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Conselheiro diz que funcionária do IML não quis chamar médico para fazer exame em criança amarrada pela mãe

Conselheiro afirma que funcionária do IML se recusou a chamar médico legista durante a madrugada

Por 7Segundos 09/04/2020 17h05
Conselheiro diz que funcionária do IML não quis chamar médico para fazer exame em criança amarrada pela mãe
Mãe é presa ao ser flagrada amarrando a filha em Arapiraca - Foto: Cortesia

A criança de 10 anos que foi resgatada pela Polícia Militar na noite de quarta-feira (08) em Arapiraca, ainda não foi submetida a exame de corpo de delito para examinar as marcas de hematomas que ela apresenta pelo corpo. De acordo com o conselheiro tutelar que está acompanhando o caso, quando ele chegou com a criança para fazer o exame na madrugada desta quinta (09), a funcionária do Instituto Médico Legal de Arapiraca se recusou a acionar o médico legista que estava cumprindo plantão.

“Ela disse que não chamaria o médico porque nós não estávamos com a certidão de nascimento da criança e porque o médico, depois da meia-noite, vai dormir no hotel, porque eles não fazem necropsia à noite. A gente tinha o encaminhamento do exame, expedido pela delegacia, e o CPF da criança. Em outras ocasiões, isso foi suficiente para o exame ser feito”, declarou o conselheiro, que pediu para não ter o nome divulgado. 

Ele conta que chegou a acionar a Polícia Militar, que encaminhou uma guarnição até o IML, para tentar fazer o exame, mas mesmo assim não conseguiu. “O policial perguntou o nome dela e ela se recusou a responder. Disse que é de uma empresa terceirizada e que tem as ‘costas largas’. Tudo isso na presença da criança, que já estava muito abalada com o que aconteceu”, relatou o conselheiro, que disse ainda que outros colegas também já haviam sido mal atendidos quando necessitam dos serviços do IML de Arapiraca. “Eles costumam tratar os membros do Conselho Tutelar mal, não sei se acham que não temos autoridade para fazer o nosso trabalho, só sei que muitas vezes a gente chega a esperar oito ou até dez horas para que uma criança, que muitas vezes está traumatizada pelo abuso se sofreu, para ser atendida”, reclamou.

O conselheiro tutelar relatou que a criança está com uma parente, recebendo acompanhamento do Conselho Tutelar e atendimento psicológico. A mãe dela foi presa em flagrante e encaminhada para o xadrez da delegacia regional de Palmeira dos Índios. Ela foi indiciada pelos crimes de tortura física e psicológica, cárcere privado e abandono de incapaz. 

“O tratamento desumano que essa criança recebia da mãe é chocante até para a gente, que houve relatos de violência todos os dias. A criança contou que era constantemente torturada psicologicamente. A mãe ameaçava matá-la, dizia que iria jogá-la na frente de um caminhão, além das agressões físicas”, afirma.

A criança teria passado nove horas amarrada a uma cadeira no quintal da casa e amordaçada. A mãe deixou a criança presa por volta das 10h da manhã e teria saído para beber e, ao retornar à noite, teria consumido maconha na frente da menina e, em seguida começou a sessão de tortura. Ela teria despido a menina, ainda amarrada, e passou a agredi-la física e psicologicamente. Mesmo amordaçada, a criança conseguiu gritar e chamar a atenção dos vizinhos, que acionaram a Polícia Militar.

A guarnição deslocada para o local chamou várias vezes na porta da casa, mas ninguém respondeu. Ao ouvirem os gritos da criança, arrombaram a porta e encontraram a criança nua e amarrada no quintal, com marcas de hematomas e queimaduras de cigarro nos braços. A mulher negou ter cometido qualquer violência contra a menina e alegou ter sofrido alucinações. Ela ainda resistiu a prisão e os policiais militares precisaram usar as algemas para conseguir retirá-la do local.

Como as delegacias regionais adotaram regime de rodízio em decorrência das medidas de isolamento social, o plantão estava sendo cumprido no município de Palmeira dos Índios. A acusada e a criança, acompanhada de parente e do Conselho Tutelar foram encaminhadas para lá. O conselheiro afirmou que a criança foi ouvida, eles retornaram para Arapiraca e chegaram ao IML por volta de 1h30 da madrugada.

“Esse tipo de situação revolta a gente por conta de toda situação que a criança estava vivendo. Além de toda a violência que sofreu, sem comer desde às 10h da manhã, do trauma e ainda passar por isso”, ressaltou.

A reportagem entrou em contato com a assessoria de comunicação da Perícia Oficial, que ficou de fazer contato com o IML de Arapiraca e encaminhar um posicionamento sobre o ocorrido.