Pais de aluno com Síndrome de Down lutam para manter filho assistido por educador especializado em escola
Criança passou a apresentar um quadro de regressão em seu desenvolvimento cognitivo após troca de professora, afirma o casal
O casal Manoel Messias e Maria Lucimar, residente na cidade de Campo Grande, localizada no Agreste de Alagoas, vive um drama. Um dos três filhos de Manoel e Maria tem Síndrome de Down. A criança, que atualmente está com 8 anos de idade, passou a frequentar a sala de aula a partir dos 3 anos e até pouco tempo, estudava na Escola de Ensino Infantil e Fundamental Semente, que integra a rede pública municipal de ensino de Campo Grande.
Manoel e Maria afirmam que até o ano de 2020, período de início da pandemia, a criança frequentava as aulas de maneira regular e fazia parte de uma turma formada por crianças especiais, turma essa que era assistida por uma profissional da educação especializada no trato com crianças especiais. Segundo o casal, o menino teve grandes progressos enquanto permaneceu assistido por essa professora.
"Ele passou quase um ano sendo acompanhado por esta professora. Mesmo na pandemia, ela passava as atividades para ele fazer, e eu, como mãe, ajudava em casa, ela me orientava, se preocupava com a evolução do nosso filho, e ele realmente evoluiu bastante", disse Maria Lucimar.
Regressão no aprendizado
Acontece que a partir de 2021, após uma nova gestão assumir a prefeitura do município de Campo Grande, essa professora que o casal considerava muito dedicada e vocacionada ao ofício de ensinar crianças especiais, acabou sendo afastada do quadro de profissionais da área da educação do município de Campo Grande, segundo o casal.
Ainda de acordo com Manoel e Maria Lucimar, a partir de 2021 o filho deles começou a apresentar uma regressão em relação ao seu desenvolvimento cognitivo e motor após a saída da antiga professora.
O casal afirma que a nova professora que assumiu a turma de crianças especiais, substituindo a anterior, não atendia às necessidades que o filho deles apresentava, como também a de outras crianças da turma.
"Quando eu chegava na sala via meu filho com o celular da professora na mão, via outras crianças dormindo no tapete, no fundo da sala", relatou o pai.
A situação também atingia outras crianças, afirma o casal.
"Outras cinco mães tiraram os filhos dessa turma porque também perceberam que a nova profissional que foi colocada lá, ao que parece, não estava preparada para lhe dar com alunos especiais, e no nosso caso, o nosso filho deixou de apresentar a evolução que ele estava alcançando antes", contou Maria.
Avaliação
Outra situação que desanimou o casal é que no final de 2022, uma neuropediatra que atende à Associação Pestalozzi de Arapiraca, onde o filho de Manoel e Maria também recebe assistência, pediu à nova professora um relatório sobre o desempenho intelectual e o comportamento da criança na escola, mas o relatório apresentado pela nova professora não condizia com o que a criança já havia aprendido, afirmam os pais do menino.
Eles explicaram que na Pestalozzi, os profissionais sempre avaliavam a função motora dele, o aprendizado, então eles perceberam que algo estava errado, e quando a médica viu o relatório que a professora mandou, tiveram uma surpresa.
Segundo o casal, a professora teria informado no relatório solicitado pela neuropediatra que a criança não conseguia sequer segurar o lápis, o que acabou gerando uma revolta nos pais, isso porque, segundo eles, a criança consegue sim desenvolver a escrita e também fazer alguns desenhos com o lápis, como mostram alguns vídeos remetidos à redação do 7Segundos pelos pais do menino.
"A gente até tem um vídeo com o nosso filho segurando o lápis e escrevendo, ele desenhando, cobrindo as letras, o que demonstra que ele tem sim coordenação motora e que estava evoluindo até então", disse Manoel, pai da criança.
Imagem congelada de um vídeo com a criança fazendo tarefas escolares. Foto: reprodução
Insatisfeitos com a relação que consideram ter sido de pouca empatia entre a nova educadora e o filho do casal, eles decidiram então tirar a criança da turma de alunos especiais e colocá-la na turma de ensino regular, na mesma escola, mas o efeito, segundo os pais, não foi o esperado.
De acordo com os pais do menino, a professora da turma regular resistiu em receber o aluno por não querer assumir a responsabilidade de cuidar das atividades da criança, alegando que não seria uma atribuição dela cuidar de um aluno com Síndrome de Down porque não é a sua especialidade, mesmo dispondo de uma cuidadora em sala de aula.
Diante da situação, e após algumas tentativas de levar o menino para a escola, os pais decidiram tirar a criança da unidade de ensino.
"Ele só assistiu aula por uns três dias esse ano porque a professora do ensino regular não queria ficar com ele, foi quando conseguiram uma cuidadora, mas mesmo assim não adiantou porque a professora da turma desse ano, do ensino regular, alegou que não iria ficar com a responsabilidade de cuidar das atividades da criança" explicou a mãe.
O pai do menino disse que se sentiram num beco sem saída.
"A professora da turma desse ano, do ensino regular, teria dito que ficaria com a criança com a seguinte condição: ela passaria as atividades na lousa e a cuidadora copiava no caderno da criança e iria ensinar a criança a responder as atividades, mas ao meu ver, isso não é correto, a cuidadora é para auxiliar ele a ir no banheiro, a se alimentar, mas para ensinar as atividades, não é função da cuidadora", desabafou o pai do menino.
O casal apela para a sensibilidade dos gestores públicos de Campo Grande para resolver a situação.
"Vamos procurar os nossos direitos porque ele, como uma criança especial, tem o direito de ter uma profissional preparada e com vocação para estar ao lado dele, como acontecia com a primeira professora e nós queremos ver o nosso filho sendo tratado com respeito e dignidade", desabafou Manoel, pai do menino.
Procurados
No dia em que a equipe de reportagem do Portal7Segundos esteve em Campo Grande para fazer a reportagem, o expediente na Secretaria Municipal de Educação já havia sido encerrado. Da redação, em Arapiraca, a reportagem tentou fazer contato com os gestores da pasta, mas só conseguiu manter algum tipo de contato através de uma pessoa ligada à gestão pública do município que preferiu não ser identificada. Essa pessoa informou que a secretaria iria entrar em contato com os pais da criança para tentar resolver a situação e tomar as providências necessárias, e que município, em nenhum momento, deixou de acolher e prestar assistência ao aluno, oferecendo escola e professores.
Secretaria de Educação de Campo Grande. Foto: Giovanni Luiz-7Segundos
A redação do 7Segundos ainda permanece à disposição para ouvir os gestores do município de Campo Grande sobre o caso.