Escritores relatam desafios da cena literária de AL: ‘ainda é impossível se manter’
Entre os principais desafios estão a falta de investimentos e a desvalorização
 
                            Nesta terça-feira (23), é comemorado o Dia Mundial do Livro, uma data para celebrar e homenagear os autores, além de promover a leitura. No entanto, o cenário em Alagoas mostra que há pouco a ser celebrado e existem mais desafios do que incentivos à leitura.
A data foi escolhida pela Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e a Cultural (Unesco) em uma reverência aos autores William Shakespeare, Miguel de Cervantes e Inca Garcilaso, que morreram em 23 de abril de 1616.
Da mesma forma, Alagoas tem um papel importante na literatura, daqui surgiram grandes escritores como Graciliano Ramos, Jorge de Lima e Lêdo Ivo. Porém, apesar do passado glorioso, escritores alagoanos relataram em entrevista ao 7Segundos que, atualmente, existe uma falta de investimento, reconhecimento e desvalorização por parte do público.
Evy Amaze, de 26 anos, escreve romances sobre o público LGBQIAPN+, retratando suas lutas, os preconceitos vividos e suas vitórias. Ela revelou que, através de uma plataforma online, começou na literatura escrevendo “fanfics”, uma narrativa ficcional que pode ser de alguma série, filme ou cantores escritos por fãs.

Com o passar do tempo, Evy buscava ter seu reconhecimento profissional e, em 2024, decidiu se autopublicar. Ela criou seu próprio selo e publicou fisicamente seu livro intitulado “Entre Laços de Fitas Desfeitos”.
No entanto, em termos financeiros e profissionais, a publicação não rendeu nada. “A realidade da autopublicação implica em pagar todos os gastos, desde a confecção da capa, revisão e diagramação do miolo do livro. Foi um investimento para me lançar no mercado profissional, mas que ainda não obtive retorno, então ainda é impossível me manter apenas com a escrita”, explica a autora.
Para Evy, conseguir reconhecimento é quase um “jogo de sorte”. Além dos custos de publicar um livro, ela atribui também como obstáculo a falta de reconhecimento, a dificuldade em encontrar editoras e a competição com autores já conhecidos.

Cenário nacional e local
Cida Lima também é uma escritora alagoana e em suas histórias, de literatura fantástica e romance sobrenatural, busca valorizar as riquezas culturais nas lendas nacionais, como em seu livro “Quem tem medo de lobo mau?”. Assim como Evy Maze, também classifica o cenário literário desafiador para os autores.
Ela salienta que a situação real no estado é tão difícil quanto para qualquer escritor do país. O que se agrava em Alagoas é que, exceto a Bienal Internacional do Livro, as festas literárias são com temas folclóricos e que não existem feiras com temas livres.
Além disso, quando os produtos de escritores locais são divulgados e expostos por livrarias e eventos, eles são colocados em uma mesma estante com uma classificação “escritores alagoanos”, o que, de acordo com a autora, cativa pouco a atenção dos leitores e dificulta a concorrência contra o mais divulgado mercado internacional. 
“[Com essa classificação] o leitor não sabe que aquele conteúdo é trabalhado, é atraente, que tem um bom escritor ali expondo uma boa obra. Não acho que desmerece dizer que é escritor alagoano, mas desmerece jogar todos juntos na prateleira. Esses livros tem outras classificações, podem ser romances, suspense, poema, uma série de outros títulos agregados a ele para valorizar”. .
Outros caminhos
Ainda assim, existem outras oportunidades para escritores alagoanos, sejam por concursos literários ou editais públicos, como os já lançados pela Imprensa Oficial Graciliano Ramos. Contudo, Cida revelou que os editais são criteriosos e específicos com relação a quantidade de páginas, formatos e temas, o que torna difícil alguns escritores serem selecionados.
“Pouca gente tem acesso [aos editais], como os escritores que estão mais na mídia, que já tem toda uma visibilidade. Para quem é novo e está chegando e para alguns veteranos, que escrevem um tipo diferente de literatura, o espaço é muito pequeno”, acrescentou.
Importância da valorização 
Outro escritor alagoano é Felipe Mateus. Natural de União dos Palmares, ele começou sua jornada em 2018 através de um perfil de poesia e crônicas nas redes sociais. Com protagonismo LGBTQIAPN + e nordestino em suas histórias, um de seus contos venceu, em 2023, o Prêmio Ecos de Literatura . 
Com o futuro lançamento de seu primeiro livro físico, Felipe conta que o principal impedimento é o escritor conseguir um local de destaque para ser visto e ter suas obras notadas. Porém, ele enxerga uma crescente no cenário alagoano e no reconhecimento de seu trabalho pelo público.
“O apoio de leitores que se identificam com minha escrita e acompanham meu trabalho tem sido fundamental para me motivar e continuar escrevendo”, revela o escritor.

Futuro da literatura alagoana
Apesar de elencar uma série de desafios como o desmerecimento de uma parte da população e a necessidade de mais investimentos, ele enxerga um futuro promissor para a literatura alagoana.
O escritor acredita que o acesso a plataformas onlines de autopublicação e a popularização de e-books está permitindo que as obras cheguem a um público mais amplo, não apenas em Alagoas, mas em todo o país.
Ele avalia que Alagoas tem um grande potencial de se destacar no cenário nacional devido a rica diversidade de talentos e histórias para contar, mas que precisa de fortalecimento da classe.
“À medida que a cena cultural em Alagoas se fortalece e mais oportunidades surgem para os escritores locais, mais forte fica toda a cena. Juntos, vamos crescendo cada vez mais e nos apoiando,” afirma Felipe.
*Estagiário com supervisão da Redação
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