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Jovens são obrigados a abrir a própria cova antes de serem executados

A polícia diz tratar de uma briga entre traficantes de drogas

Por Época 30/08/2017 11h11
Jovens são obrigados a abrir a própria cova antes de serem executados
Policial observa cova encontrada no começo de fevereiro no Parque das Cerejeiras em São Paulo - Foto: Márcio Fernandes/Estadão Conteúdo

Dois vídeos que circulam na internet mostram bandidos obrigando dois jovens a abrir a própria cova antes de serem fuzilados. No primeiro, um homem com um cigarro na boca e uma arma em cada mão faz ameaças enquanto a vítima cava com uma pá. O criminoso protagonista se autointitula membro da quadrilha gaúcha Antibala e da facção criminosa paulista Primeiro Comando da Capital, o PCC, que domina boa parte dos presídios brasileiros. “Aqui é PCC, Antibala, é nóis, taí. Bagulho não é brincadeira, tá ligado? Fazendo a cova, vão morrer e já era, né, negão? Vou te dar só um tiro no coração e o resto na cara”, diz ele, levando à gargalhada outros criminosos que assistem à cena.

No segundo vídeo, os dois jovens entram no buraco, deitam e se ajeitam no espaço. À espera dos disparos fatais que estão por vir, um deles cobre a lateral do rosto com uma das mãos. Dois segundos depois começa o fuzilamento. É possível ouvir pelo menos dez tiros sendo disparados. Em meio à fumaça, os corpos balançam cada vez que são atingidos. O homem que aparece no início do vídeo chega a se abaixar para acertar um tiro no rosto de uma das vítimas. Na sequência, os bandidos discutem se as vítimas estão mesmo mortas, jogam combustível nos corpos, sacos plásticos e ateiam fogo. A ousadia dos delinquentes é tamanha, que nenhum deles se preocupa em cobrir o rosto para esconder a identidade.

O caso ocorreu na cidade de Gravataí, na região metropolitana de Porto Alegre, capital do Rio Grande do Sul. Na tarde da segunda-feira (28), a Polícia Civil localizou corpos de dois homens carbonizados num buraco em um matagal e confirmou que se tratam dos jovens vistos nos vídeos. A identidade das vítimas ainda não foi divulgada. “Há relatos de testemunhas de que o crime teria ocorrido na sexta-feira [25]”, afirma Felipe Borges, titular da Delegacia de Homicídios de Gravataí. “Inicialmente, acreditamos que a motivação seja uma disputa entre facções que se dedicam ao tráfico no Rio Grande do Sul.” As autoridades dizem acreditar que os dois jovens assassinados são integrantes da organização Bala na Cara, rival da Antibala. A Polícia Militar prendeu dois suspeitos de participarem dos crimes – por falta de provas, um deles já foi solto.

Obrigar uma vítima a cavar sua própria sepultura é uma prática conhecida do PCC. Antes de executá-la, a vítima é submetida ao que os agentes da segurança pública chamam de tribunal do crime, um julgamento paralelo coordenado por uma complexa hierarquia da facção criminosa. Segundo investigações, o PCC controla parte da periferia de São Paulo, julga integrantes da organização e moradores que descumprem seus códigos de conduta – em casos mais graves, mata quem desrespeita suas “leis”. Os corpos são desovados em cemitérios clandestinos. Em julho do ano passado, ÉPOCA contou a história de um sobrevivente do tribunal do crime na capital. E mostrou que, de 2005 a 2015, o número de ocorrências de destruição, subtração ou ocultação de cadáveres em São Paulo subiu 191%, segundo os dados da Secretaria de Estado da Segurança Pública obtidos via Lei de Acesso à Informação.

Presente na criminalidade em todos os estados, o PCC está em processo de expansão no país e na América do Sul. Desde que romperam relações com o Comando Vermelho, de quem eram aliadas, quadrilhas locais que fazem parte da organização paulista têm protagonizado conflitos com suas rivais. Os vídeos indicam que a prática do tribunal do crime, até então restrita a São Paulo, pode ter se espalhado para outras regiões do país junto com os integrantes da facção.