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Conheça o Valdívia que é avesso a polêmica, não dá chute no 'vácuo' e foi balconista

Por Redação com ESPN Uol 21/02/2016 11h11
Conheça o Valdívia que é avesso a polêmica, não dá chute no 'vácuo' e foi balconista
Valdivia chegou no ano passado ao Cruzeiro , mas foi emprestado

Um dos grandes destaques do Náutico no começo desta temporada é conhecido como Valdívia, mas se engana quem pensa que se trata do chileno que passou pelo Palmeiras e foi campeão da Copa América de 2015. Apesar de gostar de driblar os adversários como o "Mago" original, fora de campo ele tem um estilo muito diferente.

Caique Valdivia é um cara caseiro, não gosta de confusão e foi balconista de uma loja. Mesmo assim, nunca mais abandonou o apelido do xará famoso.

"Quando cheguei na base do ASA, ele estava arrebentando no Palmeiras. Como eu era magro, cabeludo e habilidoso já me chamaram assim na hora. Como não queria ser apelidado assim, no dia seguinte cortei o cabelo com máquina, ralinho mesmo. Só que aí o técnico me chamou de Valdívia e aí não teve mais jeito", disse o jogador, em entrevista ao ESPN.com.br.

A história se espalhou tão rapidamente que chegou até mesmo a casa de Caique Ferreira da Silva Leite, em Arapiraca, para desgosto da família.

Os amigos iam a minha casa e perguntavam: Cadê o Valdívia? Minha mãe retrucava: 'O nome dele é Caíque'. Meus pais falavam: 'Meu filho, seu nome é tão bonito, demos com o maior carinho, mas só te chamam assim'. Ela ficava chateada com isso (risos). Pedia pra eu ser chamado de Caique, só que não tinha jeito porque o Valdívia vinha junto (risos)", afirmou.

O atleta conta que já tentou de tudo para não ter o nome do ex-camisa 10 palmeirense. "Já deixei barba crescer, cortei o cabelo e nada. Até quando joguei na Coreia do Sul era Valdívia", relatou.

Quando foi contratado pelo Cruzeiro, ele ainda tentou ser conhecido pelo nome de batismo.

"Me apresentava pra todo mundo no clube assim: 'Prazer, meu nome é Caique'. Só que o Dedé chegou e falou: 'E aí Valdívia, beleza?' Daí já era. Mas é tranquilo, porque agora o Caique vem junto, me conhecem pelo nome também, e minha mãe fica feliz (risos)

Dentro de campo, ambos têm algumas semelhanças. "Nós gostamos de driblar, dar passes. Eu tenho um pouco mais de velocidade, antes jogava mais centralizado agora também jogo aberto", analisou.

O jovem de 23 anos não costuma usar uma das marcas registradas do chileno que é ídolo do Colo Colo-CHI.

"Eu não consigo dar o chute no 'vácuo' que nem ele, meu negócio é mais ‘canetinha' e chapéu, curto pedalar pra cima da zaga. Agora estou investindo na ‘foquinha', será meu próximo drible (risos). Eu acertei isso no primeiro jogo do pernambucano e ganhamos de 2 a 0", recordou

No clássico contra o Santa Cruz, ele acertou um chapéu em um jogador coral e completou com a jogada inventada por Kerlon (ex-Cruzeiro). Depois disso, recebeu uma falta de João Paulo e Alemão, que o prensaram. "Uso os dribles como recurso, não menosprezo ninguém, uso qualquer forma pra passar pelo adversário e tentar fazer o gol, sempre objetivo", garantiu.

Outro craque com passagem pelo Palestra Itália e pela Espanha faz a cabeça do meia. "Eu gosto de olhar os dribles do Djalminha na internet. Até quando ele está no showbol gosto de ver, é muita habilidade. Eu sei que tenho muito pra evoluir no futebol ainda", admitiu.

Caique também faz questão de dizer que fora dos gramados faz um tipo mais sossegado. "Sou bem tranquilo, não sou de balada, nunca curti muita polêmica também. Sou evangélico, bem caseiro mesmo. Estou casado há dois anos", relatou.

Ele foi um balconista ‘tranquilão'

Caique nasceu no Rio de Janeiro, mas é de uma família de alagoanos que ficou mais de 20 anos trabalhando na Cidade Maravilhosa. Ele começou no futebol nas categorias de base do Madureira, ao lado de Allan, hoje no Napoli-ITA. Seus pais tinham objetivo de voltarem a terra natal e adiantaram a viagem após uma tragédia familiar.

"Quando eu tinha 16 anos, meu irmão de nove anos morreu por causa de um coágulo no cérebro. Em dezembro de 2007 fomos para Alagoas. Eles juntavam dinheiro no Rio e investiam tudo em Arapiraca. Compraram casa e montaram uma loja de material de construção", relatou.

Quando foi para a terra natal de seus ancestrais parou com o futebol. "Nesse período ajudava na loja. Fazia de tudo um pouco lá, cuidava de atender os clientes, ficava no caixa, mas também carregava cimento, areia e tijolo. Não é nada fácil (risos)", disse.

Caique não gostava muito do serviço e sempre que podia ia para os campos. "Eu queria jogar bola logo e meu pai mandava eu fazer as entregas de tijolo e areia. Uma vez queria jogar 'pelada' e fiz entrega numa casa errada", prosseguiu.

"A mulher ligou na loja: 'Cadê meu material?'. O problema é que tivemos que ir até o lugar, recolher tudo e fazer a obra toda de noite e nem água tinha. Tomei uma bronca do meu pai, porque tirar areia dos locais é muito difícil", recordou.

Por se destacar na cidade, foi chamado para integrar as categorias de base do ASA. Foi aos poucos conquistando espaço e promovido ao time profissional pelo treinador Vica, em 2012.

No ano seguinte, fez um dos jogos mais importantes de sua carreira, contra o Flamengo pela Copa do Brasil. Ele deu um passe para gol na derrota por 2 a 1. "Foi especial porque nasci no Rio de janeiro e sonhava em jogar no Maracanã", vibrou.

Tratado como uma das maiores joias do time de Arapiraca, Caique passou pelo Seongnam, da Coreia do Sul, antes de retornar ao ASA e ser comprado pelo Cruzeiro, em 2015. No time mineiro foi emprestado para o Paysandu para ganhar mais experiência antes de desembarcar no Náutico.

"Tenho objetivo de ser campeão aqui, conquistar a Série B do Brasileiro para ter um ano bom ano para voltar ao Cruzeiro. Se conseguir me firmar por aqui, quero buscar vôos maiores, sonho em um dia chegar até mesmo à seleção brasileira", projetou.

Se tudo isso acontecer, ele poderá reencontrar o cara que deu origem ao seu apelido em um duelo contra o Chile. Se isso acontecr, terá grande chances de ter muita magia nos campos.

"Em 2013 jogamos contra o Palmeiras pela Série B do Brasileiro, mas fiquei no banco de reservas. Não cheguei a conversar com ele, infelizmente. Podia ter trocado a camisa, ou ter dado uma canetinha ou um chapéu nele, já pensou? Ia ser bacana (risos)", provocou.