Prévia do Carnaval, Folia de Rua encanta e diverte várias gerações em Arapiraca
Mal o dia amanheceu e eles estão com toda energia. São jovens, a maioria estudantes, que invadem as ruas de Arapiraca, com instrumentos musicais e muita cantoria. Eles querem se divertir e aproveitar cada dia de carnaval como se fosse o último da vida de cada um. Essa cena era normal na década de 1970, na capital do Agreste alagoano. Quarenta anos depois, tem gente que lembra desse tempo com muita nostalgia e boas histórias.
É o caso do economista e artista plástico Cícero Brito, de 58 anos. Ele fazia parte do bloco Zum Zum, que junto com o Chu Kun e o Tengo Tengo, conduzia a folia na Terra de Manoel André. “Saíamos às 9 horas e só voltávamos às 18 horas, bebendo e tocando, sem parar e sem comer”, relembra Cícero. Engana-se quem acredita que os foliões ficavam em casa à noite, depois da maratona diurna. Ele iam para um imóvel alugado, uma casa ou salão, onde descansavam um pouco, e saíam, logo depois, para o baile de Carnaval no Clube dos Fumicultores ou no Jeisy Clube (Ara Clube). Era muita disposição, sem usar nenhuma droga ilegal. Só com bebida alcoólica.
Nos blocos, todos se conheciam: eram amigos, irmãos, primos, namorados. Não havia brigas, nem violência. Cícero recorda que, quando os blocos passavam pelas casas, algumas famílias faziam questão que eles entrassem. Lá, eles passavam algum tempo tocando, bebendo e depois seguiam com a festa pelas ruas da cidade.
Cícero conta que o Zum Zum ainda durou mais de dez anos, tendo encerrado as atividades no final da década de 1970.
Mas a festa não se encerrava com a caminhada e o “bate-lata”. Tinha desfiles, premiação e até escola de samba na cidade. Além de tudo isso, os mais “maduros”, aqueles foliões com 40, 50 anos, também curtiam os dias de Momo ao som da Bandinha do Dedé, famoso grupo de pífanos da época. “Era muito animado”, diz um saudoso Cicero.
Já o sociólogo Antônio Sérgio Pinheiro era filho do Chu Kun. Ele também tem boas lembranças das prévias de carnaval com os amigos pelas ruas de Arapiraca. “A concentração era na Rua Curitiba, no Centro”, diz. Segundo Pinheiro, o Chu Kun era um pouco menor que o Zum Zum, mas a alegria era a mesma.
O Chu Kun encerrou as atividades em 1983. “Quando Severino Leão entrou na Prefeitura disse que não ia mais contribuir com o bloco”, diz Pinheiro. Como os membros eram, em sua maioria, estudantes, eles acabavam recebendo um incentivo do poder público municipal para comprar os instrumentos. Sem o dinheiro, o grupo se desfez.
Com o fim dos blocos, as famílias adotaram a tradição de ir para as praias durante todo o Carnaval. “O valor que o clube cobrava para o baile era alto e, por isso, as pessoas começaram a migrar para o litoral”, explica Sérgio.
Para Cícero, carnavais como aqueles da década de 1970 não são mais possíveis. "Eu não acredito mais em carnaval assim", lamenta.
Resgate
Na noite desta sexta-feira (14), a Prefeitura de Arapiraca entregou as chaves da cidade ao Rei Momo. Foi dada a largada para uma tentativa de resgatar aquela alegria autêntica, por meio do projeto Folia de Rua.
Quem quiser sentir um pouco a emoção de dançar, pular, brincar e namorar pelas vias de Arapiraca pode curtir os blocos de rua, a partir das 15 horas, com concentração na Avenida Ventura Farias, no bairro Baixão. Serão 15 blocos diferentes para quem curte cair na folia e melhor: de graça.
A programação completa está disponível no site da Prefeitura: http://www.arapiraca.al.gov.br.