Brasil

Após gravação e demissão em massa, ministro decide sair do cargo

Por Folha de São Paulo 30/05/2016 20h08

O ministro da Transparência, Fiscalização e Controle, Fabiano Silveira, pediu demissão do governo Michel Temer.

A decisão foi anunciada em uma carta enviada na noite desta segunda (30) ao presidente interino. Na mensagem, Silveira afirma que optou pela demissão para que "nada atinja" a conduta dele.

Em áudio gravado pelo ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado, Silveira aparece orientando o executivo e o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), em relação a como agir perante as investigações da Lava Jato. 

Na carta enviada a Temer, Silveira nega qualquer relação com Machado e diz que jamais pensou em interferir nas investigações.

"Pela minha trajetória de integridade no serviço público, não imaginava ser alvo de especulações tão insólitas", afirmou.

"A situação em que me vi involuntariamente envolvido –pois nada sei da vida de Sérgio Machado, nem com ele tenho ou tive qualquer relação– poderia trazer reflexos para o cargo que passei a exercer, de perfil notadamente técnico", disse

"Foram comentários genéricos e simples opinião, decerto amplificados pelo clima de exasperação política que todos testemunhamos. Não sabia da presença de Sérgio Machado. Não fui chamado para uma reunião. O contexto era de informalidade baseado nas declarações de quem se dizia a todo instante inocente", ressaltou.

Em telefonema, feito à tarde, Temer disse ter confiança no ministro e minimizou a gravação divulgada no domingo (29). Temer, contudo, deixou o ministro à vontade para tomar a decisão que julgasse melhor.

O ministro ficou preocupado com a reação dos funcionários públicos da pasta, que fizeram protestos pela sua saída e colocaram os cargos à disposição.

Os áudios foram exibidos pelo programa "Fantástico", da TV Globo. Em uma das gravações, após Machado criticar o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, Silveira disse: "Eles estão perdidos nessa questão [da Lava Jato]".

Leia abaixo a íntegra da carta de Silveira enviada a Temer:

Recebi do Presidente Michel Temer o honroso convite para chefiar o Ministério da Transparência, Fiscalização e Controle.

Nesse período, estive imbuído dos melhores propósitos e motivado a realizar um bom trabalho à frente da pasta.

Pela minha trajetória de integridade no serviço público, não imaginava ser alvo de especulações tão insólitas.

Não há em minhas palavras nenhuma oposição aos trabalhos do Ministério Público ou do Judiciário, instituições pelas quais tenho grande respeito.

Foram comentários genéricos e simples opinião, decerto amplificados pelo clima de exasperação política que todos testemunhamos. Não sabia da presença de Sérgio Machado. Não fui chamado para uma reunião. O contexto era de informalidade baseado nas declarações de quem se dizia a todo instante inocente.

Reitero que jamais intercedi junto a órgãos públicos em favor de terceiros. Observo ser um despropósito sugerir que o Ministério Público possa sofrer algum tipo de influência externa, tantas foram as demonstrações de independência no cumprimento de seus deveres ao longo de todos esses anos.

A situação em que me vi involuntariamente envolvido - pois nada sei da vida de Sérgio Machado, nem com ele tenho ou tive qualquer relação - poderia trazer reflexos para o cargo que passei a exercer, de perfil notadamente técnico.

Não obstante o fato de que nada atinja a minha conduta, avalio que a melhor decisão é deixar o Ministério da Transparência, Fiscalização e Controle.

Externo ao Senhor Presidente da República o meu profundo agradecimento pela confiança reiterada.

Brasília, 30 de maio de 2016.
Fabiano Silveira