Pesquisa usa a matemática para avaliar impacto ambiental dos transgênicos
Os transgênicos, organismos geneticamente modificados (OGMs), estão presentes a relativamente pouco tempo no Brasil. Por aqui, apareceram pela primeira vez, de maneira clandestina, em 1997. No decorrer desse período, muito foi debatido sobre o tema. Leis e normas foram estabelecidas, mas as pesquisas ainda são recentes e não há um consenso científico a respeito da segurança desses organismos para o meio ambiente ou para a saúde.
Novas pesquisas científicas podem contribuir para a melhor compreensão dessa questão. Entre elas está a do professor Rinaldo Vieira. Ligado ao Núcleo de Ciências Exatas da Ufal, o matemático construiu um modelo que explica a interação entre transgênicos e organismos naturais convivendo no mesmo espaço.
Vieira explica que todos os organismos são competidores puros e, no caso de uma competição entre plantas originais e suas variantes transgênicas, as primeiras tenderiam a diminuir tanto a população quanto a produção. De modo simplificado, na guerra por nutrientes e espaço entre plantas naturais e suas variantes de laboratório, as naturais seriam severamente afetadas. Segundo o professor, ainda que para fins matemáticos isso não tenha sido levado em consideração, muito provavelmente ocorreria a exclusão completa da espécie natural.
Utilizando uma técnica conhecida como trofodinâmica analítica, Rinaldo construiu um modelo capaz de transpor para o universo matemático questões complexas como a da interação entre organismos naturais e transgênicos. “A abordagem analítica da trofodinâmica, baseada em mecanismos biológicos, fornece o contexto matemático apropriado para o estudo dos sistemas ecológicos sob a influência de mudanças ambientais, produzidas naturalmente ou não”, diz. De acordo com o professor, no futuro será possível utilizar os dados já consolidados para desenvolver pesquisas ainda mais avançadas. "Após utilizar a trofodinâmica analítica, num próximo estágio esperamos simular em computador o que acontece no mundo real", conclui.
A pesquisa surgiu como tese de doutoramento na Universidade de Campinas (Unicamp). “Eu participava de grupos de pesquisa em Teoria das Equações Diferenciais e uma das aplicações dessas equações são nas áreas da Física e da Biologia”, diz. A pesquisa foi orientada pelos professores Pedro Catuogno e Solange da Fonseca, que propuseram o estudo dos impactos ambientais dos transgênicos com o uso da matemática.
Segundo Rinaldo, o próximo passo é considerar os efeitos dos organismos transgênicos em ambientes naturais como a Mata Atlântica. Para que isso fosse possível, foi firmada uma cooperação entre o matemático e um pesquisador das ciências agronômicas, o professor Marcos Alex. Os dois têm trabalhado juntos no Laboratório de Análise Aplicada do Campus Arapiraca da Ufal. Essa cooperação visa realizar uma pesquisa mais abrangente sobre a questão dos transgênicos, o que em breve pode trazer novas descobertas na área.
De acordo com o coordenador do Laboratório de Ecologia Quantitativa da Ufal, Marcos Vital, a pesquisa de Rinaldo Vieira traz dados muito interessantes. Para ele faz todo sentido as variantes transgênicas competirem com as variantes originais e até mesmo causar a exclusão dessas. Entretanto, adverte que esse talvez não seja o maior problema à biodiversidade já que a maior parte dos organismos transgênicos cultivados no Brasil não pertencem a flora nativa.
“Desta forma, a possibilidade de, digamos, um milho transgênico substituir milhos não modificados é um problema ligado a outras esferas, e não à conservação de biodiversidade diretamente”, afirma o professor. “Ainda é um problema, claro: produtores que não querem plantar transgênicos, por exemplo, não deveriam ser afetados por plantações vizinhas. E os próprios consumidores deveriam ter o direito de saber o que estão consumindo, sempre”, esclarece. “Mas perceba que uma plantação de milho, no exemplo, já não é um ambiente natural. Uma plantação na forma de monocultura, por exemplo, é em si um problema para biodiversidade nativa, e não importa tanto, deste ponto de vista, se é uma monocultura de transgênico ou não”, afirma.
Para Vital, a maior preocupação em relação ao problema dos transgênicos na biodiversidade são seus efeitos nas “espécies não alvo”. Ele explica que a maior parte dos organismos são modificados para ser resistentes a algum agente externo. Uma dessas modificações ocorre com a inserção de genes da bactéria Bacillus thuringiensis em plantas. Essa bactéria tem poder inseticida, e quando esses genes são inseridos na soja, por exemplo, ela irá ganhar a mesma capacidade inseticida, protegendo a plantação do ataque de insetos. “Até aí tudo bem. A questão que associa tudo à biodiversidade vem quando você pergunta: e os insetos que não são praga e fazem parte da fauna nativa? O que acontece com eles? Eles podem ser potencialmente afetados mesmo que não seja a intenção original”, questiona. “Neste sentido, o uso de transgênicos pode afetar a biodiversidade de maneira direta: insetos que são polinizadores, para dar apenas um exemplo, podem ser afetados pelo efeito inseticida do transgênico, o que seria um impacto ambiental direto sobre a biodiversidade nativa”, diz.
“Teoricamente, o estudo dos impactos sobre insetos não alvo faz parte da avaliação de risco pela qual os transgênicos devam passar antes de ser produzidos. Aí resta a questão do quanto esta avaliação de risco é feita de maneira rigorosa”, conclui Vital.
Novas variedades transgênicas foram liberadas comercialmente
No início de março de 2017, a Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio), órgão ligado ao Governo Federal, aprovou a liberação comercial de seis novas variedades de organismos geneticamente modificados (OGMs). Entre os organismos liberados estão o milho, o algodão e a soja.
Quando o CTNBio aprova a liberação comercial de determinadas variedades geneticamente modificadas, significa que empresas produtoras estão autorizadas a comercializar transgênicos destinados ao cultivo, produção, manipulação, transporte, importação, exportação, armazenamento e também ao consumo animal e humano.
Para o presidente do CTNBio, Edivaldo Velini, os debates da comissão são bastante amadurecidos e a aprovação da liberação comercial desses organismos contribuem para o desenvolvimento agrícola do país, já que eles possibilitam um aumento da produtividade ao mesmo tempo em que a sustentabilidade ambiental é respeitada.
Por outro lado, para organizações de proteção ambiental, os transgênicos oferecem sérios riscos tanto para a biodiversidade quanto para a saúde de agricultores e consumidores. De acordo com o Greenpeace, a simples presença dos transgênicos nas lavouras pode causar redução da biodiversidade, já que eles acabam contaminando as sementes naturais plantadas em regiões próximas. Além disso, o uso massivo de agrotóxicos nas plantações de transgênicos causa danos não só ao meio ambiente, mas também a todas as pessoas envolvidas no processo, afirma a organização.
Últimas notícias
Teca Nelma reafirma pioneirismo ao lançar mais uma seleção pública para destinação de emendas
Alagoas é o 2º do Nordeste com o maior número de trabalhadores com carteira assinada
Acompanhamento nutricional é essencial antes e depois da cirurgia bariátrica, diz especialista
Sesau AL passa a integrar a Rede Nacional de Dados em Saúde
STF tem maioria para tornar Eduardo Bolsonaro réu por coação na trama golpista
Filho do chefe de operações da Delegacia de Marechal Deodoro desaparece em Maceió
Vídeos e noticias mais lidas
Tragédia em Arapiraca: duas mulheres morrem em acidente no bairro Planalto
Militares lotados no 14º Batalhão de Joaquim Gomes prendem homem suspeito de estrupo de vulnerável
[Vídeo] Comoção marca velório de primas mortas em acidente de moto em Arapiraca: 'perda sem dimensão'
Vídeo mostra momentos antes do acidente que matou duas jovens em Arapiraca; garupa quase cai
