Diário do Sertão
MPE investiga se médicos do hospital referência do Sertão praticam violências obstétricas
Alvo de várias denúncias da população, que vão desde atendimentos negligenciados até falta de medicamentos, a exemplo de Dipirona, médicos do Hospital Regional Dr. Clodolfo Rodrigues de Melo (HRCRM), em Santana do Ipanema, no Sertão de Alagoas, agora enfrentam a suspeita de violências obstétricas atraves de excessos de procedimentos de episiotomias. A prática consiste em fazer um corte no períneo da mulher gestante para facilitar o parto. Todavia, o procedimento sempre que acontecer, deve ter o consentimento da paciente e ser usado como última opção.
Mas, os altos números de procedimentos, suspeitando-se da troca da última pela primeira opção no HRCRM, onde a prefeita do município, Christiane Bulhões (MDB), é médica obstetra, levaram a 2ª Promotoria de Justiça do Ministério Público de Alagoas (MPE) de Santana do Ipanema, abrir um procedimento administrativo a fim de esclarecer o que vêm acontecendo.
O corte cirúrgico pode causar complicações que vão da dor perineal, ao aumento de riscos de infecções, disfunção do assoalho pélvico, dispareunia que pode gerar problemas psicológicos, hemorragias e fístulas retovaginal.
A ação foi motivada após um procedimento instaurado na 26ª Promotoria de Justiça da Capital, em consequência de expediente expedido ao Núcleo de Defesa da Saúde Pública (Nudesap), informando sobre iniciativas do Ministério Público Federal (MPF), em relação ao combate de práticas irregulares nos hospitais alagoanos, suspeitos de violarem os direitos de gestantes e parturientes.
Apesar da solicitação do MPF para que o Instituto Nacional de Pesquisa e Gestão em Saúde (INSAÚDE), empresa com sede no Estado de São Paulo, que administra o hospital santanense oficializasse os números de episiotomias realizadas no Clodolfo Rodrigues, por cada médico, entre os anos de 2020 e 2021, até o momento nenhuma resposta foi dada.
Diante do silêncio da administração do INSAÚDE, o MPF encaminhou cópia dos autos para o MPE, pedindo que a 2ª Promotoria de Justiça de Santana do Ipanema adote as providências cabíveis visando eliminar possíveis irregularidades praticadas por médicos da maternidade do hospital.
Em junho de 2022, uma portaria assinada pelo promotor de Justiça Kleber Valadares Coelho Júnior, na época, da 2ª Promotoria de Justiça em Santana e publicada no Diário Oficial do MPE, instaurou inquérito civil para apurar possível desvio de dinheiro público da INSAÚDE na administração do hospital.
A denúncia constava de termo de colaboração premiada firmado no âmbito do Ministério Público do Estado de São Paulo.
O promotor, meses após, foi remanejado para outro município.