Em um cenário onde o empreendedorismo é cada vez mais exaltado como sinônimo de liberdade, inovação e conquista, cresce silenciosamente um inimigo invisível: o adoecimento mental. Com o aumento de jovens empreendedores no Brasil muitos deles impulsionados pela necessidade e pelo desejo de independência financeira  surgem também os relatos crescentes de ansiedade, estafa emocional, crises de identidade profissional e quadros mais severos de depressão.

O ritmo intenso, a pressão por resultados e a cultura da produtividade sem pausas têm colocado muitos desses jovens à beira do esgotamento. Para especialistas da psicologia organizacional e da saúde mental, essa geração de empreendedores vive um paradoxo: são idealizadores de negócios que nasceram da paixão e do propósito, mas muitas vezes perdem a si mesmos em meio ao excesso de cobrança e autossuficiência.

Sinais que não podem ser ignorados

Entre os principais sinais de que algo não vai bem com a saúde mental de um empreendedor estão: alterações bruscas de humor, perda de interesse pelo próprio negócio, insônia persistente, cansaço constante mesmo após descanso, irritabilidade sem causa aparente, lapsos de memória e crises de ansiedade recorrentes. Além disso, é comum o surgimento da síndrome do impostor quando o profissional, mesmo diante de conquistas reais, sente-se inadequado ou um "fraude". Essa sensação está diretamente ligada à autoexigência e ao medo de fracassar, muito presentes no universo empreendedor.

Para os psicólogos, o risco é ainda maior quando o empreendedor associa diretamente sua identidade ao sucesso do seu negócio. Nesses casos, qualquer instabilidade ou desafio empresarial é interpretado como um fracasso pessoal, o que pode desencadear quadros depressivos.


Causas que alimentam o desequilíbrio

Diversos fatores contribuem para o desgaste mental do empreendedor, mas os principais incluem:

. Isolamento social: o excesso de dedicação ao negócio afasta o empreendedor do convívio familiar e social. 

. Falta de estrutura emocional para lidar com instabilidades financeiras, comuns nos primeiros anos de um negócio.

. Comparação constante com concorrentes e influenciadores, especialmente nas redes sociais, gerando um sentimento de inadequação.

. Ausência de planejamento realista, levando à sobrecarga de tarefas e expectativas inalcançáveis.
Negligência com o autocuidado, visto como “perda de tempo” ou “luxo” por muitos.


O cuidado com a mente é também estratégia de negócio

Empreender é um ato corajoso, mas não deve ser uma missão solitária e autodestrutiva. Manter a saúde mental em dia é não apenas um direito do empreendedor, mas também uma decisão estratégica para a longevidade do negócio. Negócios sustentáveis exigem mentes saudáveis. À medida que se fortalece a pauta do bem-estar emocional dentro do universo corporativo, espera-se que o ecossistema empreendedor também abrace essa causa. Afinal, nenhuma ideia sobrevive ao colapso de quem a idealizou.

Por

Willian Nelson