Israel volta a bombardear Gaza após EUA pedirem 'desescalada'
Apesar do pedido dos EUA, que é o principal aliado de Israel, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu disse que estava 'determinado' a continuar ofensiva
Israel voltou a promover uma onda de ataques aéreos na Faixa de Gaza nesta quinta-feira (20), matando pelo menos um palestino e ferindo vários outros. Na quarta-feira (19), um ataque aéreo matou um deficiente físico, sua esposa grávida e a filha de 3 anos.
Os ataques ocorrem após o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, pedir uma "significativa desescalada para encaminhar um cessar-fogo" com o Hamas, que controla Gaza.
Apesar do pedido dos EUA, que é o principal aliado de Israel, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu disse que está "determinado" a continuar ofensiva "até que seu objetivo seja alcançado".
Foi a primeira divergência pública entre os dois aliados desde o início dos confrontos, o que complica os esforços internacionais para chegar a um cessar-fogo.
Explosões sacudiram a Cidade de Gaza, a maior da Faixa de Gaza, logo no começo da manhã. Israel fez pesados ataques aéreos pesados em uma rua comercial da cidade, e chamas laranja iluminaram o céu.
Há relatos de ataques aéreos também nas cidades de Deir al-Balah e Khan Younis. À medida que o sol nascia, moradores de Khan Younis examinavam os escombros de pelo menos cinco casas destruídas.
Os militares israelenses dizem ter atingido ao menos quatro casas de comandantes do Hamas, visando "infraestrutura militar", e também uma unidade de armazenamento de armas na casa de um combatente do Hamas na Cidade de Gaza.
Um dos ataques destruiu a casa de dois andares da família Khawaldi em Khan Younis. Os 11 moradores, que estavam dormindo em uma área separada por medo, ficaram feridos e foram levados ao hospital, segundo Shaker al-Khozondar, um vizinho.
Estilhaços atingiram a casa de sua família, que fica ao lado, matando sua tia Hoda al-Khozondar e ferindo sua filha e dois primos. O porta-voz de um hospital próximo confirmou uma morte e disse que pelo menos 10 pessoas ficaram feridas em ataques durante a noite.
Morte de deficiente e família
Na quarta-feira (19), um ataque israelense matou Eyad Saleha, um deficiente físico palestino de 33 anos, sua mulher, que também tinha 33 e estava grávida, e a filha do casal, de 3. Um míssil caiu sobre a casa da família.
A sala da casa ficou destruída, e havia pedaços de uma bicicleta infantil entre os escombros. Dentro da geladeira derrubada, uma poeira cinza cobria um prato de tomates frescos.
"O que meu irmão fez? Estava apenas sentado em sua cadeira de rodas", lamentou Omar Saleha, de 31 anos, que estava na casa de vizinhos durante o ataque na cidade de Deir al-Balah.
Os ataques aéreos de Israel já mataram 227 pessoas desde o dia 10 na Faixa de Gaza, segundo o Ministério da Saúde local. Foguetes lançados por palestinos mataram 12 pessoas em Israel no mesmo período, segundo a polícia israelense.
Entre as 227 vítimas em Gaza, 64 eram crianças e 38, mulheres. Mais de 50 mil palestinos fugiram de suas casas (veja no vídeo abaixo). Entre as vítimas estão um menino de 5 anos e uma adolescente de 16.
Quase 450 prédios foram destruídos ou ficaram seriamente danificados em Gaza, incluindo seis hospitais e nove centros de saúde de cuidados primários, segundo a agência humanitária da ONU.
O Exército israelense diz que busca evitar "danos colaterais" em seus ataques e que eles são voltados a alvos militares, comandantes do Hamas e sua rede de túneis.
Também afirma que foguetes lançados pelos próprios palestinos caíram dentro da Faixa de Gaza e podem ter sido responsáveis pela morte de alguns civis, embora não haja indícios de que um foguete tenha causado a morte da família de Saleha.
'Quantos mais?'
Omar contou que Eyad estava desempregado e dividia a casa com a mãe e três irmãos. Como muitos na Faixa de Gaza, ele dependia da ajuda da ONU para os refugiados palestinos.
O ataque israelense destruiu os três andares do imóvel em que vivia a família palestina. Sua mãe, Umm Eyad, de 58 anos, tinha ido passar dois dias na casa de seu irmão, porque ali se sentia mais segura, e sobreviveu.
"Matar inocentes em suas casas, inclusive fetos no ventre materno, é um crime", afirmou o vice-ministro da Saúde de Gaza, Yusef Abu al-Rish. "Quantas pessoas mais têm que morrer para que o mundo se conscientize?".