Polícia

Cientistas desenvolvem técnica de vacina em forma de adesivo

Serão eliminados riscos de infecção e despesas com refrigeração  

12/02/2013 10h10
Cientistas desenvolvem técnica de vacina em forma de adesivo
Cientistas desenvolveram uma técnica que promete acabar com o uso de agulhas para vacinas com vírus vivo — como as da caxumba, do sarampo e da febre amarela — além de eliminar riscos de infecção e despesas com refrigeração do produto, dois problemas comuns em países mais pobres.

A nova tecnologia, testada com eficácia em camundongos, consiste em desidratar o princípio ativo da vacina e armazená-la em cristais de açúcar. Depositada em um adesivo que se parece com um pequeno curativo, a sacarose é moldada para formar milhares de agulhas microscópicas, indolores, que fizeram a pele das cobaias absorverem a vacina em cinco minutos.

O estudo, desenvolvido pela King’s College, de Londres, revelou também que um grupo de células distribuídas na pele, as células dendríticas, são, sim, capazes de funcionar como a ignição da resposta imunológica do corpo. Para que uma vacina tenha efeito é necessário que o organismo reconheça o agressor (no caso, a forma atenuada do vírus), e esse papel foi bem desempenhado pelas células dendríticas. A partir do identificação do inimigo é que o sistema imunológico produz o anticorpo que cria proteção para a doença.

As possibilidades de aplicação da técnica são enormes. Encontramos uma forma de estabilizar o conteúdo da vacina viva de modo que não seja necessária refrigeração. Não precisa tampouco de treinamento de agentes de saúde para a aplicação. A técnica pode causar impacto também no tratamento de doenças autoimunes e diabetes— descreve Linda Klavinskis, do Departamento de Imunologia da universidade.

Teste em humanos

A pesquisadora explica que o teste feito em camundongos foi bem sucedido para o adesivo, que continha uma forma atenuada viva de adenovírus. A escolha do tipo de vírus não foi em vão. Foi a partir de uma modificação da estrutura molecular do adenovírus humano que cientistas conseguiram chegar mais perto de uma vacina contra o vírus da Aids. A crença de Linda é que o adesivo de açúcar, se tiver sucesso no teste em humanos, possa ser usado em futuras vacinas contra o HIV, a malária, e todo o grupo de vacinas que usam vírus vivo atenuado. A expressão vírus vivo gera controvérsias, pois vírus não pode ser considerado ser vivo, mas para explicar este tipo de vacina, ganha este nome aquele vírus que pode se replicar em uma célula do corpo. As vacinas inativadas, como a da raiva, são chamadas assim porque o vírus não se replica.

O vice-diretor de Desenvolvimento Tecnológico da Bio-Manguinhos — braço da Fiocruz com reconhecimento na produção de vacinas —, Marcos Freire, explica que o desenvolvimento de uma vacina sem agulhas e com resistência à temperatura ambiente é um antigo desejo da indústria:

Neste caso, um teste feito com adenovírus pode servir para tentar provar que a tecnologia pode ser usada também em vacinas recombinantes, que é um caminho usado para o desenvolvimento de futuras vacinas.