigante, a ONU também escolheu Marta como uma das suas 15 personalidades na luta pelas mulheres, em 2019. Ela ficou na sétima colocação, estando junto de outras personalidades fortes que marcaram aquele ano.

O Brasil estreia na Copa do Mundo Feminina nesta segunda-feira (24), diante da seleção do Panamá, o confronto será às 8 horas da manhã (Horário de Brasília) no estádio Hindmarsh Stadium. Marta e as demais convocadas terão a oportunidade de trazer esse título inédito para o país.