Futebol

O dia em que o Brasil recusou Pep

Por Lancepress (Walter Mattos Jr.) 13/07/2014 14h02
O dia em que o Brasil recusou Pep

Menos de uma hora depois da demissão de Mano Menezes ter se tornado pública. num furo do LANCE!Net, às 15h56 de 23 de novembro de 2012, liguei para o celular do irmão de Pep Guardiola - a fonte que inicialmente foi mantida em sigilo - dizendo que o sonho comum que tínhamos, de ver o treinador no comando da Seleção, poderia se realizar.

Pere Guardiola ligou para seu irmão, que estava em férias, em NY, e me retornou a ligação relatando a frase de Pep: “A única equipe que eu começaria a treinar amanhã é a Seleção Brasileira”.

Gravei a ligação, após pedir licença para publicar nossa conversa, exceto pela fonte, que ele exigiu que ficasse em sigilo. O LANCE! publicou a história na capa de sua edição do dia 24. Fiquei animado e o Brasil ficou ainda mais. A repercussão da ideia foi imediata. Enquetes realizadas por L!Net, UOL, SporTV, e por sites de diversos portais, revistas e emissoras de TV, apontaram que a preferência dos brasileiros pelo catalão chegava, em alguns casos, a até 75%, frente a nomes como Muricy, Felipão e Tite.

Aqui no Brasil, só a TV Globo e seu portal GloboEsporte ficaram claramente contra, os únicos que fizeram enquete com somente nomes brasileiros. A imprensa internacional, TV’s e jornais da Itália, da Espanha, da Argentina e da Inglaterra deram grande destaque à notícia.

E os principais cronistas esportivos do país, como Juca Kfouri, PVC, Calazans e tantos outros, apoiaram a ideia em suas colunas e blogs ou escrevendo textos para este LANCE! A voz corrente era que, com Guardiola, o Brasil poderia resgatar o seu passado de futebol-arte. Aquele imortalizado pelas gerações de 70, com Pelé e Tostão, e de 82, com Zico, Sócrates e Falcão.

Esta história e o furo começaram na primeira grande humilhação do nosso fut, quando o Barcelona, comandado por Pep, humilhou o Santos na final do Mundial de Clubes com um domínio incontestável, parecendo um jogo de profissionais contra juvenis. Na coletiva, perguntado como se sentia tendo derrotado o Santos usando o “jogo bonito”, Pep declarou que o futebol que fazia no Barça, valorizando o passe e a posse de bola, ele tinha ouvido de seu avô, que era o futebol do Brasil de anos atrás.

Fiquei com isto na cabeça e, ao conhecer Pere Guardiola, em Barcelona, meses depois, comentei de meu sonho de ter Pep como treinador da Seleção, o que poderia inspirar toda uma mudança de filosofia no futebol no nosso país. Também queria contratar o catalão para uma palestra no Brasil sobre seus métodos e visão do futebol moderno.

No dia da demissão de Mano e da oferta de Guardiola para treinar o Brasil, seu irmão me pediu sigilo e disse que eu só poderia revelar a fonte ao próprio presidente da CBF, José Maria Marín. Saí a campo e tentei falar com o dirigente. Consegui falar, por telefone, quebrando um gelo de muitos anos em que não mantive nenhum contato com cartolas da CBF. A causa era justa, valia à pena militar.

Expliquei a Marín o acontecido, argumentei que era a sorte grande, dadas as credenciais e o caráter de Pep, podendo ele ser o eixo de uma revolução no nosso fut, rumo ao passado, quando nosso jogo era mais bonito e mais competitivo. Ele me confidenciou seu receio de contratar um estrangeiro para a Seleção. Fiquei frustrado (mais uma vez) pois esperava seu entusiasmo com a oportunidade, ainda mais depois das enquetes todas a favor.

Depois desta conversa, publiquei uma carta aberta ao presidente Marín (confira aqui a carta aberta, na íntegra). E as ideias expressas ali, em defesa da mudança, foram apoiadas por milhares de internautas num fórum de discussão aberto no L!Net, em mais uma demonstração da força do nome.

No dia 29, no entanto, de ouvidos fechados ao clamor do torcedor e à opinião do Brasil, Marín e Marco Polo anunciaram que Felipão e Parreira estavam de volta ao comando da Seleção. Seriam os comandantes do hexa. Deu no que deu!. Ou eles mudam algo ou temos que tirar esta gente do comando da nossa paixão!

Cai-cai e faltosa
Me envergonha o Brasil ter se tornado a seleção que mais tenta simular faltas. E das mais faltosas. Ficou manjado, a ponto de que mesmo em alguns lances duvidosos os juízes, que já estão preparados pelos vídeos que assistem, não hesitarem em apitar contra a Amarelinha. Que fase!

Amarelinha perde fãs
Um amigo espanhol me contou que constatou uma enorme perda de simpatia pela Seleção nesta Copa. Tanto na Espanha quanto no México, onde ele assistiu à derrota para a Alemanha, observou torcida contra a nossa camisa, outrora a segunda opção de praticamente o mundo todo. Este jogo que temos jogado não tem nada de bonito!

Jogadores precisam refletir
Os jogadores não são os maiores culpados pelo fiasco. Os mais jovens, que devem ter a ambição de voltar a ganhar títulos pelo Brasil, precisam refletir sobre falhas individuais e coletivas. Têm a chance de amadurecer com as derrotas e frustrações.

Um dos que eu mais gosto deste grupo, David Luiz, apesar da grande entrega e do importante gol contra a Colômbia, se comporta como salvador da pátria e abandona a tática. E errou em muitos lances, sendo o 1 gol da Alemanha e o 2 da Holanda suas falhas mais decisivas!