Série da Netflix dispara interesse por xadrez
Entre as pessoas que demonstraram entusiasmo no jogo após assistir a série, 73% são mulheres e 27% são homens

Esporte, arte, ciência ou apenas um passatempo. Independentemente do objetivo com que se joga xadrez, a partida requer raciocínio e concentração. Na nova série da Netflix, O Gambito da Rainha, uma jovem prodígio mostra aos telespectadores os percalços do jogo. Mais que enfrentar outros competidores, ela precisa vencer o machismo entremeado no nicho predominantemente masculino. Desde o lançamento, em outubro, o seriado causou um crescimento de 150% no interesse por jogadas de xadrez, em específico algumas que foram mencionadas na trama.
Entre as pessoas que demonstraram entusiasmo após assistir a série, 73% são mulheres e 27% são homens. Apesar disso, a presença feminina é bem menor do que a masculina no brasileiro: das 100 maiores pontuações em xadrez, apenas uma foi conquistada por uma mulher. Os dados foram apurados pela empresa de consultoria Decode.
Segundo a analista Decode, Letícia Diefenbach, o contraste entre os números da tendência e o histórico das pontuações é um forte indicativo do peso da protagonista feminina como influência nesse novo comportamento.
“São dados que reiteram a relevância da representatividade midiática, em obras ficcionais ou não, como fator de mudanças culturais”, pondera.
Campeã brasileira e representante da equipe olímpica enxadrista do Brasil, Thauane Medeiros, de 26 anos, comenta que a série apresenta o esporte como algo possível para as meninas, que não costumam ter em quem se espelhar. O mesmo aconteceu com ela.
Thauane relembra que, no início da carreira, não teve uma figura feminina enxadrista em que se inspirar. Hoje, é procurada por outras mulheres como figura exemplar de força de vontade e talento.
Além disso, a esportista acredita que o cenário do xadrez no país aceita a participação de mulheres e meninas, mas impõe obstáculos. “Quando a mulher tem filhos fica ainda mais difícil, porque a sociedade aceita o homem ir competir e ficar fora por dias. A mãe não pode, é sempre julgada”, lamenta.
No quadradinho, a presença feminina também é inferior à masculina. Segundo um dos vice-presidentes da Federação Brasiliense de Xadrez FBX) Agnaldo Braga, nas escolas em que o xadrez faz parte de jogos interclasses ou de aulas extracurriculares, a presença de mulheres é forte, diferente de torneios e encontros, em que quase não há jogadoras.
“As meninas costumam se interessar bastante pelo jogo na escola. No entanto, conforme crescem, parece que a vontade de jogar diminui, muito provavelmente por não verem muitas mulheres nos jogos e por causa do machismo”, salienta o vice-presidente.
Capital enxadrista
Representante e professor do esporte, Agnaldo joga xadrez há 30 anos, após aprender em confraternizações com vizinhos no Gama, onde morou. Oito anos depois, ele organizou o primeiro evento enxadrista e adentrou a comunidade brasiliense como um dos maiores defensores da prática.
“Para mim, foi um passaporte para viajar e conhecer bastante gente. O esporte tem essa socialização muito bacana, além de ser bom para a mente”, salienta.
O representante afirma que, em todo o Distrito Federal, há mais de 10 mil participantes ativos em competições regionais e nacionais. Destes, cerca de 200 são federados. No Brasil, o número de jogadores ativos aumenta para mais de 48 mil.
“Temos muitos praticantes em escolas, clubes e espaços culturais nas regiões administrativas. No último Festival Interescolar de Xadrez, mais de duas mil crianças jogaram ao mesmo tempo”, comenta Agnaldo.
Professor de Educação Física aposentado, Diones Balzani é outra figura do cenário enxadrista no Distrito Federal. O primeiro contato dele com o esporte ocorreu em 1978 e, em 2000, ele começou a trabalhar com xadrez, à época na Centro de Ensino Fundamental 12 de Ceilândia.
Dois anos depois, criou o Centro de Iniciação Desportiva de Xadrez da cidade, fundamental para a propagação do esporte entre os jovens. Junto a Agnaldo, treinou campeões nacionais por mais de 15 anos.
Em 2016, ele deixou o posto de professor escolar. Atualmente, os planos são voltar à ativa, só que, desta vez, como jogador. “O xadrez é segundo esporte mais praticado no mundo, perde apenas para o futebol. Sou a favor da escolarização do esporte, tem uma magia que mexe principalmente com as crianças e pode trazer experiências fantásticas”, completa.
Novos talentos
O jogo recebe apoio e incentivo da Secretaria do Esporte do Distrito Federal. Este ano, nenhum recurso proveniente do órgão foi utilizado por conta da pandemia. Por outro lado, em anos anteriores, o programa Compete Brasília ajudou financeiramente diversos atletas. Um deles é o estudante Luigy Lira, de 13 anos, que já viajou para diversos lugares com o auxílio dessa iniciativa.
A escola em que o garoto estudava promovia o xadrez como aula na grade horária. Foi em 2016, aos 8 anos, que ele se interessou imediatamente, e logo recebeu incentivo da família para praticar com afinco.
No ano seguinte, o estudante participou do primeiro campeonato e consagrou-se como campeão brasiliense e brasileiro. Em dezembro do mesmo ano, Luigy também alcançou o terceiro lugar no torneio mundial e, por isso, recebeu a menção de Candidato a Mestre.
Aos 9 anos, o garoto já era um dos mais premiados para sua categoria na capital. A mãe, a dona de casa Neyde Siqueira, percebeu o talento natural do pequeno para o enxadrismo.
“Incentivei bastante e acompanhei nos campeonatos, que são muito cansativos, porque duram o dia inteiro. Mas, tudo vale a pena, ele é meu orgulho”, celebra.
A dona de casa afirma que outras crianças se espelham e aprendem com o menino. Além disso, ela acrescenta que para que os pequenos tenham sucesso, é necessário comprometimento de toda família.
Jogando com adultos
Com a experiência, vieram também novos desafios. Luigy teve que mudar de categoria e seguiu praticando, desta vez com adultos. Para ele, diversificar o adversário é ótimo para se aprimorar. “Eles são mais experientes, então, tenho que me esforçar ainda mais”, diz.
Em 2020, assim como os colegas de profissão, o estudante não pode competir presencialmente e teve que se contentar com o on-line.
Trama
Baseado em livro homônimo, os episódios de O Gambito da Rainha conquistaram o público com a história de uma órfã que aprende a jogar xadrez com o zelador do orfanato nas décadas de 1950 e 1960. O seriado teve 83% de aprovação, e pela crítica, conquistou nota 8,9 no Internet Movie Database (IMDB), medidor de informações midiáticas.
A aprovação do público pela trama estreante foi maior do que a série de mistério Dark, de nota 8,8 no IMDB, e considerada uma obra-prima da Netflix.
“Ela joga muito rápido. Dificilmente, em um torneio de alto nível conseguimos jogar com tanta velocidade. A gente demora, pensa, é muito mais devagar. Também achei que faltou mostrar partidas e o tabuleiro para as pessoas poderem analisar as posições”, pondera a campeã brasileira Thauane Medeiros.
A atleta encara como positiva a visibilidade que a minissérie promoveu para o esporte. “Esse ano, sem os campeonatos e por causa do fator econômico, foi muito difícil. Acredito que a procura seja mais digital até dezembro. De janeiro para frente, a demanda deve aumentar e o setor pode voltar a crescer de verdade”, finaliza.
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