Bacurau estreia em Paris e ganha página inteira no Le Monde
Os autores do filme estão na capital francesa, onde participarão de debates sobre o longa

O vespertino francês Le Monde, que chegou às bancas na tarde desta terça-feira (24), destaca a estreia comercial na França esta semana do filme brasileiro Bacurau, de Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles.
Com matéria de página inteira, que inclui entrevista com os cineastas e uma crítica, Le Monde sublinha o lado de crítica social do filme brasileiro, um faroeste futurista, que estreou no Festival de Cannes, em maio, onde levou o Prêmio do Júri.
Na entrevista, o pernambucano Kleber Mendonça Filho fala da divisão entre Norte e Sul do Brasil e do fato de Jair Bolsonaro ter perdido as eleições em todos os Estados do Nordeste. Para ele, “tudo o que se passa no filme é um reflexo dos problemas crônicos de nossa sociedade”. O cineasta diz também que o governo Bolsonaro está causando um retrocesso de 20 anos no ponto de vista social.
“Hoje, a sociedade brasileira está tão dramaticamente dividida que, se você diz que acredita numa coisa tão básica quanto a educação para todos, você é imediatamente chamado de comunista”, desabafa o cineasta.
Os diretores comentam também o corte de todo o financiamento governamental para as artes e o anúncio do governo de um festival de filmes militares em São Paulo. “Tantas coisas acontecem que já nem sabemos mais como reagir”, lamenta Mendonça Filho. Mas o entrevistador, Laurent Carpentier, lembra que a reação vem na mensagem final do filme: “A cultura é ao mesmo tempo uma identidade e uma indústria. Este filme gerou 800 empregos”.
Engajamento
O crítico do Le Monde, Jacques Mandelbaum, também destaca o lado engajado do cineasta de “O som ao redor” (2014) e “Aquarius” (2016). “Os artistas, pelas fibras sensíveis que os ligam ao real, são frequentemente anunciadores de fenômenos que estão sendo gerados”, escreve. “Rodado antes da chegada ao poder de Jair Bolsonaro, ‘Bacurau’ parece o diapasão da nova ordem política”, comenta o crítico.
“Aquilo que Glauber Rocha, grande poeta do Cinema Novo, ia buscar no passado (a tradição dos cangaceiros, a luta sangrenta contra a autocracia, a dignidade e a crueza folclóricas do Nordeste desprovido de recursos), Mendonça Filho tenta achar numa fábula futurista”, resume.
“Esta conflagração do arcaico e do moderno – mais que a galeria de personagens deliberadamente estereotipados que a encarnam – é justamente o que confere ao filme a sua atualidade, referindo-se à natureza dupla dos regimes autoritários que estão sendo criados em todo o mundo”, afirma Mandelbaum.
O crítico lembra também que o ministério da Cultura foi suprimido no Brasil sob Bolsonaro e que a revista francesa especializada na sétima arte Cahiers du Cinéma traz na edição de setembro um dossiê sobre a guerra que o novo governo declarou à criação cinematográfica e no qual cineastas como Kleber Mendonça Filho e outros aparecem como símbolos de um cinema independente e em plena decolagem.
Mandelbaum termina o texto dizendo que que Jair Bolsonaro ameaça destruir o cinema brasileiro “ao mesmo tempo em que destrói a floresta e os índios da Amazônia”.
Os autores do filme estão na capital francesa, onde participarão de debates sobre o longa, nesta terça-feira em Saint-Denis e na quarta-feira em Paris, quando o filme estreia no circuito comercial francês.
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