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[Vídeo] Moradores da Mangabeira cobram da prefeitura casas que seriam construídas em 2017

Município recebeu R$ 20 milhões para obra, mas moradores vivem em meio a esgoto e lixo

Por 7Segundos 25/06/2020 17h05
[Vídeo] Moradores da Mangabeira cobram da prefeitura casas que seriam construídas em 2017
94 famílias moram na localidade, sem água encanada, esgotamento sanitário e energia elétrica - Foto: cortesia

Saneamento, abastecimento de água e energia elétrica são o básico para garantir a saúde e o bem-estar da população. Em Arapiraca, a grande maioria das pessoas que vivem nas áreas urbanas não pensam nisso como um privilégio, mas para as 94 famílias que vivem na comunidade Mangabeiras, local conhecido também como antigo lixão, essas condições ainda são um sonho. Em 2017, a prefeitura de Arapiraca recebeu R$ 20 milhões em emenda parlamentar para tornar esse sonho realidade, chegou a fazer projeto e a anunciar a obra, mas ela nunca saiu do papel.

“Os barracos são precários, a gente convive com mato, insetos, animais peçonhentos e lama. Agora que começou o período de chuvas, a situação está ainda pior”, afirma o presidente da Cooperativa dos Catadores de Recicláveis, Erivaldo Manoel da Silva, contando que, nas últimas semanas, alguns moradores têm relatado o surgimento de cobras, como coral ou outra conhecida como “pé de toco” dentro das moradias. 

“Tem uma mulher que disse que ultimamente de vez em quando aparecem cobras dentro do barraco onde ela mora com os quatro filhos pequenos. Ela morre de medo que um deles seja picado porque, até onde a gente sabe, essas cobras são venenosas”, relatou.

A maioria das famílias vivem em barracos feitos de papelão e lona e todos convivem com fossa a céu aberto, que provocam mau cheiro e contaminam o solo, e com bolsões de lixo, que se formam a partir dos resíduos que não são revendidos para a reciclagem, porque os catadores não possuem estrutura adequada para fazer a seleção dos recicláveis. 

Mas a realidade dessas famílias poderia ser bem diferente se, em 2017, primeiro ano da gestão de Rogério Teófilo (PSDB), a promessa da reurbanização do bairro tivesse sido cumprida. A obra consistia na construção de casas de alvenaria, um posto de saúde e uma quadra esportiva. O recurso para isso foi disponibilizado pelo deputado federal Arthur Lira (PP), mas ninguém sabe onde os R$ 20 milhões foram parar.

Segundo Erivaldo Manoel, o projeto de reurbanização do bairro foi apresentado durante audiência promovida pelo Ministério Público Estadual com a prefeitura e representantes da comunidade, ocorrida no dia 10 de maio de 2017, para tratar de um termo de ajustamento de conduta (TAC) para tratar sobre a comunidade após o desativamento lixão e foi marcada depois da morte de duas crianças - irmãos de 11 e 8 anos - afogadas em uma cratera que haviam sido abertas para aterrar o lixo e que estavam cheias de água. Na ata da audiência, consta que o então secretário de Infraestrutura do município, Roberto Amaral, informou que o recurso para a reurbanização havia sido liberado. Na galeria de imagens, ao final do texto, é possível constatar a informação na fotografia do documento. 

“Não está na ata, mas na reunião, Roberto Amaral falou que a prefeitura tinha recebido mais de R$ 19 milhões para a obra e mostrou o projeto para as pessoas que estavam lá. Ele disse também que a obra iniciaria no mês de outubro daquele ano”, declarou. Depois, Erivaldo Manoel fez uma pesquisa nos veículos de comunicação e descobriu que a verba que o ex-secretário se referia se tratava de emenda parlamentar do deputado federal Arthur Lira. 

“Se o deputado anunciou a emenda, é porque o dinheiro foi liberado para o município. A fala do ex-secretário também confirma que o recurso já estava com o município, mas no ano passado procurei o atual secretário de Infraestrutura, Daniel [Soares de Freitas Oliveira], e ele disse que desse recurso, a prefeitura recebeu só R$ 1 milhão”, relatou o presidente da cooperativa.

Enquanto isso, de acordo com ele, a área destinada pela prefeitura para a construção das residências continua completamente abandonada e tomada pelo mato. “Se esse dinheiro sumiu, a prefeitura precisa dar uma explicação para a gente. Nós vamos invadir a área”, ressaltou.

 

Catadores de recicláveis

 

Com o desativamento do lixão, no final de 2016, os moradores da comunidade, que viviam da coleta e revenda de materiais para a reciclagem viram a fonte de renda praticamente desaparecer. Eles passaram a catar os recicláveis na frente das residências, antes da passagem do caminhão da coleta de lixo, mas como a maioria dos moradores não faz a separação do lixo, a quantidade que eles conseguem é bem menor.

“Antes, a gente conseguia um bom dinheiro, às vezes até mais que um salário mínimo, mas depois que o lixão acabou, ficou tudo mais difícil para a gente. Costumo dizer que o poder público abandonou a gente, só não fomos esquecidos por Deus. Mesmo com toda dificuldade e precariedade que a gente vive, rodeado de insetos, quando apareceu a chikungunya, foram poucos casos aqui. Agora com o coronavírus, a prefeitura notificou um caso na Mangabeiras, mas é de uma pessoa que mora em outra área, aqui na parte alta não tem ninguém”, ressaltou.

Sem estrutura para trabalhar e fazer a seleção de recicláveis, os moradores acabam fazendo o serviço a céu aberto e resíduos que não são revendidos acabam formando bolsões de lixo no local. 

A reportagem entrou em contato com a assessoria de comunicação da Secretaria Municipal de Infraestrutura solicitando uma declaração do secretário Daniel Soares ou uma nota oficial sobre o assunto. Ainda aguardamos o envio da resposta.