Cidadania

Torcedores surdos acompanham final do alagoano com intérprete de Libras: ‘emocionante’

Além da equipe de intérpretes, transmissões do Youtube também contam com audiodescrição

Por Pedro Acioli* 06/04/2024 08h08
Torcedores surdos acompanham final do alagoano com intérprete de Libras: ‘emocionante’
Transmissão das finais do alagoano contaram com interprétes de libras - Foto: Reprodução/FAF tv

A final do campeonato alagoano 2024 inovou com acessibilidade às pessoas surdas ao colocar uma equipe de intérpretes da Língua Brasileira de Sinais (Libras) pela primeira vez nas transmissões dos jogos do estadual. Em entrevista ao 7Segundos, torcedores surdos relataram a dificuldade de acompanhar partidas sem intérpretes e a emoção da inclusão no último jogo.

Os jogos são transmitidos na tv aberta (Band) e pelo canal do Youtube da Federação Alagoana de Futebol (FAF). Além da equipe de intérpretes, as transmissões do Youtube também contam com audiodescrição. O primeiro jogo ocorreu no último sábado (30), e, neste sábado (06), ocorre o segundo jogo da final.

A presidente da Associação dos Surdos de Alagoas (ASAL), Gracielle Oliveira, é surda, amante de futebol e conta que antes perguntava às pessoas da família o que estava sendo narrado. "Dessa vez, eu entendi tudo, as expressões faciais dos jogadores, as falas dos comentaristas, quando o jogador caía e alguém reclamava. Assistir com intérpretes de Libras ficou mais emocionante.”

“Sem intérpretes, os ouvintes conversam e fazem questionamentos e os surdos ficam tentando adivinhar o que está acontecendo. Às vezes disperso [ao assistir os jogos] e, pela primeira vez, eu assisti e entendi tudo. Sábado quero novamente e quero em outros jogos também”, acrescentou a presidente.

Para Gracielle, falta interesse em garantir acessibilidade. “Com os intérpretes a mudança é muito grande e, por isso, tem que ter acessibilidade em Libras sempre”.

Professor surdo e especialista em Libras, Mário Lima revelou que não sabia que as pessoas falavam durante transmissões de futebol. “É muito diferente [assistir aos jogos], porque vamos ter emoções como as pessoas que ouvem, saber porque foi falta, porque não foi pênalti.”

Ele ressalta que a emoção de assistir aos jogos com Libras é maior e apela para a necessidade em mais partidas. "As pessoas tem que entender o tamanho da janela do intérprete”.

Ainda é pouco 


A primeira transmissão do futebol brasileiro em libras ocorreu em 2021 na partida entre Bahia x Fortaleza, válida pela sétima rodada da Copa do Nordeste. A transmissão era uma alternativa pelas redes sociais do Bahia e contava com dois intérpretes comentando os principais lances da partida.

Apesar de ter ocorrido três anos antes da final do alagoano, a inserção de acessibilidade para Pessoas com Deficiência (PCD) em transmissões esportivas ainda não é uma prática comum, ocorreu raras vezes neste intervalo e é mais habitual no cenário de transmissões de jogos eletrônicos (e-sports).

Além das novidades de acessibilidade nas transmissões, no jogo deste sábado, o estádio Rei Pelé contará com um local exclusivo com recursos de acessibilidade disponíveis para uma melhor experiência.

Andreza, Gracielle e Mário/ Arquivo Pessoal


Andreza Alves, também surda e associada da ASAL, vai pela primeira vez ao estádio nessa grande final. Ela disse estar feliz com as novidades, mas acredita que faltam medidas para inclusão dos surdos no esporte. “Falta fazer reunião com a comunidade surda, perguntar a nós o que é melhor ". 

Equipe de transmissão




Ana Claúdia participou das transmissões como uma das intérpretes de Libras. Ela disse que foi a primeira vez que se sentiu incluída de fato no esporte.

Ana também explicou que a transmissão não é feita de qualquer forma ou por qualquer pessoa. “É importante serem profissionais que atuam na modalidade esportiva, e o mais importante estudar previamente todas as técnicas do futebol”.


Projeto de Lei

Há um projeto de lei em tramitação no Senado Federal para prever a presença de intérpretes de Libras em transmissões televisivas de jogos ou de competição desportiva.

O projeto visa acrescentar essa medida na Lei nº 13.146, de 6 de julho de 2015, que institui a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência).

A ideia partiu de uma sugestão enviada ao Portal e-cidadania e foi apresentada pelo Senador Jorge Kajuru, que já foi jornalista esportivo, apresentador de TV e radialista.

*Estagiário sob supervisão da redação