Investigação conclui que crianças desaparecidas de Belford Roxo foram executadas e uma delas chegou a ser torturada
Até agora foram cumpridos 33 mandados de prisão, sendo que deste total 16 pessoas já estavam atrás das grades
A Polícia Civil deflagrou na manhã desta quinta-feira uma operação na Comunidade do Castelar, em Belford Roxo, para cumprir 56 mandados de prisão contra envolvidos nas mortes dos meninos Lucas Matheus (9 anos), Alexandre da Silva (11) e Fernando Henrique (12). Eles desapareceram em dezembro do ano passado, após saírem de casa para brincar em um campo de futebol de Areia Branca, também em Belford Roxo. A polícia espera finalizar o inquérito.
Até agora foram cumpridos 33 mandados de prisão, sendo que deste total 16 pessoas já estavam atrás das grades. Entre os que estão sendo procurados por conta das mortes dos garotos está Edgar Alves de Andrade, o Doca. Um dos integrantes da cúpula de uma facção criminosa, ele teria autorizado os assassinatos. Cinco dos homens que tiveram os mandados de prisão expedidos teriam ligação com a morte dos meninos. Os crimes teriam sido motivados pelo furto de passarinhos que pertenceriam a um traficante.
Vistos com vida pela última vez no dia 27 de dezembro de 2020 , ao voltar de uma feira, em Belford Roxo, na Baixada Fluminense, as crianças foram submetidas por traficantes do Complexo do Castelar a uma sessão de tortura por terem se envolvido no furto de uma gaiola de passarinho, que pertenceria a um parente de um dos bandidos da região. De acordo com um relatório da investigação que apura o caso, feito pela Delegacia de Homicídios da Baixada Fluminense (DHBF), um dos meninos não resistiu e morreu durante a sessão de espancamento. Em seguida, os outros dois acabaram sendo executados. Os corpos foram transportados em um automóvel para um rio que corta o município.
Oficialmente, três suspeito já teriam sido assassinados por traficantes que não gostaram da repercussão do caso, e dois estariam desaparecidos, podendo também ter sido executados. Entre as mortes confirmadas estão José Carlos dos Prazeres Silva, o Piranha, um dos chefes do tráfico do Castelar, Willer Castro da Silva, o Stala, gerente do tráfico da comunidade, e Ana Paula da Rosa Costa, a tia Paula, também suspeita de envolvimento no comércio de drogas no local.
A Civil afirma que finalizará o inquérito, em andamento na Delegacia de Homicídios da Baixada Fluminense (DHBF), nesta quinta-feira. Ao menos 250 policiais de diversas especializadas estão na operação.
Relembre do caso
Lucas Matheus, de 9 anos, Fernando Henrique, de 12, e Alexandre Silva, de 11, desapareceram no dia 27 de dezembro, no Bairro Areia Branca, em Belford Roxo. O caso foi denunciado ao Comitê contra o Desaparecimento Forçado da Organização das Noções Unidas (ONU).
Em câmeras de seguranças de ruas próximas de onde os meninos moravam, no Morro do Castelar, foi possível identificar os três caminhando em direção à feira do bairro. No depoimento das testemunhas para a Polícia Civil, pelo menos duas confirmaram a passagem dos garotos pelo local.
A Polícia Civil afirmou, em setembro, que trabalhava com a hipótese de que os meninos tivessem sido mortos por traficantes do complexo onde moravam.
Cronologia da mortes
1 - Segundo a polícia, pouco depois das 13h, as crianças teriam ido para feira de Areia Branca levando duas gaiolas de pássaros. Uma delas seria a que foi furtada do tido do traficante Wiler de Castro Silva, o Stala.
2 - Não se sabe se venderam as gaiolas antes, mas os garotos chegam na feira sem os pássaros
3 - Ao retornar para comunidade do Complexo do Castelar, já mais para o fim da tarde, são capturados por traficantes.
4 - As crianças são torturadas, e durante a sessão de espancamento uma delas não resiste e morre. Por conta disto, as outras duas crianças também acabam sendo mortas, executadas.
5 - Gerente de cargas do Castelar e com grande influência no tráfico local, por ter relação de intimidade com o traficante José Carlos dos Prazeres Silva, o Piranha, Ana Paula da Rosa Costa, a tia Paula, chama um homem para retirar os corpos da comunidade.
6 - O homem transporta os corpos do três garotos em um carro e os joga em um rio que corta o município.