Arapiraca

Folha aponta Arapiraca como líder na geração de emprego

Por Redação com Folha de São Paulo 21/02/2016 11h11
Folha aponta Arapiraca como líder na geração de emprego
- Foto: Reprodução

Após terminar o mestrado em engenharia ambiental na Espanha, Gustavo Papini, 31, sabia que seria difícil achar um emprego em sua cidade natal, Goiânia, e foi parar a 2.000 quilômetros da família, em Arapiraca (AL).

O mesmo fez sua colega de trabalho Ângela Cristina Lins, 35, que deixou o Recife por uma oportunidade de trabalho no agreste alagoano.

Não é por acaso que os dois foram tentar a sorte em Arapiraca, uma das cidades que mais gera emprego no Brasil.

"Quando decidi vir para cá, sabia que o Nordeste era uma área de expansão no mercado que em outros lugares do país está saturado", explica Papini, que mora na cidade alagoana desde 2013.

Dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados, do Ministério do Trabalho e Emprego, mostram que o Brasil fechou 1,5 milhão de postos de trabalho em 2015 -corte acentuado por grandes cidades como São Paulo, que fechou 140 mil vagas.

Mas municípios pequenos e médios foram na direção contrária e conseguiram criar vagas em pleno ano de crise.

Apenas 126 cidades registraram saldo positivo de empregos em todos os anos desde 2002. Dentre elas, Arapiraca fica em primeiro lugar, com 21 mil novas vagas na soma dos últimos 14 anos. Em 2015, foram 2.076 postos.

O crescimento foi impulsionado sobretudo pelo setor de serviços, que gerou sozinho 2.710 empregos. O pior foi o comércio, que terminou com 372 postos fechados.

RECEITA DO BOLO

Mas o que faz Arapiraca crescer? Uma das respostas está na posição geográfica, diz o economista Francisco Rosário, da Ufal (Universidade Federal de Alagoas).

"A cidade fica entre o sertão e a zona da mata. É polo de comércio de uma área grande de serviços, criou uma região metropolitana em volta e atende até a cidades de Pernambuco", explica.

Arapiraca fica próxima da BR-101, que cruza todo o litoral do país, de cima a baixo. Além disso, por lá passam quatro rodovias estaduais, que ligam o município a outras regiões de Alagoas.

A origem disso tudo está no tabaco, na visão de Cícero Carvalho, especialista em economia regional da Ufal.

Em 1990, Arapiraca chegou a ser responsável por 3% da produção nacional de fumo, que, plantado em pequenas propriedades, gera maior distribuição de renda que a cana, comum em latifúndios e predominante no Estado.

O mercado arrefeceu, e os produtores foram procurar outros meios de sustento. Hoje, a produção da cidade corresponde a 0,5% (4.560 toneladas) do que é feito no país.

"A população majoritária sempre foi de renda C e D. No boom de crescimento no Nordeste a partir dos anos 2000, essas pessoas passaram a consumir mais. Arapiraca já tinha experiência para atender o segmento, atraindo gente de outras cidades e podendo crescer", explica Carvalho.

COMPRAS

Em 2013, o primeiro shopping do interior de Alagoas foi inaugurado por lá. Hoje, o centro possui 150 lojas e seis salas de cinema. A administradora diz que gera 3.000 empregos diretos e indiretos e que, na média, registra crescimento de 20% ao ano.

A abertura de uma unidade do call center AeC no último ano contribui para o saldo positivo de empregos. A empresa contratou 1.600 funcionários em 2015 -além de outros 1.400 em janeiro.

O salário médio mensal, de acordo com dados de 2013 (os mais recentes) do IBGE, é de 1,6 salário mínimo. A média nacional é de 3,1 salários.

Percebendo uma oportunidade, Lindalva Correia deixou o Maranhão para ajudar o tio a montar por lá uma unidade da faculdade Fera.

"Os profissionais perceberam que a especialização é um diferencial e, em muitos casos, o título ajuda no acréscimo salarial", diz a diretora administrativa da instituição.

Uma das empresas da cidade que despontou para o Estado foi a rede de mercados Unicompra. Criada há 35 anos, hoje possui 18 lojas em Alagoas, além de uma em Caruaru (PE), segundo o diretor Rosijanio Lúcio Freire.

De acordo com ele, a empresa cresceu 16% em 2014. "A crise desacelerou o crescimento, mas não nos derrubou." Em 2015, o crescimento foi de 8%, segundo Freire.