Saiba o que é a 'doença do beijo', quadro viral diagnosticado em Anitta
A mononucleose infecciosa é causada pelo vírus Epstein-Barr e é transmitida principalmente pela saliva
Na última semana, a cantora Anitta revelou durante um evento que foi diagnosticada com o vírus Epstein-Barr, causador da mononucleose infecciosa, popularmente conhecida como "a doença do beijo".
A cantora descobriu de forma precoce a presença do vírus, mas confessou que passou "pelo momento mais difícil da [sua] vida" quando a condição foi confirmada.
Segundo a infectologista Ana Rachel Rodrigues, a doença é mais comum entre crianças, principalmente quando elas começam a frequentar a creche ou a pré-escola, e adolescentes. No entanto, também pode ocorrer na fase adulta, principalmente entre os 15 e os 25 anos.
"É uma doença muito prevalente. Cerca de 90% dos adultos, ou mais que isso, já tiveram contato com a doença. É mais raro quem não teve contato do que quem teve", diz Ana.
A principal forma de transmissão do vírus causador da mononucleose infecciosa é a saliva. Segundo a médica, também é possível se contaminar em uma relação sexual, mas não é comum.
"Falam que é a doença do beijo, mas ela pode ser transmitida por objetos, um copo, um material de uso comum, como um talher. Tudo o que tiver saliva pode transmitir", diz Ana.
Os principais sintomas são dor de garganta prolongada com formação de placas de pus, inchaço nos gânglios, principalmente no pescoço, dor no corpo, manchas na pele e febre por diversos dias.
"Pode acometer, nos casos mais graves, o fígado e o baço. Eles podem aumentar muito de tamanho, tipo uma hepatite. A gente não vê tanto [porque], geralmente, é uma doença de evolução muito benigna", explica a infectologista.
De acordo com o guia de bolso "Doenças infecciosas e parasitárias", do Ministério da Saúde, a infecção também pode apresentar dor quando a pessoa engole ou tosse, dor nas articulações e faringo-amigdalite exudativa. Mas a doença também pode ser assintomática.
Ana diz que os sintomas aparecem, geralmente, em duas a três semanas. No entanto, o tempo em que a pessoa continua a transmitir o vírus aos demais não é um padrão.
"Não tem um tempo estabelecido. Às vezes, você vai ficar menos, às vezes até um ano, não tem como saber por um exame específico. Eu acredito que, na medida em que estiver sem sintomas, com um estado geral bom [não está transmitindo], mas não é exato. Mas por pelo menos uns três meses é mais certo que a pessoa está transmitindo", explica a infectologista.
Como não há um tratamento específico para a doença, o correto é tratar os sintomas, com analgésicos ou corticoides, manter a hidratação, ficar de repouso e esperar que o organismo elimine o vírus.
O diagnóstico precoce é uma forma efetiva de evitar que os sintomas evoluam para algo mais grave. Apesar de as complicações serem raras, elas podem acontecer. A descoberta da doença no estágio inicial permite observação e acompanhamento mais efetivos.
"Qualquer doença viral pode se complicar e virar uma meningite, uma doença pulmonar, uma pneumonia viral, a síndrome de Guillain-Barré, em que se vai perdendo a força dos membros inferiores. Então, qualquer doença viral pode ser uma influenza ou Epstein-Barr; pode causar essas complicações, e sempre temos que ficar vigilantes", alerta Ana.
A infectologista e diretora da SPI (Sociedade Paulista de Infectologia) Karen Mirna Loro Morejón complementa que "precisamos estar atentos aos sintomas desses pacientes e rastrear possíveis complicações que possam acontecer durante o curso dessa infecção".
No caso da mononucleose infecciosa, essa observação é extremamente necessária, já que a doença foi relacionada a alguns linfomas e tipos de câncer.
"[Pode causar] linfoma de Burkitt, carcinoma de boca, de células escamosa. Alguns carcinomas já são associados, mas o de Burkitt é bem associado", descreve Ana.
Um estudo conduzido por pesquisadores da Universidade Harvard, nos Estados Unidos, ainda concluiu que a esclerose múltipla — doença degenerativa sem cura — provavelmente também está associada a uma infecção prévia pelo Epstein-Barr.
Prevenção
Manter a higienização correta das mãos, não compartilhar objetos de uso pessoal e cuidar para que os ambientes estejam limpos são formas de diminuir os riscos de uma infecção pelo vírus Epstein-Barr.
Caso você tenha algum dos sintomas da doença, procure atendimento nos serviços de saúde e utilize máscara, pois os quadros respiratórios podem ser confundidos com os de outras doenças.
Como se trata de uma condição comum no início da vida, os adultos infectados tendem a desenvolver quadros mais graves, portanto devem procurar auxílio imediato.
Em caso de diagnóstico de mononucleose infecciosa, as pessoas mais próximas e os familiares devem manter alguns cuidados.
"Não há vacina para essa doença. Recomenda-se evitar contato íntimo com itens pessoais [copos, talheres, escova de dentes]", afirma Karen.
Além do mais, em qualquer idade, o paciente precisa atentar a um possível retorno da doença.
"Há relatos de que o vírus pode ficar dormente no linfócito e, em uma queda de resistência, no momento de alguma patologia, a imunidade vai cair — porque, com o estresse, ele pode voltar. Mas nem todo mundo vai ficar com o vírus adormecido", finaliza a Ana.