Turismo sustentável muda a vida de Pescadores no Litoral Norte de Alagoas
Mais de 50 famílias são beneficiadas diretamente com o trabalho ligada ao turismo de base comunitária
Situada no Litoral norte de Alagoas, na Costa dos Corais, fica localizado o município de Porto de Pedras, onde está situado o santuário do mamífero aquático mais ameaçado de extinção no mundo, o Peixe-boi Marinho. O apoio da sede do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), surgiu a Associação dos Peixes-boi, projeto ligado ao turismo de observação que vem transformando a vida de alguns moradores da comunidade desde 2009. O projeto vem provando que a população pode ser aliada a conservação do peixe-boi marinho enquanto geram renda.
Em Porto de Pedras, o ICMBio atua na preservação, monitoramento e cuidado do Peixe desde 1998, quando o primeiro peixe-boi, o Aldo, fez do rio Tatuamunha seu berço natural. Desde então, o olhar dos biólogos e do ICMbio se voltou diretamente para o rio, que por sua vez se transformou em base de introdução de peixes-boi. Em 2010 os pescadores se reuniram e resolveram criar uma sede para a associação do Peixe-boi. Mal sabiam eles que esse projeto mudaria a vida de cerca de 150 pessoas, diretamente e indiretamente.
O projeto em 2014 contou com a ajuda de suma importância, tanto para divulgação quanto para a qualidade de recepção, do apresentador e empresário Luciano Huck, da tv globo. Foi com o discurso de ‘Um dos lugares mais bonitos que já estive no Brasil’ que o apresentador resolveu presentear a população Porto-Pedrense com a mais nova sede de associação do Peixe-boi, enquanto fazia a transmissão em seu programa na emissora. Esse foi o impulso do fluxo de turistas e de renda que surgiria a partir de então.
Segundo o presidente da Associação Antônio dos Santos, “Depois da reforma do Luciano foi que cresceu tanto no nosso Brasil como fora do Brasil. A associação é de fundamental importância, ela veio na verdade abrir outras portas pra gente. A associação veio dar nova vida, oportunidade de emprego. Além dos artesanatos, várias pessoas abriram comércios ao redor devido ao fluxo de turistas. ”
A associação Peixe-boi, realiza o turismo de base comunitária na cidade, capacita moradores e, em grande maioria, ex-pescadores para trabalharem no projeto. Atualmente, cerca de 70 famílias vivem em razão da espécie. A entidade recebe cerca de 70 visitantes todos os dias para os passeios, que acontecem sempre em jangadas a remo, ao longo do Rio Tatuamunha eles se deparam com o mangue e suas mais variadas espécies, além de verem os mamíferos soltos ou em cativeiro. Ao longo do trajeto, os turistas são acompanhados de 2 remadores e um guia, que explica desde a importância da preservação do peixe até os cuidados que se deve ter com a vegetação.
“A associação mudou muito a minha vida, porque a gente trabalha de janeiro a janeiro, dia sim dia não, e na realidade você tem um custo de vida bem melhor. Vamos supor que por semana você tirava em dinheiro 200 reais de peixe, trabalhando todos os dias no sol quente, hoje na associação você tira 600 reais, ou seja, nem se compara”, afirma o ex-pescador e atual guia Delvan de Araújo.
A mudança socioeconômica ligada ao turismo de base comunitária não agrega somente ao fator econômico dos moradores. A cultura ambiental também sofreu alterações, e um intenso trabalho de conscientização, preservação e cuidados com o Peixe-boi se iniciou em âmbitos públicos e privados, com auxílios de filmes educativos, com exposições em praças públicas, palestras em escolas, promovido por institutos e projetos apoiados pelo ICMBio.
“A associação é uma troca, e posso afirmar que já existe a conscientização da população, eles sabem que não pode tocar no Peixe para não domesticar, sabem que não pode usar barco a motor para não machucar o peixe-boi, não só respeitam como passam isso pra os turistas que muitas vezes não sabe, é gratificante de se ver”. Afirma o presidente.
Os 47 associados, são credenciados e passam por capacitações a cada dois anos. O projeto tem parceria com o Centro Mamíferos Aquáticos e a APA Costa dos Corais. A associação que auxiliou na situação econômica precária de cerca de 50 famílias diretamente, promoveu ainda um novo campo de trabalho para os artesãos da cidade, o peixe-boi de pelúcia.
“Nós começamos a produzir o bichinho Suvinil e começamos a fornecer as pelúcias primeiras para associação dos peixes-boi, nossa primeira fonte de renda veio dessa parceria”, afirma Maria dos Santos, dona da Oficina Peixe-boi Arte.
Nos arredores da associação é comum se deparar com lojas de artesanato, moda praia ou de cunho totalmente ecológico, como é o caso da loja Toca do Tatu.
Segundo a gerente da loja, Larissa Barbosa “A associação Influenciou e muito para o nosso crescimento, porque se nossa loja hoje se localiza em frente a ela é nossa estratégia de venda, a maioria das nossas clientes vem através da associação. A ideia da loja de sustentabilidade vem dessa cultura de preservação, tanto que nossos produtos são todos sustentáveis. ”
A principal atração turística da Rota Ecológica, ao lado das piscinas naturais, atingiu um número histórico de visitações de janeiro de 2017 a janeiro de 2018, incluindo essa quinzena de fevereiro, com mais de 10 mil atendimentos a turistas. Somente em dezembro, janeiro e fevereiro, quase três mil pessoas fizeram o passeio pelo Rio Tatuamunha, gerando um faturamento de mais um milhão de reais para os associados e afins, com autorização do ICMBio. O objetivo é garantir a preservação ambiental por meio da visitação turística.