Quando a produção perguntou quem havia levado um livro de Raphael Montes, o Teatro Gustavo Leite viu centenas de mãos erguidas. Num gesto simbólico do poder da literatura, a plateia — majoritariamente composta por jovens — respondeu com gritos, aplausos e exemplares no ar. O Teatro lotado foi o cenário de um dia perfeito para o encontro com o escritor carioca, vencedor do Prêmio Jabuti, durante a 11ª Bienal Internacional do Livro de Alagoas.

Tietado desde os primeiros minutos em que pisou no Centro de Convenções, Raphael foi seguido por fãs, distribuiu sorrisos, autógrafos e fotos — num clima de descontração, bem diferente do que retrata em suas histórias. Seus livros, geralmente sombrios, exploram o lado obscuro da mente humana, onde ninguém é totalmente bom, mas há quem seja inteiramente mau. Para os fãs, ele é um gênio admirável, mesmo com uma mente literariamente criminosa.

“Meus fãs são como testemunhas. Eles acompanham meus crimes fictícios e ajudam a espalhar essas histórias como missionários”, disse o autor em entrevista à Rádio Ufal, no programa Bienal no Ar, ao explicar como muitos dos seus livros se espalham e multiplicam.

A fala pode ser contatada de perto com uma fila que dava voltas, formada por um público que aguardava pelo bate-papo, autógrafos e fotos com o autor de Suicidas. A estudante Clara Athayde, de 21 anos, chegou às 9h da manhã ao local do evento, que começaria às 19h. “Eu estou aqui desde cedo com meu Jantar Secreto na mão. É uma grande honra conhecer ele pessoalmente. Quero sentir até a respiração dele de tão perto”, brincou a estudante de Psicologia.

Já Isabela Monte, aluna de Ciência da Computação, também garantiu lugar na fila. “Uma amiga me indicou Suicidas e eu devorei o livro em três dias. Fiquei em choque e virei fã”, contou.

Mercado internacional

O sucesso citado pelas jovens se reflete também fora do Brasil. Jantar Secreto, por sinal, será lançado em inglês em agosto de 2026 pela editora Celadon Books, responsável por títulos de grande repercussão, como O Paciente Silencioso.

Durante o bate-papo, Raphael pediu a ajuda dos fãs para divulgar o livro internacionalmente: “Entrem no GoodReads e deixem um comentário sobre Jantar Secreto. Esse aplicativo é um termômetro de sucesso literário lá fora, e vocês podem me ajudar a fazer o livro bombar”, disse o escritor, ao brincar que o sucesso em terras americanas pode render até um filme em Hollywood.Dono de vários roteiros adaptados para o streaming — como Bom Dia, Verônica (Netflix) e Beleza Fatal (HBO Max) —, Raphael comentou o papel dessas produções na expansão de sua carreira: “As séries e filmes ajudaram muita gente a conhecer meu trabalho. Muita gente que me viu na Netflix ou no Globoplay depois foi ler meus livros. Mas o que eu mais amo fazer ainda é escrever. É ali que tudo começa”, salientou.

Questionado sobre os novos projetos, porém, Raphael revelou que está finalizando um livro inédito e que Jantar Secreto ganhará uma versão internacional. Além disso, novas produções vêm aí: “Ano que vem estreia o filme da Elise Matsunaga, que escrevi para a Netflix, e Uma Mulher no Escuro, baseada em outro livro meu, vai virar série no Globoplay”, adiantou.

Fascínio pela mente humana

Raphael também falou sobre o fascínio pela mente humana, um dos pilares de suas narrativas: “Eu me interesso muito por entender por que o ser humano comete crimes. A sociedade chama o criminoso de monstro, mas o crime é algo tragicamente humano. Todos nós temos uma sombra dentro de nós, um lado que pode ser bom e pode ser mau”, cravou o escritor.

E em meio a essa questão, Montes também conversou com o público sobre o funcionamento de seu processo criativo. E a resposta arrancou algumas risadas da plateia que, atenta, acompanhava cada palavra que saía da boca do ídolo: “Eu escrevo de pijama, todo troncho na cadeira, por muitas horas. Quando decido escrever um livro, é uma coisa mágica. Vou juntando as histórias que quero contar até que, em algum momento que ninguém sabe qual é, tudo faz sentido — e o livro nasce.”

Sobre a Bienal

A 11ª Bienal Internacional do Livro de Alagoas é realizada pela Universidade Federal de Alagoas e pelo governo de Alagoas, com correalização da Fundação Universitária de Desenvolvimento de Extensão e Pesquisa (Fundepes) e patrocínio do Senac e do Sebrae Alagoas.

Sob a curadoria do professor Eraldo Ferraz, diretor da Edufal, o maior evento cultural e literário do estado também tem como parceiros a plataforma de eventos Doity, a rede de Hotéis Ponta Verde, o Sesc, a Prefeitura de Maceió por meio da Secretaria Municipal de Educação (Semed) e o Instituto Federal de Alagoas (Ifal), além das secretarias de Estado da Cultura e Economia Criativa (Secult), de Turismo (Setur) e de Comunicação (Secom) de Alagoas.

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