Atirador é inocentado por mortes durante ato do Black Lives Matter em Kenosha, nos EUA
O rapaz, que na época tinha 17 anos, atirou contra antirracistas durante protesto nos Estados Unidos

Kyle Rittenhouse foi a manifestação portando arma semi-automática e alegou que queria proteger a propriedade privada. Veredito divide o país, e críticos temem precedente para futuros casos semelhantes. O americano Kyle Rittenhouse foi absolvido nesta sexta-feira (19/11) de todas as acusações por ter matado dois homens e ferido um terceiro em agosto do ano passado, durante uma manifestação do movimento Black Lives Matter em Kenosha, no estado de Wisconsin.
Rittenhouse tinha 17 anos à época e é branco, assim como as três pessoas em que ele atirou durante a manifestação.
Após quatro dias de deliberação, o júri considerou Rittenhouse inocente nas duas acusações de assassinato e em uma acusação de tentativa de assassinato. Ele também foi absolvido das acusações de “colocar em risco a segurança de forma imprudente” por suas ações durante a manifestação.
O que aconteceu em Kenosha?
Os protestos, que também incluíram tumultos, saques e incêndios, foram desencadeados depois que a polícia atirou em um homem negro, Jacob Blake, deixando-o paraplégico. O caso ocorreu poucos meses após o assassinato amplamente divulgado de outro homem negro, George Floyd.
Rittenhouse foi às manifestações de Kenosha portando uma arma semi-automática estilo AR-15, e disse que tinha a intenção de proteger a propriedade privada contra desordeiros. Ele afirmou que atirou nos três homens em autodefesa.
Vídeos do local mostram Rittenhouse abrindo fogo contra Joseph Rosenbaum, de 36 anos, depois que ele começou a persegui-lo e jogar uma bolsa nele. De acordo com Rittenhouse e um repórter que estava na área, Rosenbaum pulou para alcançar a arma de Rittenhouse antes de ser baleado.
Rittenhouse então deixou a cena ainda empunhando seu rifle, antes de aparentemente tropeçar e cair na rua. Outros manifestantes então tentaram confrontá-lo, incluindo Anthony Huber, de 26 anos, que atingiu Rittenhouse na cabeça com um skate. Rittenhouse abriu fogo novamente e matou Huber com um tiro. Outro manifestante, Gaige Grosskreutz, foi baleado depois de apontar a sua própria arma para Rittenhouse. À Justiça, Grosskreutz disse que estava tentando desarmar o atirador.
Os promotores descreveram o réu como um justiceiro e disseram que ele tinha ido ao protesto com a intenção de usar a sua arma.
Quais são as primeiras reações ao veredicto?
O presidente dos EUA, Joe Biden, disse que apoiava a conclusão do júri. “O sistema do júri funciona”, disse ele, segundo a agência de notícias Reuters. “Temos que cumpri-la”.
Derrick Johnson, chefe da National Association for the Advancement of Colored People (NAACP), disse que o sistema de Justiça “falhou conosco”. A NAACP é um dos grupos mais antigos e influentes que lutam pelos direitos da população negra nos EUA.
“O veredicto do #KyleRittenhouseTrial é um lembrete do papel traiçoeiro que a supremacia e o privilégio dos brancos desempenham dentro de nosso sistema de Justiça”, disse o chefe da NAACP no Twitter.
As autoridades temem que o resultado do julgamento possa desencadear novos tumultos e violência, aprofundando ainda mais as divisões na sociedade norte-americana.
O advogado de Rittenhouse, Mark Richards, disse ter recebido ameaças de morte relacionadas ao caso. “Para mim, é assustador quantas ameaças de morte recebemos”, disse ele a um repórter. “Após a terceira ameaça de morte, parei de atender meu telefone”.
“Estamos todos muito felizes que Kyle possa viver sua vida como um homem livre e inocente, mas em toda essa situação não há vencedores, há duas pessoas que perderam suas vidas e isso não é ignorado por nós”, disse David Hancock, porta-voz da família Rittenhouse.
O prefeito de Nova York, Bill de Blasio, criticou o veredito e o chamou de “repugnante”. “Chamar isso de um erro judiciário é incompleto”, disse De Blasio no Twitter.
Os pais de Anthony Huber disseram que o veredito “significa que não há responsabilização da pessoa que assassinou nosso filho”.
“Ele envia a mensagem inaceitável de que civis armados podem aparecer em qualquer cidade, incitar a violência e depois usar o perigo que eles criaram para justificar atirar em pessoas nas ruas”, disseram.
A bancada negra do Congresso dos EUA afirmou que a alegação de autodefesa de Rittenhouse era “absurda”.
“É inconcebível que nosso sistema de Justiça permita que um justiceiro armado (…) saia em liberdade”, disse a bancada negra do Congresso em uma declaração. “Está na hora da reforma da Justiça criminal, e já passou do tempo da reforma sobre armas.”
Qual é o impacto esperado do julgamento?
O caso se conecta a debates sobre racismo, protestos e o direito de ter armas nos EUA. Muitos dos políticos da direita veem o adolescente como um herói que se colocou em risco para proteger a propriedade privada, enquanto muitos à esquerda acreditam que ele agiu motivado por racismo e desejo de cometer violência.
Em Kenosha, o correspondente da DW Oliver Sallet disse que “as emoções estavam intensas” no tribunal enquanto o veredito era lido.
Fora da sala do tribunal, algumas pessoas estavam buzinando e celebrando enquanto outras estavam em descrença, disse. “Muitas pessoas ficarão aliviadas ou muito frustradas com o veredito de hoje”, afirmou.
Há também receio de que a absolvição possa encorajar mais violência armada. “Muitas pessoas e críticos estão preocupados que isso será um precedente para as pessoas, que diz em suma que não há problema em levar sua arma, seu rifle de assalto, a um protesto”, disse. “E talvez a pergunta mais importante: O que teria acontecido se Kyle Rittenhouse fosse um cidadão negro, teríamos visto outro veredito?”
O caso também suscitou perguntas sobre o tratamento policial dado a Rittenhouse e outras pessoas armadas que foram às rua para o que eles alegam ser a proteção da propriedade privada, comparado com a resposta da polícia aos manifestantes do Black Lives Matter. Após o tiroteio, Rittenhouse aproximou-se da polícia com suas mãos no ar, mas os policiais o ignoraram. Ele só foi preso no dia seguinte.
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