Economia

Controle da inflação depende de atuação do BC nos primeiros meses de 2021, dizem economistas

Para IPCA alcançar a meta de 3,75%, especialistas afirmam que governo deverá acompanhar mais de perto a política monetária do país e controlar a instabilidade fiscal já nos primeiros meses do ano

Por G1 22/12/2020 08h08
Controle da inflação depende de atuação do BC nos primeiros meses de 2021, dizem economistas
nflação em 2020 foi marcada por uma escada nos preços dos alimentos - Foto: Tânia Rego/Agência Brasil

Em 2021, espera-se que a inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), considerada a oficial do país, não registre picos como nos último meses. Mas, para permanecer dentro da meta de 3,75% estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), o Banco Central terá de se posicionar de forma mais firme nos primeiros meses do ano, afirmam economistas ouvidos pelo G1.

No acumulado de 2020 até dezembro, a inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), considerada a inflação oficial do país, ficou em 3,13%. No mês, o índice avançou 0,89% - foi a maior alta para o mês desde 2015, quando a taxa foi de 1,01%, e também a maior taxa desde dezembro de 2019, quando avançou 1,15%.

"O mercado continua portando juros muito baixos. Junto com isso, o Índice Geral de Preços Mercado (IGP-M) terminou muito alto esse ano por causa do câmbio e das commodities. O controle da inflação vai depender de um BC vigilante com a política monetária, principalmente nos primeiros meses do ano", disse Reginaldo Nogueira, professor de economia e diretor IBMEC.

IPCA - Inflação oficial mês a mês — Foto: Economia G1

Em novembro, o IGP-M, que é considerado a 'inflação do aluguel', subiu 3,28%, pressionado pelo avanço dos preços de commodities agropecuárias, segundo a Fundação Getulio Vargas (FGV). Com a nova aceleração, o indicador acumulou alta de 21,97% no ano e de 24,52% em 12 meses.

Na avaliação do professor do IBMEC, o cenário para a inflação em 2021 "não é catastrófico", mas a meta não será alcançada de "forma natural".

"Todo mundo vai acompanhar com atenção a próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) e a sinalização que ele vai dar. Não é o momento do BC se manter tranquilo demais com a inflação", alertou.

Na última reunião do ano, no inicio de dezembro, o Copom decidiu por unanimidade manter a Selic em 2% ao ano — no menor patamar da série histórica. Essa foi a terceira vez seguida que o comitê decide manter a taxa de juros no mesmo patamar, mesmo em meio à alta dos preços.

Demanda do Auxílio Emergencial
De acordo com Maílson da Nóbrega, sócio da Tendências Consultoria e ex-ministro da Fazenda do governo José Sarney, a escalada nos preços dos alimentos, como arroz, soja e milho, também está relacionada ao aumento de demanda causada pelo Auxílio Emergencial.

Os preços dos alimentos sofreram uma forte alta de 2,54% em novembro, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Com esse resultado, a alta acumulada de janeiro a novembro alcançou de 12,14% — a maior para um ano desde 2002, quando os alimentos subiram 19,47%.

"Tudo indica que a inflação vai continuar alta no início do ano também. Os pobres passaram a comer mais. Mas não estou preocupado com a inflação de 2021. A não ser que tenhamos um problema fiscal, conseguiremos colocar a inflação dentro da meta de 3,75%", avaliou.

selo - Inflação dos alimentos acumulada por ano — Foto: Amanda Paes/G1


O Ministério da Economia estima que a dívida bruta do Brasil irá encerrar este ano em 96% do PIB, e admite que o endividamento tende a continuar subindo nos próximos anos. Pelas estimativas atuais, chegaria a 100,8% do PIB em 2026, e só então passaria a cair.

Atualmente, o ministério projeta um rombo de R$ 905,4 bilhões nas contas do setor público consolidado em 2020, sendo que o governo federal deverá responder sozinho por um déficit primário de R$ 880,5 bilhões neste ano — mais de sete vezes a meta inicialmente estipulada para o orçamento de 2020.

"A inflação tem efeito prático e imediato na vida das pessoas porque há uma grande perda no poder de compra da população. Para piorar, hoje está muito difícil recompor defasagem salarial, principalmente com o alto índice de desemprego do Brasil", concluiu o coordenador do IBMEC.