Nos 20 anos do 1º disco do Mamonas, empresário relembra relação com músicos
Há exatos 20 anos, no dia 23 de junho de 1995, chegava às lojas de discos o maior fenômeno de vendas do Brasil, o primeiro e único álbum de estúdio da banda Mamonas Assassinas. Duas décadas depois, o disco ainda detém o recorde de vendas mais rápido na história da música brasileira, com três milhões de cópias vendidas em menos de um ano.
A efêmera, porém meteórica, carreira da banda foi tragicamente interrompida no dia 2 de março de 1996, quase oito meses depois do estrondoso sucesso, após o avião do grupo cair e matar todos os integrantes na Serra da Cantareira, em São Paulo. Samy Elia, 48 anos, ex-empresário da banda, acompanhou de perto a ascensão dos meninos de Guarulhos. Até hoje ele guarda em seu escritório recortes de jornais, recibos de bilhetes aéreos, singles nunca lançados entre outras recordações daquele período.
"Éramos todos muito jovens. Eu tinha 28 anos. O Dinho quando morreu tinha apenas 24", lembra. Samy começou a trabalhar com a banda por indicação do produtor e amigo Rick Bonadio. "Cheguei ao estúdio para pegar umas gravações de outro músico que eu estava empresariando e o Rick pediu para escutar o som que a banda tinha acabado de gravar naquele dia", lembra. "Dias depois eles viajariam para Los Angeles para terminar o álbum por lá. Foi nessa época que eu os conheci".
Ao UOL, o produtor Rick Bonadio afirmou que as letras da banda são atemporais e que se surgissem hoje, fariam o mesmo sucesso. "Artistas desse tipo são fenômenos independente do momento. Eles vêm para quebrar a monotonia do mercado", disse Rick Bonadio. "As piadas são as mesmas entre a garotada e sempre serão. O espírito do Mamonas era esse. A essência da galera do fundão da sala de aula, isso nunca vai acabar. Sempre existirão os bagunceiros", completou.
Samy conta que cada pessoa da equipe ganhou um apelido. Rick Bonadio era o Creuzebek e ele era o Tio Gordo. No começo, o cachê do Mamonas era baixo. "Não passava de R$ 1500. Depois, eles se tornaram um dos grupos mais bem pagos do país, com cachê de R$ 80 mil", lembra. Antes, no entanto, Samy tinha conseguido agendar dois Bar Mitzvá para os Mamonas se apresentarem.
"Mas as datas eram no final do ano, quando a banda já tinha estourado. Ninguém sabia que eles iriam fazer sucesso tão rápido", lembrou. O sucesso não impediu o cancelamento do show e eles tiveram que cumprir o contrato para fazer o Bar Mitzvá - por apenas R$1500. "Por causa do sucesso, eles tiveram que entrar na festa vestidos de garçons para ninguém reconhecer", lembra.
Itens raros
Samy acompanhou também uma das primeiras apresentações do Mamonas após o lançamento do disco. Foi uma espécie de pocket show na sede da gravadora EMI, no Rio de Janeiro. "Depois que eles se apresentaram, nós ficamos na cobertura conversando quando 'Pelados em Santos' tocou na rádio. Foi muito emocionante", disse.
O ex-empresário revelou que o sucesso do Mamonas Assassinas com as crianças evitou também que as pessoas entendessem o duplo sentido do nome do grupo. "Mamonas não era sobre uma planta assassina e sim sobre uma mama grande, um peito grande, assassino", contou. "Por isso a capa do disco trazia o desenho de seios grandes".
Sem dúvida, o momento mais complicado da sua carreira - e também da vida - foi o acidente que matou os músicos. "Eu viajava em 70% dos voos com eles. Naquele dia eu não pude ir porque estava cuidando da minha banda de baile, a Samy's Band, que se apresentava no mesmo dia. Foi muito triste. Estava tudo pronto para viajarmos para Portugal para divulgar o álbum por lá e dar início à carreira internacional".
Em seu escritório, Samy guarda vários materiais da banda, tais como diversos recortes de jornais, centenas de fotografias, comprovantes de embarques, cartazes e três singles das músicas "Vira-Vira", "Robocop Gay" e "Pelado em Santos" que nunca foram lançados neste formato. "Não deu tempo. E nem precisou porque eles fizeram tanto sucesso que não foi necessário lançar os singles", disse. Samy guarda ainda dois rascunhos das letras das músicas "Desnudos em Cancún" e "Gira-Gira" em espanhol, que foram gravadas e lançadas em coletâneas póstumas da banda.