Polícia

Instituto de Criminalística reforça importância dos exames toxicológicos em casos de violência sexual

Vítimas devem buscar atendimento imediato para garantir a detecção de substâncias e a coleta de provas genéticas

Por Agência Alagoas 30/05/2025 11h11
Instituto de Criminalística reforça importância dos exames toxicológicos em casos de violência sexual
Desde 2020, o Instituto de Criminalística de Alagoas já registrou 103 casos suspeitos de DFSA - Foto: Assessoria

Um serviço essencial para a investigação de crimes de violência sexual existe dentro da estrutura da Polícia Científica de Alagoas, mas ainda é pouco conhecido pela população: o serviço toxicológico do Laboratório Forense do Instituto de Criminalística. A unidade tem sido fundamental para esclarecer crimes que envolvem o uso de substâncias químicas para diminuir as chances de defesa das vítimas para essa prática criminosa, o chamado Drug-Facilitated Sexual Assault (DFSA).

O chefe do Laboratório Forense, perito criminal Thalmanny Goulart, explicou que o DFSA se refere a crimes em que a vítima é dopada com substâncias psicoativas, muitas vezes sem saber, para facilitar o abuso sexual. Essas drogas vão muito além dos conhecidos benzodiazepínicos (como o "Boa Noite Cinderela").

Também entram nessa lista substâncias como cetamina, GHB (ácido gama-hidroxibutírico), prometazina e até mesmo certos tipos de antidepressivos e anticonvulsivante. A ação dessas substâncias pode apagar a memória recente da vítima, dificultando seu relato e tornando a perícia ainda mais decisiva.

Desde 2020, o Instituto de Criminalística de Alagoas já registrou 103 casos suspeitos de DFSA. Para fortalecer o enfrentamento a esse tipo de crime, o governo estadual e federal investiram na aquisição de novos equipamentos dedicados exclusivamente à análise toxicológica em vítimas de violência sexual. Esses equipamentos, de última geração, permitiram identificar substâncias químicas em amostras biológicas com precisão e rapidez, ajudando na liberação dos laudos periciais que aguardavam a disponibilidade da instrumentação analítica.

Rapidez na busca ao atendimento junta à Rede de Atenção à Violência é essencial

Segundo o perito Thalmanny Goulart, é fundamental que as vítimas de violência sexual, especialmente aquelas que acreditam ter sido dopadas, busquem atendimento o mais rápido possível, dentro das primeiras 24h. Isso porque muitas das substâncias utilizadas nesses crimes desaparecem do organismo em poucas horas. “A janela de tempo para coletar amostras biológicas na Rede determina o sucesso da detecção. No sangue essas substâncias desaparecem dentro das 48h após a exposição. Enquanto na urina a janela de detecção pode chegar próximo às 120h. Por isso, reforçamos à população que procure imediatamente os pontos de coleta disponíveis”, explica o perito.

Atualmente, os locais disponíveis para atendimento são os Institutos Médicos Legais (IMLs) de Maceió e Arapiraca, além dos postos especializados que funcionam nas Salas Lilás do Hospital da Mulher (em Maceió) e no Hospital de Emergência do Agreste (em Arapiraca) que integram a Rede de Atenção às Violências (RAV) de Alagoas.

Nesses locais, além de serem oferecidos às vítimas de violência sexual e doméstica, uma assistência multidisciplinar com acompanhamento clínico, psicológico e policial, também são feitas coletas de amostras de material biológico tanto para exames toxicológicos quanto para identificação do DNA de possíveis autores do crime – outro passo importante para garantir justiça às vítimas.

Importância da informação

Apesar da importância desse serviço, muitas pessoas ainda desconhecem que ele existe e está disponível na Polícia Científica de Alagoas. Por isso, o chefe do Laboratório, reforça a necessidade de divulgação para que mais vítimas possam acessar o atendimento adequado e contribuir para a responsabilização dos agressores.

“Quanto mais cedo a vítima for atendida, maiores as chances de identificar a substância utilizada, preservar vestígios e coletar material genético que pode ser comparado a bancos de dados nacionais. O ideal é que a vítima procure esses locais dentro das primeiras 24 horas do crime, tendo como tempo limite de até 48 horas para amostras de sangue e 120 horas para busca dessas substancias na urina”, explicou Thalmanny Goulart.

“A ampliação da rede de atendimento e a modernização dos recursos do Instituto de Criminalística refletem o compromisso do Estado no combate à violência de gênero e à impunidade. O chamado à sociedade é claro: em casos de suspeita de violência sexual, não hesite. Procure imediatamente um dos centros de atendimento e ajude a transformar dor em justiça”, completou Thalmanny Goulart.