Meio ambiente

'Temos que celebrar, mas cuidar do Velho Chico é também responsabilidade de todos nós', afirma Presidente do CBHSF

Ao ser avistado pela primeira vez, em 4 de outubro de 1501, pela expedição de Américo Vespúcio, ali mesmo foi batizado com nome do padroeiro daquele dia, São Francisco

Por 7Segundos com CBHSF 04/10/2024 15h03 - Atualizado em 04/10/2024 16h04
'Temos que celebrar, mas cuidar do Velho Chico é também responsabilidade de todos nós', afirma Presidente do CBHSF
O maior rio inteiramente nacional, também conhecido como rio da integração nacional é carinhosamente chamado por cerca de seus 20 milhões de habitantes como Velho Chico e Opará - Foto: Reprodução/CBHSF

Ao comemorar hoje (04), 523 anos, o Rio São Francisco que tem 168 afluentes, abrange 505 municípios dos estados de Minas Gerais, onde nasce na Serra da Canastra, Bahia, Pernambuco, Sergipe, Alagoas, além de Goiás e Brasília. 

O rio que percorre 2.863 km, correspondendo a 8% do território nacional até desaguar no Oceano Atlântico, é o 5º maior do Brasil e ao longo de cinco séculos tem muitos problemas acumulados que ameaçam severamente a sua existência. É o que afirmam os pesquisadores quando apontam que a vazão anual do cento-norte do Rio São Francisco diminuiu mais de 60%, em média, nas últimas três décadas. 

A pesquisa foi publicada pelo Laboratório de Análise e Processamento de Imagens de Satélites (Lapis), no periódico internacional Water. O estudo ainda identificou a perda de 15% de cobertura vegetal na bacia hidrográfica no período de 2012 a 2020, quando ocorreu uma das secas mais longas registrada na história.

O presidente interino do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco, Marcus Vinícius Polignano, destaca que hoje, embora, se deva celebrar o Rio, também é preciso um olhar atencioso e de constante preocupação. 

“A gente tem que celebrar a existência de um rio formado pela natureza, um dos mais extensos do país, um rio que caberia em muitos países da Europa e que foi fundamental para a ocupação do território brasileiro. Um rio que é um verdadeiro compêndio da história do Brasil e importante para a formação do povo brasileiro, onde ainda temos povos originários, quilombolas, ribeirinhos, uma diversidade de formações de povos extremamente rica, além do seu potencial com diversos biomas como a Mata Atlântica, Caatinga e Cerrado, áreas que mostram essa diversidade ambiental da bacia. Mas vale destacar que na formação do país ele foi também muito sugado. Hoje, grande parte das usinas estão na bacia do São Francisco que geram energia para o Sudeste. O Rio São Francisco é fundamental para processos de irrigação e mais recentemente tivemos a transposição levando água para a região norte e nordeste. Motivos para cuidar do rio não faltam, e a lógica ao longo desse tempo foi a do aproveitamento máximo do rio, tirar dele tudo que era possível e por outro outro lado, cada vez menos processos de mantê-lo vivo aconteceram, e agora, ao invés do rio chegar ao mar, na foz temos o mar invadindo o rio, ou seja, estamos perdendo rio e ganhando mar e isso não é uma boa lógica”, afirmou.

Polignano: “o momento, então, é de agir para que as gerações futuras usufruam desse rio; um direito transgeracional”. Foto: reprodução/CBHSF

Estando na maior parte da região do Semiárido, este ano já foi identificada uma região de mais de 6km de área árida, localizada entre o norte da Bahia e a divisa com Pernambuco, entre os municípios de Juazeiro e Petrolina. A pressão gerada pelo aumento exponencial da população que vive na bacia hidrográfica, construção de hidrelétricas e pela transposição tem sido ainda maior com os impactos das mudanças climáticas. 

“Ao longo dos seus 500 anos se utilizou muito e cuidou-se pouco, o que tentamos, enquanto Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco, nessa tarefa árdua e nesse momento de crise climática. Vale destacar que a crise em si não é do clima, mas da civilização que propôs esses problemas através do modelo desproporcional à capacidade do próprio ambiente se recompor. Em uma analogia, é como se tivéssemos entrado no cheque especial há muito tempo e estamos renovando sabendo que não tem como pagar e em determinado momento a natureza cobra. Estamos em exaustão máxima do rio, sem um movimento sinérgico integrado, apesar das tentativas do Comitê de união em prol do rio. O momento, então, é de agir para que as gerações futuras usufruam desse rio; um direito transgeracional”, afirmou Polignano.

Cerca de 20 milhões de pessoas habitam a região do Velho Chico. Foto: reprodução;CBHSF 

Ao longo dos últimos anos, o CBHSF tem investido em projetos e programas que visam a melhoria da qualidade e quantidade da água. As obras são financiadas pelo Comitê através da Agência Peixe Vivo, com recursos oriundos da cobrança pelo uso da água bruta na bacia do São Francisco. No entanto, o presidente interino do CBHSF enfatiza que o valor não é suficiente para sanar os problemas crescentes da bacia hidrográfica. 

O São Francisco também encanta por sua beleza. Foto: reprodução/CBHSF 

“Para dar conta de uma bacia com mais de 600 km², o Comitê dispõe de um orçamento anual de apenas R$ 45 milhões. Como querer que o Comitê consiga reverter os problemas desse rio que está no ‘CTI’ com a falta de recursos necessários para oxigenar e torná-lo vivo? Agora, importante dizer também que nem tudo é dinheiro, existe o lado das políticas públicas que, se não pensadas para preservar os biomas, as áreas de recarga, isso não tem preço, mas tem custo. Precisamos de políticas públicas efetivas porque a natureza vai cobrar refletindo na sua incapacidade de responder nos momentos de crise, com menos água no rio, assoreamento, além da conta de energia com bandeira vermelha e todo mundo pagando caro”.