Saúde

Técnica de enfermagem de Arapiraca doa medula e ajuda a salvar vida de paciente de leucemia em São Paulo

Maria Aparecida entrou para cadastro de doadores após caso de câncer na família

Por Patrícia Bastos/ 7Segundos 03/10/2024 12h12
Técnica de enfermagem de Arapiraca doa medula e ajuda a salvar vida de paciente de leucemia em São Paulo
Maria Aparecida fez doação de medula e salvou vida de paciente com leucemia - Foto: Arquivo pessoal

A técnica de enfermagem arapiraquense Maria Aparecida da Silva, 57, deixou de lado a expectativa pela chegada de Maitê - sua neta que pode nascer a qualquer momento - e foi para São Paulo salvar a vida de uma pessoa que ela sequer conhece. Ela fez uma doação de medula óssea que foi transplantada nesta quarta (02) para um paciente com leucemia.

"É uma sensação tão boa que não tem como explicar. A gente se emociona mesmo. É como se eu tivesse dando a vida a um filho que eu nem sei quem é. Não sei se homem, mulher, ou a idade que tem. Tudo que eu desejo nesse momento, é que essa pessoa tenha uma pega [da medula] boa e que tenha saúde para viver por muitos anos", relata.

Maria Aparecida, ou Cida da Vacina, como também é conhecida, é funcionária da prefeitura de Arapiraca, trabalha no Programa Nacional de Imunizações (PNI) e atualmente é responsável pela aplicação das primeiras vacinas em recém-nascidos no Hospital Regional. Está cadastrada no Registro Nacional de Doadores de Medula Óssea (Redome) há aproximadamente seis anos, na época em que um parente enfrentou um câncer e buscou um doador de medula óssea compatível.

Ela conta que, na época, toda a família se mobilizou e se cadastrou no Redome, mas nenhum deles foi compatível com o parente, que acabou se recuperando com outro tipo de tratamento.

"Eu nem lembrava mais do cadastro quando, em maio, passei a receber várias ligações no celular de um número do Rio de Janeiro. Não atendi, achando que poderia ser algum tipo de trote, mas foram várias ligações do mesmo número por vários dias. Até que recebi uma mensagem de WhatsApp do mesmo número, informando que era do Redome e que havia a possibilidade de a minha medula ser compatível com a de um paciente com leucemia. Ainda fiquei um pouco desconfiada, fui pesquisar o que era primeiro e só depois de ter certeza de que não era nenhum tipo de trote ou de golpe, resolvi retornar a ligação", relatou.

A técnica de enfermagem foi informada que havia forte possibilidade de que a medula dela seria compatível com a de um paciente com leucemia cadastrado no Redome. E então a instituição perguntou pela primeira vez se ela aceitaria realizar mais exames para atestar a compatibilidade, com o objetivo de doar medula. Cida conta que durante todo o processo, por várias vezes os profissionais de saúde perguntaram se ela concordava em prosseguir com o processo. "Não existe pressão, eles explicam muito bem tudo o que vai acontecer e sempre perguntam se eu concordo e desejo prosseguir", explica.

Os resultados dos exames confirmaram a expectativa inicial e a medula de Cida era compatível com a do paciente. E então a data e o local da doação foram acertados - dia 30 de setembro, em um hospital em Fortaleza. A data trouxe algumas dúvidas para a técnica de enfermagem porque, além de estar com as duas filhas grávidas, aquele era o dia provável do nascimento de uma das netas, a Maitê. Mas a mãe da criança encorajou Cida a não desistir ou adiar a doação.

A técnica de enfermagem viajou para Fortaleza com todas as despesas pagas pela Redome, junto com a amiga Jusineide, que foi como acompanhante, e passou por todo o processo para a doação de medula, que inclui a realização de mais exames, que diagnosticaram que ela possui veias muito finas nos braços, que impediram a doação naquele momento.

"Eles perguntaram mais uma vez se eu desejava continuar e depois que eu disse que sim, disseram que iriam providenciar um outro hospital que pudesse fazer o procedimento, porque a medula precisaria ser coletada na região do quadril. A gente ainda estava no avião, voltando para Alagoas, quando entraram em contato informando que o procedimento seria feito em São Paulo", relata.

Lá, ela passou por um preparo de cinco dias, recebendo medicação para aumentar a quantidade de células-tronco na medula até fazer a coleta, em uma máquina que tem semelhanças com a utilizada em hemodiálise. 

"O processo é um pouco doloroso, mesmo com o uso de anestesia, não posso mentir, mas quando eu pensava que aquilo ali iria ajudar a vida de uma pessoa, até me emocionava. E o suporte que eles dão é incrível. Eles explicam tudo e durante todo o processo, duas enfermeiras ficavam acompanhando para se certificar de que estava tudo bem. Depois fiquei de observação no hospital e ontem voltei para o hotel. Estou descansando e amanhã volto para casa. O melhor de tudo é que parece que Maitê vai mesmo esperar eu chegar para nascer. Deus prepara tudo no tempo certo", afirmou.

Cida contou também que o transplante de medula estava programado para acontecer nesta quarta (02) e que ela espera poder conhecer a pessoa para quem ela fez a doação de medula no futuro. Ela explica que o Redome só compartilha os dados entre doador e receptor 18 meses após o procedimento, desde que ambos concordem. Até lá a identidade deles é mantida em sigilo.

"Todas as pessoas deveriam se cadastrar para serem doadoras de medula, até porque no futuro a gente não sabe se quem vai precisar será alguém da nossa família. A sensação de estar fazendo o bem, como se diz no ditado 'sem olhar a quem' é indescritível. Tem uma frase que eu ouvia muito do dr. Djaci pai, na época em que trabalhei no hospital Afra Barbosa. Ele costumava dizer que 'quem não vive para servir, não serve para viver'. E servir, nesse caso, foi uma grande alegria", diz.

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Doação de medula

A compatibilidade de medula óssea entre irmãos é de 25% e em casos como esse da Cida e da pessoa com leucemia em São Paulo é de apenas uma para cada cem mil pessoas.

Para se cadastrar como doador de medula óssea, a pessoa precisa ter entre 18 e 55 anos e procurar o hemocentro mais próximo. Lá, além de ter uma amostra de sangue coletada, é preenchido o formulário do Registro Nacional dos Doadores de Medula Óssea (Redome).

A instituição usa a amostra para realização de exame de histocompatibilidade (HLA) e registra no sistema. O médico que inscreve o paciente que precisa da medula também informa a característica genética do paciente e o sistema busca a compatibilidade no banco de dados.

Além disso, é importante também manter os dados como endereço e contato telefônicos atualizados.

Como a probabilidade de encontrar doador compatível é muito pequena, é possível que a grande maioria dos cadastrados nunca é acionada para fazer a coleta. Ao mesmo tempo que quanto mais pessoas se cadastrarem, maior a chance de um paciente com câncer encontrar doador compatível.

Para mais informações, entrar em contato com o Hemoal, que em Arapiraca fica na rua Marechal Floriano Peixoto, no bairro Eldorado, ou pelo telefone 3521-4934.