Candidato a presidente no Equador fez discurso premonitório antes de ser assassinado
Fernando Villavicencio vinha sendo ameaçado por um grupo criminoso do país antes de ser baleado
O candidato a presidente do Equador, Fernando Villavicencio, fez um discurso premonitório antes de ser assassinado em Quito. Ele foi morto na quarta-feira (9) na capital equatoriana.
Em ato de campanha em Chone horas antes do assassinato, Villavicencio disse que não precisava de colete de proteção e que tinha a proteção do povo. “Disseram que iriam me quebrar. Aqui está Don Villa. Que venham os chefões do narcotráfico. Venham! Que venham os atiradores, que venham os milicianos! Acabou-se o tempo da ameaça. Aqui estou eu. Podem me dobrar, mas nunca vão me quebrar”.
Ele já havia dito algo semelhante no sábado (5), também em Chone, uma província de Manabí, a noroeste do país.
“Me disseram para usar colete à prova de balas. Estou aqui [somente] com a camisa suada. Os senhores são o meu colete à prova de balas. Eu não preciso [usar]. Os senhores são um povo valente, e eu sou valente como os senhores. São os senhores que cuidam de mim”, declarou para as pessoas que o acompanhavam na ocasião.
Na quarta-feira (2), ele já havia dito algo semelhante, em entrevista ao programa Vis a Vis, apresentado pela jornalista Janet Hinostroza.
“Um presidente valente tem que dar a cara, como o seu povo. O povo não está com coletes a prova de balas. A sociedade está de joelhos diante do crime organizado. E o pior que se pode passar a um candidato, a um político, é ter medo. No momento em que os grupos criminosos submetem as pessoas, acabam a democracia e a República”.
A questão da segurança de Villavicencio foi um dos principais assuntos da entrevista, já que ele vinha sendo ameaçado por um grupo criminoso de Manabí, os Los Choneros.
O grupo — conhecido no Equador por extorsão, tráfico de drogas e homicídios — chegou a dizer que iria “quebrá-lo” se ele não parasse de citar o nome de seu líder, Alias Fito, nos comícios.
Após ameaças, Villavicencio afirmou que não iria suspender sua campanha e que continuaria na mesma direção. Além disso e de falar abertamente sobre as ameaças, ele denunciou o caso ao Ministério Público do Equador.
Ele também responsabilizou previamente os Los Choneros por qualquer eventual atentado que pudesse ocorrer contra ele, sua família e equipe de campanha.
O assassinato
Villavicencio foi morto na noite desta quarta-feira (9) ao deixar um comício no Anderson College, na cidade de Quito, capital do Equador.
Ele foi baleado várias vezes depois de já estar dentro do carro no qual sairia do local.
Na semana passada, ele havia denunciado ameaças que vinha recebendo de uma facção criminosa, mas disse que se recusava a usar coletes à prova de balas em seus comícios.
Após a morte de Villavicencio, o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) do Equador [órgão eleitoral máximo do país] repudiou o crime e disse que tais de violência maculam o o pleito e da democracia.
O presidente do Equador, Guillermo Lasso, também lamentou a morte: “Indignado e chocado com o assassinato do candidato presidencial Fernando Villavicencio. Minha solidariedade e condolências à esposa e filhas. Pela sua memória e pela sua luta, garanto-vos que este crime não ficará impune”.
A eleição presidencial do Equador
A eleição presidencial do Equador está marcada para ocorrer no domingo (20), de forma antecipada.
A antecipação foi feita depois que o presidente Guillermo Lasso decretou a chamada “morte cruzada”, dissolução da Assembleia Nacional, reduzindo o tempo de seu próprio mandato.
Após assassinato, principais postulantes à Presidência do Equador se pronunciaram nas redes sociais, alguns informaram a suspensão de suas campanhas. Eles também lamentaram o ocorrido e pediram apuração do crime.
Bem colocado na pesquisas
Villavicencio, do El Movimiento Construye, era um dos principais candidatos à Presidência do Equador. Nas pesquisas de opinião, ele oscilava entre a segunda e a quinta colocação.
As avaliações de tendências eleitorais do país são deficientes em comparação a de outros países da América do Sul como Argentina, Uruguai e Brasil, que possuem institutos com maiores índices de acerto.
Em junho, segundo o Centro Estratégico Latinoamericano de Geopolítica (Celag), Villavicencio estava em quarto lugar, com 8% das intenções de voto, atrás de Luisa González, do partido Revolução Cidadã (30%); Otto Sonnenholzner, da aliança “Vamos Agir” (13%); e Yaku Pérez, da coligação “Claro que é possível” (11%).
Em 20 de julho, a Cedatos, empresa de pesquisa aprovada pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE) do Equador, apontou que Villavicencio estava em segundo, com 13,2%, atrás apenas de Gonzáles (26,6%) e à frente de Pérez (12,5%) e Sonnenholzner (7,5%).
*Com informações da CNN Espanhol