Mundo
Herdeiro de Chávez enfrenta desafios em meio às forças armadas
30/03/2013 12h12
As multidões de camisa vermelha com punhos fechados levantados para o céu – uma imagem predominante do movimento político que o presidente Hugo Chávez deixou atrás de si – transmitem a sensação de seguidores unidos e leais ao pai de sua revolução e do herdeiro indicado, Nicolás Maduro.
Porém, abaixo da superfície, o conjunto de facções com que Maduro tem de lutar parece desencorajador, das células armadas radicadas nas favelas da cidade e dos burocratas privilegiados com fortes laços com Cuba, grande aliado da Venezuela, e possivelmente o mais poderoso grupo a favor de Chávez: militares graduados cujo domínio sobre o país recebeu um apoio considerável do líder falecido.
Dos 20 Estados venezuelanos controlados por governadores do Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV), criado por Chávez para solidificar seu movimento, 11 são comandos por ex-militares. Quase um quarto dos ministros do governo de Maduro, herdado de Chávez, provém das forças armadas. Figuras militares poderosas continuam no leme de estatais como a Corporación Venezolana de Guayana, grande conglomerado envolvido em mineração de ouro e produção de alumínio.
A influência das forças armadas, incluindo uma milícia que contaria com mais de 120 mil integrantes, reflete os esforços de Chávez, ex-militar que liderou um golpe de estado fracassado em 1992, e impregna a sociedade com ideais militares. Ao mesmo tempo, ele tolerou esquemas de enriquecimento ilícito dentro das forças armadas, chegando a se encolerizar com a censura internacional a generais poderosos acusados de envolvimento no tráfico de drogas quando os indicou a postos importantes.
'Nem mesmo Chávez era capaz de governar sem sondagens constantes do cenário militar em busca de sinais de resistência, punindo periodicamente e fazendo expurgos nas altas patentes enquanto recompensava outros', afirmou Rocío San Miguel, pesquisadora jurídica que chefia uma organização voltada à monitoração de questões de segurança na Venezuela.
Ao contrário do antecessor, Maduro, agora o presidente interino e candidato na eleição presidencial especial marcada para abril, nunca foi militar. Ele era sindicalista e legislador antes de atuar durante anos como ministro do exterior de Chávez, a mando de quem percorreu o mundo. (No pleito, ele enfrentará Henrique Capriles Radonski, governador e ex-candidato à presidência que aceitou a indicação da coalizão oposicionista.)
Os analistas de segurança daqui não preveem um desafio clássico a Maduro por parte das forças armadas, no sentido de oficiais não reconhecerem publicamente sua autoridade ou tramarem sua deposição.
Na verdade, num gesto que gerou críticas dos líderes da oposição segundo os quais a constituição impede as forças armadas de tomarem partido em campanhas políticas, alguns dos principais militares do governo, como o ministro da Defesa, Diego Molero Bellavia, já deram apoio explícito a Maduro conclamando os eleitores a 'darem uma bela surra naqueles fascistas' da oposição.
O presidente da Assembleia Nacional, Diosdado Cabello, ex-militar que participou da tentativa de golpe liderada por Chávez em 1992, também pediu apoio a Maduro. Uma das figuras mais poderosas do movimento político de Chávez e contando com amplo apoio do exército, Cabello é muitas vezes visto como rival potencial de Maduro.
Ainda assim, não faltam armadilhas para Maduro em seu relacionamento com um sistema militar maculado por escândalos e críticas de outras facções favoráveis a Chávez. Por exemplo, o Tesouro dos Estados Unidos acusou dois militares importantes, Henry Rangel Silva, ex-chefe da agência de inteligência da Venezuela, e Hugo Carvajal, ex-diretor da diretoria de inteligência militar, de ajudarem as atividades de traficantes de drogas do maior exército guerrilheiro da América Latina, as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC).
Ano passado, Chávez nomeou Rangel ministro da Defesa, posto ocupado por ele antes de ser eleito governador do Estado de Trujillo, enquanto Carvajal foi indicado diretor da agência venezuelana de combate ao crime organizado. Ramón Rodríguez Chacín, outro ex-oficial acusado de ajudar as FARC na compra de armas com lucros dos narcóticos, agora governa o Estado de Guarico.
A Venezuela se tornou um dos maiores pontos de baldeação da cocaína contrabandeada para os EUA, e um traficante preso, Walid Makled Garcia, afirmou que sua rede foi viabilizada graças à cooperação de vários ex-generais, incluindo Luis Felipe Acosta Carlez, figura política do Estado de Carabobo.
Também existem tensões envenenando o espírito entre líderes militares e grupos favoráveis a Chávez, para quem alguns integrantes das forças armadas estão excedendo a autoridade, acumulando fortunas de forma ilícita ou simplesmente atuando como gerentes incompetentes.
Em fevereiro, grupos indígenas do sul da Venezuela exigiram a demissão de um general importante, Clíver Alcalá Cordones, acusado de pertencer à ala da 'burguesia reacionária de extrema direita' das forças armadas depois que soldados sob seu comando começaram a limitar a exploração de ouro em algumas áreas.
E em Ciudad Guayana, cidade industrial criada por urbanistas do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) e da Universidade de Harvard na década de 1960, Rafael Gil Barrios, ex-militar que preside o gigantesco conglomerado estatal instalado ali, tem enfrentado greves neste ano, sublinhando a incapacidade das estatais operarem com eficiência e resolverem a escassez de produtos básicos.
'Chávez era um mestre ao abranger interesses muito distintos e mantê-los unidos como o líder inconteste', afirmou Jennifer McCoy, diretora do programa para as Américas do Carter Center, em Atlanta. 'Maduro tem o temperamento para conversar com pessoas diferentes, e sabe ser bastante razoável e pragmático. Porém, ele necessitará de toda sua capacidade de negociação para administrar as ideias e interesses em conflito dentro do movimento.'
Chávez vivia monitorando as forças armadas em busca de sinais de dissidência, separando centenas de oficiais cuja lealdade era considerada questionável, demitindo ministros da Defesa e prendendo oficiais de alta patente suspeitos de conspirar para depô-lo.
Raúl Isaías Baduel, ex-chefe do exército, que ajudou a levar Chávez de volta ao poder após um golpe rápido, rompeu com ele em 2007. Ele foi preso em 2009, acusado de corrupção. Segundo Baduel, as acusações são uma retaliação pelas críticas a Chávez, e ele continua preso até hoje.
Decifrar mais mudanças de lealdade dentro das forças armadas é uma obsessão de algumas pessoas daqui que tentam entender o que vai acontecer.
'Os militares escolheram o melhor lado para eles', afirmou Carlos Diz, 51 anos, técnico em aviação. 'Eles podem declarar apoio a Maduro e talvez nada acontecerá agora, mas não podem estar satisfeitos com um civil no poder após 14 anos de Chávez.'
The New York Times News Service/Syndicate – Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times.
Porém, abaixo da superfície, o conjunto de facções com que Maduro tem de lutar parece desencorajador, das células armadas radicadas nas favelas da cidade e dos burocratas privilegiados com fortes laços com Cuba, grande aliado da Venezuela, e possivelmente o mais poderoso grupo a favor de Chávez: militares graduados cujo domínio sobre o país recebeu um apoio considerável do líder falecido.
Dos 20 Estados venezuelanos controlados por governadores do Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV), criado por Chávez para solidificar seu movimento, 11 são comandos por ex-militares. Quase um quarto dos ministros do governo de Maduro, herdado de Chávez, provém das forças armadas. Figuras militares poderosas continuam no leme de estatais como a Corporación Venezolana de Guayana, grande conglomerado envolvido em mineração de ouro e produção de alumínio.
A influência das forças armadas, incluindo uma milícia que contaria com mais de 120 mil integrantes, reflete os esforços de Chávez, ex-militar que liderou um golpe de estado fracassado em 1992, e impregna a sociedade com ideais militares. Ao mesmo tempo, ele tolerou esquemas de enriquecimento ilícito dentro das forças armadas, chegando a se encolerizar com a censura internacional a generais poderosos acusados de envolvimento no tráfico de drogas quando os indicou a postos importantes.
'Nem mesmo Chávez era capaz de governar sem sondagens constantes do cenário militar em busca de sinais de resistência, punindo periodicamente e fazendo expurgos nas altas patentes enquanto recompensava outros', afirmou Rocío San Miguel, pesquisadora jurídica que chefia uma organização voltada à monitoração de questões de segurança na Venezuela.
Ao contrário do antecessor, Maduro, agora o presidente interino e candidato na eleição presidencial especial marcada para abril, nunca foi militar. Ele era sindicalista e legislador antes de atuar durante anos como ministro do exterior de Chávez, a mando de quem percorreu o mundo. (No pleito, ele enfrentará Henrique Capriles Radonski, governador e ex-candidato à presidência que aceitou a indicação da coalizão oposicionista.)
Os analistas de segurança daqui não preveem um desafio clássico a Maduro por parte das forças armadas, no sentido de oficiais não reconhecerem publicamente sua autoridade ou tramarem sua deposição.
Na verdade, num gesto que gerou críticas dos líderes da oposição segundo os quais a constituição impede as forças armadas de tomarem partido em campanhas políticas, alguns dos principais militares do governo, como o ministro da Defesa, Diego Molero Bellavia, já deram apoio explícito a Maduro conclamando os eleitores a 'darem uma bela surra naqueles fascistas' da oposição.
O presidente da Assembleia Nacional, Diosdado Cabello, ex-militar que participou da tentativa de golpe liderada por Chávez em 1992, também pediu apoio a Maduro. Uma das figuras mais poderosas do movimento político de Chávez e contando com amplo apoio do exército, Cabello é muitas vezes visto como rival potencial de Maduro.
Ainda assim, não faltam armadilhas para Maduro em seu relacionamento com um sistema militar maculado por escândalos e críticas de outras facções favoráveis a Chávez. Por exemplo, o Tesouro dos Estados Unidos acusou dois militares importantes, Henry Rangel Silva, ex-chefe da agência de inteligência da Venezuela, e Hugo Carvajal, ex-diretor da diretoria de inteligência militar, de ajudarem as atividades de traficantes de drogas do maior exército guerrilheiro da América Latina, as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC).
Ano passado, Chávez nomeou Rangel ministro da Defesa, posto ocupado por ele antes de ser eleito governador do Estado de Trujillo, enquanto Carvajal foi indicado diretor da agência venezuelana de combate ao crime organizado. Ramón Rodríguez Chacín, outro ex-oficial acusado de ajudar as FARC na compra de armas com lucros dos narcóticos, agora governa o Estado de Guarico.
A Venezuela se tornou um dos maiores pontos de baldeação da cocaína contrabandeada para os EUA, e um traficante preso, Walid Makled Garcia, afirmou que sua rede foi viabilizada graças à cooperação de vários ex-generais, incluindo Luis Felipe Acosta Carlez, figura política do Estado de Carabobo.
Também existem tensões envenenando o espírito entre líderes militares e grupos favoráveis a Chávez, para quem alguns integrantes das forças armadas estão excedendo a autoridade, acumulando fortunas de forma ilícita ou simplesmente atuando como gerentes incompetentes.
Em fevereiro, grupos indígenas do sul da Venezuela exigiram a demissão de um general importante, Clíver Alcalá Cordones, acusado de pertencer à ala da 'burguesia reacionária de extrema direita' das forças armadas depois que soldados sob seu comando começaram a limitar a exploração de ouro em algumas áreas.
E em Ciudad Guayana, cidade industrial criada por urbanistas do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) e da Universidade de Harvard na década de 1960, Rafael Gil Barrios, ex-militar que preside o gigantesco conglomerado estatal instalado ali, tem enfrentado greves neste ano, sublinhando a incapacidade das estatais operarem com eficiência e resolverem a escassez de produtos básicos.
'Chávez era um mestre ao abranger interesses muito distintos e mantê-los unidos como o líder inconteste', afirmou Jennifer McCoy, diretora do programa para as Américas do Carter Center, em Atlanta. 'Maduro tem o temperamento para conversar com pessoas diferentes, e sabe ser bastante razoável e pragmático. Porém, ele necessitará de toda sua capacidade de negociação para administrar as ideias e interesses em conflito dentro do movimento.'
Chávez vivia monitorando as forças armadas em busca de sinais de dissidência, separando centenas de oficiais cuja lealdade era considerada questionável, demitindo ministros da Defesa e prendendo oficiais de alta patente suspeitos de conspirar para depô-lo.
Raúl Isaías Baduel, ex-chefe do exército, que ajudou a levar Chávez de volta ao poder após um golpe rápido, rompeu com ele em 2007. Ele foi preso em 2009, acusado de corrupção. Segundo Baduel, as acusações são uma retaliação pelas críticas a Chávez, e ele continua preso até hoje.
Decifrar mais mudanças de lealdade dentro das forças armadas é uma obsessão de algumas pessoas daqui que tentam entender o que vai acontecer.
'Os militares escolheram o melhor lado para eles', afirmou Carlos Diz, 51 anos, técnico em aviação. 'Eles podem declarar apoio a Maduro e talvez nada acontecerá agora, mas não podem estar satisfeitos com um civil no poder após 14 anos de Chávez.'
The New York Times News Service/Syndicate – Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times.
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