Alagoas

Pesquisadores da Ufal relatam benefícios da cafeína para atletas de judô

 

Por Assessoria 13/08/2013 21h09
Pesquisadores da Ufal relatam benefícios da cafeína para atletas de judô
Assessoria
O Grupo de Pesquisa em Ciências do Esporte (GPCE) da Universidade Federal de Alagoas tem desvendado o papel da suplementação de cafeína no desempenho de atletas de diversas áreas. Estudo inédito realizado com atletas da seleção alagoana de judô analisou os benefícios da substância após período de perda de peso. Os dados revelam a importância de acompanhamento nutricional adequado para os judocas que sofrem desgaste físico antes da competição, devido ao processo de desidratação.

A pesquisa foi coordenada por João Paulo Lopes, mestrando em Nutrição. Um histórico de quem conhece na teoria e na prática os desafios do esporte revela o interesse de João Paulo – graduado em Educação Física pela Ufal e faixa preta de judô – pelos estudos com judocas.

Nas competições de judô, os atletas são classificados em categorias de peso. Em muitos casos, os judocas são submetidos a dietas rigorosas para diminuição da massa corporal, cerca de cinco dias antes das lutas. A prática ocasiona forte redução de peso em curto período de tempo e acarreta em desidratação. Segundo João Paulo, essa redução na massa corporal interfere negativamente no desempenho e na saúde do atleta.

Sob orientação do professor Adriano Eduardo Lima, a pesquisa teve como objetivo avaliar o efeito da cafeína após um período de perda de peso. “Já que a redução da massa corporal está sendo relacionada à queda do desempenho, nós verificamos se, com a associação da cafeína após esse período, haveria uma melhora no desempenho do judoca”, destacou João Paulo.

A pesquisa

Em parceria com a Federação Alagoana de Judô (Faju), o pesquisador analisou oito atletas da seleção alagoana, que foram submetidos a quatro avaliações. “Na primeira etapa, foram avaliados o peso, o percentual de gordura e o desempenho do judoca, por meio do Special Judo Fitness Test (SJFT). Depois, os atletas tiveram cinco dias para perder 5% do peso. Nesse período, a ingestão alimentar foi livre, mas toda a alimentação foi registrada”, explicou João Paulo.

De acordo com o pesquisador, o SJFT é utilizado para avaliar o desempenho de atletas de judô. A avaliação engloba três períodos, sendo um de 15s e dois de 30s, com intervalo de 10s entre eles. No teste, é contabilizado o número de vezes que o judoca consegue arremessar o oponente com a técnica ippon-seoi-nague, durante as três etapas.

Após os cinco dias de dieta, os atletas da seleção alagoana de judô foram submetidos a novas avaliações. Depois da pesagem, eles tiveram 3h de recuperação. Nesse período, os judocas puderam comer livremente. “Ao final dessa etapa, nós suplementamos os atletas com cafeína ou placebo [elemento sem efeitos]. Eu e os atletas não sabíamos se eles estavam ingerindo um ou outro suplemento, para não haver interferência nos resultados. Só depois de 1h de ingestão da cafeína, período em que há pico de concentração da substância, nós aplicamos novos testes”, salientou o pesquisador.

Após quinze dias de recuperação, os atletas repetiram os mesmos procedimentos realizados durante a primeira sessão experimental. Segundo João Paulo, a dieta anterior teve que ser reaplicada no novo processo de perda de peso.

Resultados

João Paulo Lopes revelou que os resultados não apresentaram melhorias no desempenho dos atletas de judô após a ingestão de cafeína. O consumo da substância não acarretou em aumento no número de arremessos realizados no SJFT. No entanto, o pesquisador descobriu outros benefícios do complemento alimentar na atuação dos judocas.

“A cafeína não melhora o desempenho dos atletas, mas diminui a percepção subjetiva de esforço. Nos testes, eles precisavam destacar nível de esforço [de fácil a muito exaustivo]. Quando os atletas ingeriram a cafeína, houve uma redução na percepção subjetiva de esforço. Ou seja, o número de arremessos permaneceu estável, mas os atletas se sentiram menos cansados”, ressaltou João Paulo.

Para o professor Adriano Eduardo Lima, o saldo da pesquisa é positivo e possibilita novas informações para uma área ainda pouco estudada. “As artes marciais são carentes de pesquisa. Nesse último estudo, abordamos um tema prático, cujo intuito foi procurar um mecanismo para aumentar o desempenho dos atletas, já que há uma perda dele quando emagrecem”, avaliou.

Parceria com a Faju

Após os resultados, foi entregue relatório aos atletas e à direção da Faju. A parceria com a Federação Alagoana de Judô demonstra o compromisso dos pesquisadores com a comunidade em geral. “Nosso objetivo é fazer com que o trabalho saia dos muros da universidade, tenha aplicação prática e chegue até a população”, refletiu João Paulo.

O presidente da Faju, Nilson Gama, também destacou a importância da parceria com a Ufal. Para Gama, a academia só tem a contribuir com os esforços da seleção alagoana de judô. “A pesquisa é muito importante porque, aqui, estão reunidos os principais atletas de judô de Alagoas. Quanto mais elementos facilitem o desempenho dos nossos atletas, melhor será para a gente! Além disso, qualquer parceria que venha da Ufal tem credibilidade”, reforçou.

Rodrigo Lopes, um dos atletas analisados na pesquisa, também reconheceu as vantagens da pesquisa. “Todo incentivo é válido. Eu peso 73kg e, em época de competição, tenho que pesar 66kg. A gente sente muito os impactos do emagrecimento. Eu fico mal-humorado, minha pele resseca... Enfim, é um processo desgastante. Então, tudo que vem para somar é visto com bons olhos”, destacou o faixa preta.

A parceria entre as duas instituições deve prosseguir. Nos próximos meses, novos estudos serão feitos com atletas da Faju. Dessa vez, o trabalho será desenvolvido por Leandro Felippe, outro mestrando em Nutrição. A pesquisa irá analisar os efeitos da cafeína associada ao bicarbonato de sódio.

“A literatura demonstra que os dois elementos têm forte influência no desempenho dos atletas. Meu objetivo é verificar se o consumo combinado dos dois suplementos oferece benefício superior ao da ingestão isolada de um deles”, explicou Leandro Felippe.

Além do SJFT, essa nova pesquisa também envolve teste de força muscular. Na avaliação da força, o atleta segura um tecido idêntico ao do kimono e faz simulações de movimentos do judô. A previsão é de que a pesquisa comece neste mês e analise quinze atletas.