Delação liga Renan e Cícero Almeida a esquema de corrupção da merenda

O presidente do Senado Renan Calheiros (PMDB-AL) voltou a ser citado como figura central de mais um escândalo de corrupção e pagamento de propina, a partir do depoimento de um ex-integrante do grupo empresarial de São Paulo que foi pivô do escândalo da Máfia da Merenda paulista.
Genivaldo Marques dos Santos é o ex-funcionário da SP Alimentação que detalhou para o Ministério Público do Estado de São Paulo o sistema de pagamentos de propina a diversas prefeituras no País, que envolvia o nome de Renan. A revelação foi feita em reportagem da revista IstoÉ, que circulou nesta sexta-feira (23).
Citado como o “homem da mala” e operador do presidente do Senado, Milton Lyra não é a única pessoa próxima a Renan citada no esquema de entrega da propina. O ex-prefeito de Maceió e deputado federal Cícero Almeida (PMDB) é citado por Genivaldo como integrante do esquema. Conhecido como Ciço, o parlamentar é candidato a prefeito de Maceió apoiado por Renan e pelo governador Renan Filho (PMDB). O ex-deputado João Lyra também foi relacionado entre os beneficiários das propinas.
De acordo com a revista, o delator disse ao MP paulista que os repasses saíam do superfaturamento do contrato para fornecimento de merenda às escolas municipais de Maceió, à época em que o ex-prefeito conhecido como Ciço comandava o Poder Executivo da capital alagoana. “A propina paga a Milton Lyra e outros era de 15% sobre o valor pago pela Prefeitura de Maceió à SP Alimentação. O dinheiro [papel moeda] era entregue quinzenalmente no município de São Paulo, na sede da SP Alimentação, a Milton Lyra”, disse Genivaldo.
A investigação avança na tentativa de descobrir se o dinheiro da propina foi efetivamente recebido por Renan.
Escola da propina
A reportagem do jornalista Aguirre Talento relatou que uma das formas de pressionar o então secretário da Educação de Maceió para ampliar a terceirização da merenda de mais escolas materializou-se em dois pagamentos de R$ 25 mil, em abril e em maio de 2006. Os dados foram encontrados por investigadores em uma planilha e foram traduzidos pelo depoimento de Genivaldo Marques dos Santos.
O repasse foi feito sob a rubrica “despesa de inauguração de escola”, para disfarçar o real objetivo de ampliar o alcance da máfia, que somente atingia cerca de 30 escolas maceioenses.
Insatisfação e o terno azul
Chamou a atenção da reportagem o relato de Genivaldo sobre detalhes como a roupa que o lobista costumava vestir ao ir receber o dinheiro da propina. Mas além de relatar que Milton Lyra voava de jatinho particular para ir São Paulo recolher a propina, geralmente vestido em um terno azul, o delator citou diretamente o envolvimento do então prefeito Cícero Almeida no acerto.
Genivaldo falou ao MP de São Paulo sobre uma reunião no Hotel Ritz, de Maceió, entre o então prefeito e o dono da SP Alimentação, Eloizo Durães. Na ocasião, o afilhado político de Renan estaria insatisfeito por não receber sua parte de propina, chamada de “retorno” por ser o desvio de uma parte do contrato da merenda. Neste momento do depoimento, entra em cena o ex-deputado federal alagoano João Lyra, ex-aliado de Renan e padrinho político de Cícero Almeida.
“Ficou sabendo por Eloizo Durães que o prefeito Cícero Almeida foi informado de que o valor do ‘retorno’ estava sendo entregue a Milton Lyra, para que este repassasse a João Lyra. Eloizo disse que Cícero determinou que o pagamento do ‘retorno’ fosse feito diretamente a este. Depois dessa reunião, contudo, foi feito ainda um último pagamento a Milton Lyra, que foi chamado à sede da SP Alimentação para ser comunicado da insatisfação de Cícero Almeida”, disse Genivaldo.
Evidências da relação
A partir de indícios de que Milton Lyra intermediava a entrega de propina de empresa a Renan e seus aliados peemedebistas no Senado, a casa do lobista e suas empresas foram alvo de mandados de busca e apreensão obtidos pela Procuradoria-Geral da República (PGR) e cumpridos pela Polícia Federal em 1º de julho.
Tudo reforçado pela delação premiada em que um ex-diretor da Hypermarcas, Nelson Mello, revelou que repassou R$ 26 milhões em propina para Renan e os peemedebistas por meio de Milton Lyra.
Outro lado
Milton Lyra encaminhou nota à IstoÉ em que disse que “não conhece o referido ‘suposto delator’. São falsas as inferências”. Senador Renan não comenta o caso. E a assessoria de imprensa do candidato Cícero Almeida encaminhou a seguinte nota ao Diário do Poder:
“Sobre denúncia veiculada pela revista IstoÉ, tendo como origem uma suposta delação premiada, o candidato Cícero Almeida, através de seus advogados, informa que desconhece por completo a tal delação e seu conteúdo. Não tendo como se posicionar sobre o que não sabe. Mesmo assim, adianta que nunca manteve nenhum contato ou tratativa com ninguém, nos temas e termos sugeridos pela matéria. Ao mesmo tempo, manifesta sua profunda estranheza e indignação com a ebulição de denúncias ‘surgidas’ às vésperas da eleição. Não serão ardis que o afastarão do seu foco em trabalhar pelo povo de sua Maceió”, diz a nota de Ciço.
Últimas notícias

Morre empresária arapiraquense Maria de Lourdes esposa de José Mazzarope

Infectologista da Sesau alerta sobre como se proteger de doenças virais respiratórias

Lula reclama do preço do ovo e procura por ‘ladrão’: ‘Alguém está passando a mão’

Indústria de Alagoas pode reduzir captação de mananciais com reúso de efluentes

Paulo Dantas entrega pavimentação em Major Izidoro

Tia Júlia visita obras de reforma e ampliação do CRAS de Palmeira dos Índios
Vídeos e noticias mais lidas

Alvo da PF por desvio de recursos da merenda, ex-primeira dama concede entrevista como ‘especialista’ em educação

12 mil professores devem receber rateio do Fundeb nesta sexta-feira

Filho de vereador é suspeito de executar jovem durante festa na zona rural de Batalha

Marido e mulher são executados durante caminhada, em Limoeiro de Anadia
