Ao longo das décadas, figuras humanas desempenham importantes papéis na mudança do curso da história. Uma delas foi Joaquim José da Silva Xavier, conhecido como Tiradentes. Principal líder da Inconfidência Mineira, movimento separatista no Brasil colônia, o militar do Exército exportou sua mensagem pela linha do tempo e virou símbolo de coragem e idealismo nas instituições militares do país. Patrono da PM-AL, Tiradentes inspira bons exemplos na tropa.

Dentre eles está o 2º tenente Abraão Oliveira. Além da coincidência no posto que ocupam — uma vez que Tiradentes era alferes do Exército, patente equivalente à que o oficial ocupa atualmente —, Abraão utilizou a coragem do símbolo nacional para comandar um projeto, até então inédito, que implementou a Base Comunitária do Conjunto Carminha.

Criada em 2011, a iniciativa visava aproximar a Polícia Militar da comunidade e diminuir a criminalidade no local. Nascido e criado no Benedito Bentes, o então sargento foi o escolhido para gerir a Base.

“Na época, a região sofria com índices altos de criminalidade. Então, nosso desafio era criar uma estratégia de policiamento que combatesse os criminosos, mas que também se aproximasse da população local com ações educativas e sociais, para mitigar os impactos da condição de vulnerabilidade em que eles viviam”, relembra o militar.

E lá se foram oito anos à frente da Base Comunitária do Conjunto Carminha — tempo suficiente para Abraão se tornar uma figura conhecida e respeitada pela comunidade. Com características resolutivas, o militar era sempre procurado para liderar as demandas dos moradores, tendo boa aceitação na localidade. Além disso, o policial passou a organizar uma série de atividades e projetos sociais, a exemplo de aulas esportivas, distribuição de cestas básicas e a criação de cursos profissionalizantes.

Uma dessas iniciativas foi o Cozinha Brasil, promovido pelo Sesi, que levou cursos para cerca de 250 moradores do Carminha. A ação ensinou os participantes sobre práticas de alimentação saudável e de baixo custo, ajudando no preparo adequado dos alimentos e na melhora da renda familiar dessas pessoas.

Precisamos entender que nosso papel como policial militar vai além do serviço operacional. Por vezes, somos a única representação do Estado à qual aquelas pessoas têm acesso. Com isso, fico feliz em ter sido pioneiro em iniciativas que ajudaram a transformar um pouco a realidade dessas pessoas, que já convivem diariamente com os gargalos causados pela desigualdade social”, destaca o tenente.

Bem-quisto pela tropa, o militar precisou se afastar da gestão do projeto para participar do Curso de Habilitação de Oficiais (CHO), requisito obrigatório para ascensão ao quadro de oficiais. Desde então, o tenente Abraão desempenha suas funções no Centro de Gerenciamento de Crises, Direitos Humanos e Polícia Comunitária, mas continua contribuindo com a comunidade por meio das parcerias que construiu ao longo dos anos.

Hoje, aos 58 anos e com três décadas de serviços dedicados ao povo alagoano, ele deixa uma reflexão sobre a importância de valorizar a memória daqueles que um dia se sacrificaram para pavimentar o caminho da realidade.

“Assim como Tiradentes, incontáveis militares sacrificaram seu tempo na missão de transformar a realidade onde atuavam, seja no desempenho do serviço ordinário ou na contribuição à sociedade em iniciativas que fomentam a transformação social dessas regiões. Por isso, devemos manter sempre vivo o legado dos veteranos, seja da nossa Briosa ou de qualquer outra instituição”, reforça o tenente.

Homenagens da PM a Tiradentes

Anualmente, a Polícia Militar de Alagoas dedica uma semana de comemorações e homenagens ao seu patrono. Neste ano, a Corporação promoveu a tradicional Exposição Tiradentes, realizada entre os dias 14 e 16 de abril.

A iniciativa aproxima a Instituição da população, com exibição de itens históricos e equipamentos utilizados durante o serviço policial, incluindo as unidades especializadas, como Bope e Cavalaria. Além da capital alagoana, em 2025, a exposição também ocorreu em shoppings das cidades de Arapiraca e Delmiro Gouveia, no Agreste e Sertão alagoano.

No próximo dia 27 de abril, a Polícia Militar também promove mais uma edição da Meia Maratona Tiradentes, corrida de rua que chega à sua 39ª edição. Com milhares de inscritos, a prova percorre trechos da orla de Maceió nas categorias 5, 10 e 21 quilômetros.

Quem foi o alferes?

Nascido na cidade de Ritápolis-MG, Joaquim José da Silva Xavier foi um dos precursores da Inconfidência Mineira, movimento que lutou contra a exploração portuguesa no território brasileiro em meados do século XVIII. Tiradentes era alferes (posto militar equivalente à patente de tenente nos dias atuais).

A revolução pretendia proclamar uma república em Minas Gerais. Porém, a conspiração foi denunciada e seus idealizadores presos — sendo Tiradentes o único condenado à morte. O líder da revolução foi enforcado e esquartejado, tendo partes do seu corpo expostas em praça pública.

Com a Proclamação da República, em 1889, Tiradentes deixou de ser visto como traidor e passou a ser reconhecido como herói nacional e mártir da liberdade. A partir de 1965, Joaquim da Silva Xavier foi instituído como Patrono das Polícias Militares dos Estados Brasileiros.