Música além do som promove inclusão de pessoas surdas no Festival de Música Penedo
Oficina Musilibras ofereceu atividade musical para surdos com auxílio do metrônomo visual
Promover uma atividade musical para pessoas surdas pode parecer estranho, mas é exatamente essa possibilidade proposta pela oficina Musilibras - Música além do som, realizada no Festival de Música de Penedo e ministrada pelo professor e músico Irton Mário da Silva. Ele criou um equipamento chamado metrônomo visual e isso fez toda diferença para os participantes das aulas.
O metrônomo visual tem luzes coloridas e, por meio de uma combinação de lâmpadas de cores e tamanhos variados, possibilita às pessoas surdas tocarem diversos instrumentos de percussão. Aluz azul, por exemplo, quando acesa, sinaliza a emissão de um som forte, a luz verde um som mais suave e a luz vermelha uma pausa ou silêncio. Tudo associado a outras informações visuais.
Irton Mário também criou um alfabeto musical em forma de sinais visuais chamado Musilibras para identificar as figuras de cada tempo musical, ou seja, a duração de um acorde ou nota em uma composição.
O público da oficina, constituído de surdos e intérpretes daLíngua Brasileira de Sinais (Libras), conheceu e fez uso de ambas as ferramentas musicais inclusivas criadas pelo professor. No caso do metrônomo visual, foi possível perceber como a dinâmica de lâmpadas coloridas acendendo e apagando pode caracterizar a intensidade do som. Com o conhecimento do alfabeto Musilibras foi possível identificar as diversas figuras do tempo musical, como a pausa de semibreve e a pausa de colcheia, por exemplo.
A música é universal e todos podemos experienciá-la, ainda que de formas diferentes. Embora não possam ouvir, os surdos sentem a música pela vibração do som e do próprio corpo. ”Música é pra todos. Faz bem pra todo mundo”, enfatizouo professor.
Ele conta que em sua infância, em Recife, teve um amigo e vizinho surdo cuja mãe não o deixava participar das brincadeiras que envolviam música devido à surdez do menino. E isso sempre o inquietou, a ponto de crescer querendo investigar uma possível relação da comunidade surda com a música. Para ossurdos, os estímulos visuais associados às vibrações sonoras, além da importante presença dos intérpretes de Libras, possibilitam a eles fazer música em sua cultura surda, desfrutando de vários componentes musicais como ritmo, forma, melodia, harmonia, entre outros.
Para Irton, é fundamental compartilharmos experiências livres de qualquer estereótipo ou barreira social. “Música não é apenas algo para ouvir, mas principalmente para sentir, portanto devemos compreender os surdos como seres humanos capazes de sentir música e expressá-la à sua própria maneira”, disse.
Os participantes da oficina vivenciaram a experiência de juntos tocarem vários instrumentos a partir dos estímulos visuais propostos pelo professor. No sábado (21), último dia do Festival, a turma da oficina apresentou o resultado no palco do Teatro Sete de Setembro.