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Pagamentos continuaram após Lava Jato, diz Emílio Odebrecht

Por UOL 17/04/2017 07h07
Pagamentos continuaram após Lava Jato, diz Emílio Odebrecht
Empresário Emílio Odebrecht - Foto: Divulgação

A Odebrecht informou na sua delação premiada que só pôs fim aos pagamentos de propina e caixa dois feitos pela empresa mais de um ano após o início da Operação Lava Jato. O patriarca da empreiteira, Emílio Odebrecht, contou ao Ministério Público Federal que deu ordens para acabar com repasses ilícitos somente após a prisão do filho Marcelo, então presidente do grupo, em junho de 2015.

Com a detenção do filho, Emílio voltou ao comando do grupo. A determinação, segundo ele, foi de paralisar inclusive pagamentos atrasados.

Ele mencionou um episódio envolvendo o marqueteiro Duda Mendonça como exemplo a funcionários sobre as novas diretrizes a serem seguidas na empreiteira. "Os compromissos que existiam estavam mortos", disse.

Quando Marcelo foi preso, a Lava Jato estava em curso havia um ano e três meses –a primeira fase foi deflagrada em março de 2014.

"Quando eu, logo uma semana depois [da prisão de Marcelo Odebrecht], oficializava a entrada no Newton [de Souza] como presidente substituindo o Marcelo e ao mesmo tempo definia uma série de regras dentro da organização foi que daí para frente terminou o caixa dois, zerava, os compromissos que existiam morreram, [a ordem era] desfazer tudo, não existe mais", afirmou Emílio.

Até então, estava acertado que a Odebrecht pagaria uma dívida de três campanhas a Duda, entre elas a da campanha de Paulo Skaf (PMDB) ao governo de SP em 2014.

Após semanas de cobranças e tentativas frustradas de acordo, chegou-se a ao entendimento de que a empreiteira compraria de Duda um terreno no sul da Bahia por um preço maior do que o real, de forma a quitar as dívidas. "Seria uma superfaturamento do terreno", afirmou Emílio.

A Odebrecht chegou a pagar algumas parcelas por meio de uma operação simulada em que usou uma antiga parceira, a DAG Engenheira, a mesma que foi chamada a fazer repasses ao Instituto Lula.

Com a decisão de pôr fim ao pagamento de propinas, Emílio pediu, então, para desfazer o combinado, mas o terreno ainda estava em nome de Duda -ou seja, na versão do empresário, o marqueteiro ficou com parte dos recursos e a propriedade do terreno.

"Mandei desmanchar o negócio, preferi que [Duda] ficasse nos devendo do que a gente pra ele. Ele que ficou me devendo. Tenho um crédito com Duda, que não está registrado", disse. "O meu papel foi o de ser cobrado por Duda. Podia ser R$ 1 ou ser R$ 100. Eu não tinha mais dinheiro de caixa dois", ressaltou.

O patriarca disse ainda que ficou "tranquilo" do "ponto de vista moral", pois havia feito algum pagamento ao publicitário e ainda devolveu o terreno, mostrando que havia "honrado o compromisso".

Duda procurou o Ministério Público para fazer delação, mas sua proposta foi rejeitada, e ele acabou firmando acordo com a Polícia Federal.

Na gravação em que relata o episódio, Emílio dá a entender que foi provocado a detalhar o fato posteriormente à tentativa de colaboração do marqueteiro. Isso irritou os advogados de Duda, que creem que os procuradores usaram na delação da Odebrecht informações cedidas por eles na tentativa de acordo.

CONTINUIDADE

Mesmo após a prisão de Marcelo Odebrecht e das novas determinações de Emílio, alguns pagamentos continuaram, conforme delação de Fernando Reis, ex-presidente da Odebrecht Ambiental.

Ele contou que acertou, com Marcelo, repasses de propina a Ademir Bendine, ex-presidente do Banco do Brasil e da Petrobras. As negociações foram feitas em maio de 2015: R$ 3 milhões em três parcelas. O acerto aconteceu um mês antes de Marcelo ser preso no escopo da operação.

"Esses pagamentos foram realizados, um deles inclusive dois dias antes da prisão de Marcelo, e como a gente já tinha instruído o departamento e também os operadores financeiros, esses pagamentos foram feitos depois da prisão, porque uma vez que estavam instruídos a fazer, não teve como reverter", declarou.

OUTRO LADO

A defesa de Duda Mendonça não se manifestou. Aldemir Bendine tem declarado que nunca pediu ou recebeu propina nem autorizou que qualquer pessoa negociasse pagamentos ilegais em seu nome.

Disse ainda que, durante suas gestões no Banco do Brasil e na Petrobras, jamais atuou ou prometeu atuar, para favorecer interesses da Odebrecht ou de qualquer outra empresa.