Enquanto especialistas se preocupam com mineração em Craíbas, MVV quer ampliar área de atuação para Igaci
Vale Verde promoveu audiência pública para obter licença prévia do Projeto Caboclo e ampliar área de atividades no Agreste alagoano
Apesar de especialistas em meio ambiente manifestarem preocupação e questionamentos acerca da mineração de cobre no projeto Serrote, localizado entre Craíbas e Arapiraca, a Mineração Vale Verde (MVV) busca avançar a atuação no Agreste e agora dá início ao processo para a implantação do projeto Caboclo, em uma área de 170 hectares na zona rural de Igaci. Com o objetivo de obter a licença ambiental prévia, a mineradora promoveu no último dia 08, audiência pública com o objetivo de apresentar o projeto para gestores do município e moradores dos povoados Dionísio e Caboclo, na região em que a empresa pretende explorar.
Devido as restrições recorrentes da pandemia, o evento contou com a participação presencial de um número reduzido de pessoas e contou com transmissão online. A MVV chegou a montar um telão na sede da associação dos moradores do povoado Dionísio, e a disponibilizar uma lista de presença digital. Apesar de o evento contar com a participação de representantes do Instituto do Meio Ambiente (IMA) e dos poderes Executivo e Legislativo do município, a audiência não contou com ampla divulgação prévia. Moradores de outras comunidades rurais de Igaci - que apesar de não estarem na área que a mineradora pretende explorar - ficam localizadas nas proximidades, relataram não terem ficado sabendo da reunião.
Por conta da pandemia, participação presencial em audiência foi reduzida
“Esse tipo de discussão a gente tem que saber e tem que participar. Por mais que a área não seja tão perto daqui, se corre o risco de alguma coisa da nossa vida mudar, a gente precisa saber. Antes de serem minhas, essas terras foram do meu pai, e antes dele, do meu avô. Não quero deixar o meu lugar”, declarou José Carlos da Silva, morador do sítio Caraibinhas, que afirmou que só ficou sabendo da audiência depois que ela aconteceu.
Apesar de o link para conferir a assinatura das pessoas que participaram ou na audiência estar disponível na descrição do vídeo no YouTube, a lista não está disponível e, portanto, não tem como saber quantas pessoas assistiram a transmissão ao vivo.
O projeto Caboclo, como a MVV nomeou a operação no município de Igaci, está em fase de estudos geológicos para a identificação sobre a presença de cobre na região. Conforme a assessoria da Vale Verde, caso seja constatada a viabilidade da mineração no local, as atividades da empresa no Agreste alagoano podem se estender por mais cinco anos além do 20 previsto no projeto Serrote.
“O método será se lavra a céu aberto, utilizando as usuais quatro principais atividades em uma mineração: perfuração, desmonte, carregamento e transporte. O processo industrial do projeto Caboclo será a seco. Ou seja, o processo de flotação e filtragem ocorrerá em nossa planta já montada em Craíbas”, expôs o gerente de operação da MVV, Tony Lima.
Durante audiência, técnico mostrou aspectos da área a ser explorada pela MVV em Igaci
Em outras palavras, as rochas extraídas em Igaci serão transportadas e submetidas aos processos para extração do cobre na unidade de Craíbas. Com isso, a barragem de rejeitos - que vai receber todos os resíduos sólidos e líquidos resultantes dos processos - construída para suportar 15 anos de mineração em Craíbas, terá vida útil reduzida, ao passo que as atividades de mineração serão ampliadas.
Especialistas em meio ambiente, como o professor da Ufal Raimundo Nonato, mestre em Ciências do Solo, e o presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do São Francisco, Anivaldo Miranda, recentemente expressaram preocupação com a atividade de extração de minério no município de Craíbas, que está prevista para começar daqui alguns meses.
Um dos principais pontos destacados por ambos foi justamente a barragem de rejeitos. Além de mencionar acidentes como o de Brumadinho, quando o rompimento da barragem provocou a morte de mais de 250 pessoas e foi considerada um dos maiores desastres ambientais do país, Anivaldo Miranda alertou para o fato de a região conter riachos que são afluentes do rio São Francisco. No caso de vazamento da barragem, a água que abastece Agreste e Baixo São Francisco em Alagoas, além de parte de Sergipe, pode ser contaminada.
Já o professor Raimundo Nonato afirmou que, além do risco de acidente com a barragem, os elementos químicos utilizados para extrair o minério da rocha, se não forem bem controlados, podem emitir gases tóxicos e poluir o ar, colocando em risco a vida animal e até mesmo humana na região. Ele confirmou que a atividade de mineração deixa o solo estéril e ele só volta a ficar fértil para agricultura, após décadas de muito trabalho de recuperação.
O professor comentou ainda que os agricultores que possuem terras nas proximidades da barragem de rejeitos têm razão em ficar preocupados, uma vez que em outras áreas onde esse tipo de empreendimento é instalado, geralmente ocorre a desvalorização do valor venal das terras. E declarou que em, algum tempo, o impacto ao meio ambiente vai sobrepor aos benefícios econômicos da instalação da planta industrial no município.
Sobre os alertas feitos pelos especialistas, a MVV já se posicionou atestando a segurança da barragem rejeitos e dizendo que a fiscalização irá acontecer 24h/7 dias por semana. A empresa não divulgou o nome do elemento que será utilizado, mas disse que a análise feita por laboratório classificou o resíduo da mineração de cobre como não-perigoso e inerte.