Aplicativo auxilia crianças surdas no aprendizado
Pensado para auxiliar na alfabetização de crianças surdas, o aplicativo Wyz é o primeiro jogo digital feito especialmente para ajudar na aprendizagem da língua portuguesa. Com apoio da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC/PR), pesquisadores desenvolveram a ferramenta para incrementar o vocabulário, a partir de imagens e figuras, que, quando ligadas da forma correta, ensinam algumas palavras ao usuário.
Sem domínio do português, Natã, de 12 anos, é uma das crianças que fazem do jogo uma forma divertida de aprender o idioma. Diariamente, ele imerge nas aventuras do viajante espacial Wyz para pegar as letras perdidas no planeta Z, formar palavras e superar os obstáculos. Com o tablet no colo, ligado no jogo Wyz, ele se agita, empolga e, principalmente, aprende.
A dona de casa Janete do Vale, mãe de Natã, contou que aprender português é complicado para um surdo e diz que a aprendizagem é uma batalha diária para ele. O filho nasceu com surdez profunda bilateral, que tirou a audição nos dois ouvidos. Segundo artigo publicado na Revista Brasileira de Otorrinolaringologia, a surdez profunda bilateral atinge um em cada grupo de 1.000 recém-nascidos. Natã é o único caso de deficiência auditiva na família Vale, ressalta.
“O aplicativo veio para ajudar no aprendizado de Natã. Muitas vezes, ele lê uma palavra, mas não a entende. Então, para explicar tem que ser por meio de figuras, como é feito no jogo, com auxílio também da intérprete. Natã consegue entender o que está sendo passado e o que ele precisa fazer no jogo”, acrescenta.
Segundo Janete, assim como o significado do nome do filho, o Wyz veio como um presente de Deus para o jovem Natã. Ela destacou que desde o início do contato com o aplicativo, o filho teve uma melhora muito boa.
A programadora Patricia Leite, de 29 anos, a designer Nicole Ribeiro, de 30, e o ilustrador Eduardo Stumpf, de 26, desenvolveram o aplicativo Wyz. Patricia afirmou que apesar de o foco principal do jogo ser auxiliar a criança a aumentar o vocabulário, há outras funções extras no game, como a aprendizagem de novos sinais da Língua Brasileira de Sinais (Libras) e a associação dos sinais com as palavras já conhecidas em português.
“A gente desenvolveu uma forma para que as palavras nunca fiquem isoladas durante o jogo. Todas as frases estão escritas em um contexto porque, para o surdo, as letras e palavras são desenhos, não existe associação sonora do desenho com o que a criança vê.” Em apoio à Lei nº 10.436/02, que garante o direito à educação bilíngue, o jogo é apresentado em libras e português.
Patrícia disse ainda que até o momento não há nenhuma comprovação científica dos impactos do aplicativo na aprendizagem da língua portuguesa por crianças. Segundo ela, essa pesquisa deve ser feita quando a programadora iniciar o mestrado, em 2016. “A ideia para a pesquisa é normalizar a amostra com relação à parte pedagógica”, enfatizou.
De acordo com a pedagoga Sueli Fernandes, especialista em educação de surdos, os deficientes auditivos têm dificuldades em aprender a língua portuguesa, principalmente pela falta de profissionais bilíngues e pelo atraso na aprendizagem da língua de sinais, porque ela só é ensinada, em muitos casos, quando a criança vai para a escola. Diretora do Departamento de Ensino Básico do Instituto Nacional de Educação de Surdos, Amanda Ribeiro diz que o desafio está no desenvolvimento de estratégias pedagógicas específicas para esse público.
Segundo ela, “não se pode utilizar o mesmo material pedagógico que utilizamos com ouvintes. Tampouco podemos esperar que apenas apresentando uma série de palavras, sem contextualização, o aluno tenha como internalizá-las e incorporar ao seu vocabulário. Toda língua é um fato social, e faz-se necessário apresentar o texto vinculado ao contexto de sua produção, com auxílio de vídeos, imagens, ou mesmo em sua forma concreta”.
A Pesquisa Nacional de Saúde 2013 estimou que cerca de 800 mil brasileiros até 17 anos tinham deficiência auditiva à época.