Agreste

Literatura alagoana: roteiro sentimental pela terra de Graciliano Ramos

Por Agência Alagoas 28/07/2014 11h11
Literatura alagoana: roteiro sentimental pela terra de Graciliano Ramos

Apesar de não ter nascido em Palmeira dos Índios, foi nesta cidade que Graciliano Ramos, natural de Quebrangulo, viveu a maior parte do tempo em que esteve em Alagoas, entre 1910 e 1932. A paixão pela cidade é retratada em diversas obras do escritor, como Caetés (1933), São Bernardo (1934) e Vidas Secas (1938). Essa trajetória inspirou o livro Roteiro Sentimental de Ivan Barros, autor de três títulos sobre o Mestre Graça.

Na ausência de contemporâneos, Ivan é a única voz que pode falar com propriedade sobre o assunto, graças aos seus anos de investigação sobre a vida e a obra de Graciliano. De acordo com o autor de Roteiro Sentimental, após pouco mais de 60 anos da morte do célebre escritor alagoano, alguns raros locais românticos e encantadores resistem e retratam as trilhas da vida e obra de Mestre Graça pelo Agreste alagoano.

“Infelizmente, a população local pouco sabe a respeito do seu conterrâneo mais ilustre. Nem mesmo as crianças da escola que carrega seu nome”, lamenta Ivan Barros.

Ao entrar na cidade, um busto com o rosto de Graciliano – já desbotado pelo tempo e pela falta de manutenção – dá as boas-vindas a quem passa pelo acesso. No Centro, a casa onde o escritor viveu está intacta. O prédio passou por restaurações e se tornou a Casa Museu Graciliano Ramos, em 1973. Graças a doações, feitas principalmente pela segunda esposa do escritor, Heloísa Ramos, o museu guarda quase 2 mil peças, entre objetos pessoais, fotografias, documentos e obras originais.

O visitante pode conferir, entre os itens mais especiais, a primeira edição do livro São Bernardo, dedicada ao padre José Leite, pároco que o abrigou na Igreja Nossa Senhora do Amparo para que ele escrevesse os primeiros capítulos do seu segundo livro.

Também fazem parte do acervo a máquina de datilografia que pouco tinha utilidade, já que o escritor preferia escrever de próprio punho; o tinteiro de prata usado para escrever o romance Caetés; utensílios para barbear banhados em bronze; e a capa de livro feita em couro de jacaré, presenteada pelo escritor e amigo Jorge Amado. Nos armários, as roupas pessoais como terno e roupão.

Nas paredes, não faltam fotografias originais de família. Há retratos com a primeira esposa, Maria Augusta, que morreu no parto do quarto filho do casal; com a segunda companheira, Maria Helena; com os filhos e netos; em viagens a Portugal, à extinta União Soviética e à Tchecoslováquia em 1952. Uma tela do pintor Portinari retrata o rosto de Graciliano. Outras fotografias mostram o autor ao lado de personalidades literárias como Gabriel García Márquez.

Na Casa Museu estão também os relatórios originais das prestações de contas na época em que foi prefeito de Palmeira dos Índios. Graciliano, que foi eleito pela primeira vez em 1927 e exerceu o cargo por dois mandatos, é lembrado até hoje por ter substituído a linguagem burocrática pela literária, detalhando os fatos com ironia e sarcasmo.

Ao lado da prefeitura funcionava a loja de tecidos Sincera onde Graciliano e seu pai, Sebastião Ramos de Oliveira, trabalharam juntos por anos. Atualmente a loja já não existe mais. O prédio foi demolido e no local funciona outro estabelecimento comercial. Perto dali, ao redor do Colégio Pio XII, a pitombeira onde Graciliano conheceu sua segunda esposa, Heloísa, está intacta e ainda hoje inspira casais apaixonados.

O Hotel São Bernardo, que carrega o nome do segundo livro do Mestre Graça, é uma boa opção de hospedagem pela localização privilegiada para percorrer a rota e por proporcionar uma vista panorâmica da cidade, de onde é possível enxergar de longe grande parte do Roteiro Sentimental de Graciliano. A hospedagem, entretanto, pouco tem a ver com o escritor. A indicação do nome visou apenas atrair turistas.

Em Viventes das Alagoas (1962), Graciliano fala da saudade dos lugares e das pessoas com quem conviveu em Palmeira dos Índios. Não só o Mestre Graça sentia falta desse universo, mas todos que entraram em contato com sua obra, que imortalizou essas lembranças.