[Vídeo] Família de Arapiraca vive unida também pelo amor ao Rock ‘n’ Roll
Pais e filhos curtem o estilo musical que se tornou conhecido há mais de 60 anos
Você já deve ter ouvido falar na expressão “berço do rock”. Digamos que ela combina bem com a história de uma família de Arapiraca formada na Rua Manoel Nunes, Bairro Capiatã, pertinho do Centro da cidade.
Família formada em ambiente musical e roqueiro. Foto:Giovanni luz-7Segundos
DNA roqueiro
Casados há mais de três décadas, o artista plástico, economista, servidor público federal, Cícero Brito, 66 anos, e a professora de biologia e também servidora pública, Jacinta Pinheiro, 67 anos, transmitiram naturalmente para os filhos Breno Airan, 31 anos, e Victor Hugo, 28, o gosto de ambos pelo rock ‘n’ roll.
Jacinta conta que já gostava de rock, mas de um rock mais leve, bem mais ao estilo Beatles e Rolling Stones, enquanto Cícero curtia algo mais pesado. “Foi na convivência com Cícero que aprendi a gostar também de rock pesado”, conta.
Cícero Brito mostra cd raro do Deep Purple. Foto: Giovanni Luiz-7Segundos
Influências
Cícero começou a escutar rock em 1972 e tudo teve início com a música “Pictures of Home”, da banda britânica Deep Purple, apresentada a Cícero pelo amigo e arquiteto Nô Oliveira. A partir daí, Cícero não quis saber de outra coisa. O som do rock pesado havia lhe conquistado de vez.
Atitude
Apaixonado pela batida pulsante do heavy metal, Cícero Brito assumiu o estilo roqueiro setentista com influência hippie. Deixou o cabelo crescer e passou a usar calça boca de sino e bolsa tiracolo. “Às vezes eu e meus amigos passávamos pelas ruas do centro da cidade e as pessoas criticavam, falavam para provocar, faziam até piada, mas eu nem ligava”, conta Cícero, que ressalta a atitude transgressora dele e de alguns amigos numa Arapiraca da década de 1970, onde não era costume as pessoas se vestirem assim. “De certa forma, eu e alguns amigos meus quebramos alguns tabus comportamentais aqui na cidade, era uma atitude que ia de encontro ao que a sociedade aceitava e considerava normal para a época”, explica Cícero.
Cícero mostra relógio com símbolo da banda Iron Maiden Foto: Giovanni Luiz-7Segundos
Preferências
Cícero Brito curte várias bandas de heavy metal e hard rock, mas ele confessa ter uma queda maior por Deep Purple e Iron Maiden, a sua preferida. Em 1973 Cícero também foi apresentado por um outro amigo à banda Pink Floyd, que foge completamente ao gênero metal, mas também conquistou a preferência do jovem Cícero Brito com seu estilo mais voltado para o rock progressivo e ópera rock.
Victor e Breno brincam ao violão ao lado do pai. Foto: Giovanni Luiz-7Segundos
Rock in Rio
Apesar da paixão de Cícero Brito pelo heavy metal, em 1985, foi a companheira Jacinta, que na época era sua namorada, quem assistiu ao vivo a apresentação de várias das bandas preferidas dela e de Cícero no primeiro Rock in Rio, como por exemplo, Iron Maiden, Scorpions, AC/DC, Whitesnake, além do lendário Ozzy Orbourne.
“Fomos eu e uma amiga para o festival, de lá eu ligava para o Cícero de um orelhão para ele ouvir um pouco do que estava rolando, a banda que estava tocando, e eu dizia, está ouvindo? Estamos no Rock in Rio”.
Jacinta, esposa de Cícero, exibe ingresso do Rock in Rio I. Foto: Giovanni Luiz-7Segundos
Cícero nunca foi a nenhuma das edições do Rock in Rio e nem de outros grandes festivais realizados no sudeste ou sul do país pelo simples receio de voar, como diria a letra do poeta Belchior: “foi por medo de avião que eu segurei pela primeira vez a sua mão”. Porém, aquele toque Beatles que Belchior descreve na música Medo de Avião nunca chamou muito a atenção do metaleiro Cícero Brito porque o que ele gosta mesmo é de peso.
Cícero e seu acervo de cds e dvds de heavy metal. Foto: Giovanni Luiz-7Segundos
Em compensação, quando algumas bandas que curte vem tocar em alguma cidade do nordeste, Cícero Brito não perde a oportunidade de ir assistir, conta Breno, o filho mais velho. “Meu pai e eu fomos ao show do Iron Maiden, em Recife, uma das bandas que mais gostamos. Ele realizou o sonho da vida dele, creio, e em 2017, fomos, a família toda, inclusive, ao show do Roger Waters, ex-Pink Floyd, em Salvador. Alugamos uma van e tudo. Outra experiência musical sem precedentes”, conta Breno.
Relíquias
Cícero Brito tem uma coleção de 1.300 cds, a maioria de heavy metal, que ele mantém em um dos cômodos da casa batizado de “sala de som”, onde ficam os discos, o aparelho de cd, alguns quadros e souvenirs de bandas e artistas que curte. É o cantinho do rock da residência de Cícero Brito, que faz questão de dizer que passou a ouvir também outros estilos, como MPB, por exemplo, e isso ele deve ao contato com o amigo Paulo, dono do extinto e lendário Bar do Paulo, conhecido reduto da boa música em Arapiraca durante as décadas de 1980 e 1990.
Cícero Brito e sua coleção de cds. Foto: Giovanni Luiz-7Segundos
Vamos bater lata
Cícero Brito nunca aprendeu a tocar nenhum instrumento, mas, se fosse aprender, gostaria de tocar bateria, confessa, mesmo instrumento que o filho Breno chegou a ensaiar os primeiros passos ainda criança batendo em latas velhas pelos cômodos da casa ao tentar acompanhar o compasso da batida dos bateristas nas gravações dos discos de rock que ouvia. “Eu comecei a escutar Rock ainda no bucho de minha mãe” diz Breno às gargalhadas.
Breno com um baixo de brinquedo e o pai, Cícero, curtindo som. Foto: acervo/família
Falando em bater lata, Breno conta que o seu avô, pai de Cícero, Sr. Durval de Brito Chicote, chamava o rock que Cícero ouvia de “bate-lata”. “Ele era envolvido com vaquejada e não entendia muito bem aquela composição musical com guitarras distorcidas e gente gritando”, detalha Breno, que ressalta que “foi esse mesmo "bate-lata" que tanto nos conectou e conecta, enquanto família, até hoje.
Cicero,Breno e Victor em festival de rock de Arapiraca. Foto: acervo/família
Cícero Brito lembra ainda que apesar do pai dele não gostar e nem compreender muito bem o som pulsante do rock, ele não reprimia o gosto dele, Cícero, por esse gênero musical. “Ele brincava com o som do rock e nunca me proibiu de ouvir os discos”, conta.
No sangue
Os irmãos Breno Airan, 31 anos, jornalista, e Victor Hugo, 28, designer e ilustrador, filhos de Cícero e Jacinta, levaram a relação com o rock um pouco mais além. Ambos aprenderam a tocar instrumentos e montaram bandas que constroem aos poucos suas carreiras autorais em Arapiraca. “Meu irmão e eu, aprendemos a tocar violão e, posteriormente, contrabaixo. Tenho uma banda chamada Casa da Mata, formada no final de 2014 já com cd gravado, e meu irmão, Victor Hugo, tocou na banda Capona e hoje toca na Manolation. Nosso pai sempre foi um grande incentivador nesse sentido, indo levar a gente aos ensaios e, por conseguinte, aos eventuais shows de nossos grupos autorais que não são de heavy metal, mas seguem outras influências do rock”, explica Breno.
Breno em show dos Incríveis em Arapiraca. Foto: acervo/família
O que é rock
A família Brito segue em harmonia no compasso pulsante do rock ‘n’ roll, que Breno compara um pouco à pulsação da vida, do coração, com intervalos intercalados entre batida e silêncio, assim como no compasso da música. “Para mim, o rock não se limita somente ao som, a música, é algo que vai além disso, é vida, algo que nos identifica como seres humanos, uma base sólida que sustenta toda uma linguagem estética e corporal que se manifesta de várias formas, nos une e ao mesmo tempo nos separa porque expressa uma identidade”, conclui.
Dia do rock (origem)
O Dia do Rock foi criado no Brasil a partir da década de 1990 e teve como referência, um evento realizado em 1985 a partir da atitude humanista do músico irlandês Bob Geldof, vocalista da banda irlandesa de punk rock e new wave, The Boomtown Rats.
Preocupado com a fome e a miséria enfrentadas pela população da Etiópia, país africano atingido à época por uma grave crise política, social e econômica, com a atuação de vários grupos armados disputando o poder, Bob decidiu reunir grandes nomes do rock e da música pop mundial num show beneficente para ajudar os habitantes do país africano que nada tinham a ver com essa briga pelo poder.
O mega show em benefício das vítimas da fome na Etiópia foi realizado no dia 13 de julho de 1985 e batizado com o nome de Live Aid (Ajuda à Vida). Participaram do evento nomes como The Who, Led Zeppelin, Dire Straits, Madonna, Queen, David Bowie, Mick Jagger, Sting, Scospions, U2,Paul MacCartney, Phil Collins,, Eric Clapton, Black Sabbath, dentre outros.
Os shows foram realizados simultaneamente em Londres, na Inglaterra, e Filadélfia, nos Estados Unidos, com transmissão ao vivo pela rede de televisão BBC para diversos países, abrindo os olhos do mundo para a miséria que chocava o mundo lá no continente africano.